Agora

Cozinhas fantasma se espalham na capital durante a pandemia

Comidas de restaurant­es são preparadas em galpões compartilh­ados e incomodam a vizinhança

- WILLIAM CARDOSO

O cliente pode não saber, mas o lanche que chega em casa após um pedido pela internet muitas vezes vem de um negócio em expansão que já chama a atenção na capital paulista —e não apenas pela comida, mas, em alguns casos, por incomodar vizinhos. São as dark kitchens, ou “cozinhas fantasma”, onde não se pode comprar nada presencial­mente. Segundo o Procon, o consumidor corre o risco de levar “gato por lebre”.

Elas funcionam em galpões administra­dos por empresas e que normalment­e reúnem várias cozinhas juntas, que pagam um aluguel pelo espaço.

As dark kitchens se tornaram atraentes no delivery porque conseguem ampliar a área de atuação dos restaurant­es em aplicativo­s.

Uma lanchonete badalada que só atenderia em Pinheiros (zona oeste), por exemplo, pode ter uma “cozinha fantasma” na zona leste e, com isso, diminuir o tempo para levar um hambúrguer no agora vizinho Tatuapé. Ela entra no “radar” de quem mora no bairro distante do restaurant­e físico, aquele onde o cliente paga caro e até vê a comida sendo preparada.

Em alguns casos, o dono do restaurant­e conhecido e o da dark kitchen nem são os mesmos. O responsáve­l pela “fantasma” paga até 8% do faturament­o como royalties para usar a marca do famoso. E prepara o lanche em cubículo, num galpão onde pode ser feita de comida vegana à japonesa. Na teoria, tem que cumprir requisitos de qualidade. Na prática, segundo empresário­s e funcionári­os, nem sempre isso acontece. O consumidor pode pagar caro só pela embalagem.

A reportagem foi a oito endereços que servem de dark kitchens. A prefeitura disse que três foram notificado­s para que regulariza­rem a situação —dois, nas ruas Cação, no Itaim Bibi, e Fradique Coutinho (Pinheiros), zona oeste, não tinham nem licença de funcioname­nto. Outros dois locais seriam vistoriado­s pelas subprefeit­uras da Sé (região central) e da Mooca (zona leste) nos próximos dias.

Informado sobre essa atividade, o diretor executivo do Procon-sp, Fernando Capez, disse que é “assustador”, porque o consumidor tem como referência a higiene do estabeleci­mento e da cozinha na qual imagina estar fazendo o pedido. “Claramente, uma prática abusiva”, diz.

Segundo Capez, o artigo 31 do Código de Defesa do Consumidor é suficiente para perceber o problema. “Tem que dizer: ‘esse produto está sendo elaborado fora do estabeleci­mento, nas seguintes condições’. Se não fizer isso, está, usando a linguagem popular, vendendo gato por lebre.”

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Eduardo Anizelli/folhapress Vista aérea de galpão onde funcionam as cozinhas fantasma, na Lapa; fumaça e movimento frenético dos entregador­es incomodam a vizinhança, que chegou a tentar acordo com a subprefeit­ura

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