Ondas pequenas são desafios para fabricantes de pranchas
Modelos que serão usados no Japão precisam ser mais leves e ter flutuação
As atividades de um shaper, profissional que desenvolve pranchas de surfe, carregam semelhanças com aquelas executadas pelos engenheiros e mecânicos de uma equipe de F1.
Ao menos é dessa forma que enxergam os brasileiros Adriano Teco, que há 14 anos cuida em Santos das principais ferramentas de trabalho do campeão mundial Italo Ferreira, e Marcio Zouvi, fundador e dono da Sharp Eye, empresa baseada nos Estados Unidos.
Assim como o ajuste do carro é crucial na performance de um piloto da elite do automobilismo, a fabricação da prancha precisa levar em consideração detalhes técnicos para que se adapte tanto ao estilo e às caraterísticas físicas do surfista quanto às condições das diferentes ondas que pegarão sobre ela.
Ao lado do irmão Sylvio Oliveira, o Tico, Teco comanda a Silver Surf, empresa fundada por eles em 1994. Além da marca própria, a dupla representa o renomado shaper californiano Timmy Patterson no Brasil.
É comum que Italo Ferreira receba pelo menos 14 pranchas modelo IF 15 para as etapas da WSL (World Surf League), com tamanhos variados para se adequar às diferentes condições do mar nos eventos.
Devido às ondas pequenas que são esperadas em Tsurigasaki, praia onde serão realizadas as disputas do surfe nos Jogos Olímpicos de Tóquio, Tico, Teco e Patterson criaram uma nova prancha pensada para a participação do atleta no megaevento. O surfe fará sua estreia na Olimpíada a partir do dia 25 de julho.
A recomendação dos shapers é que o modelo denominado Synthetic 84 seja usado em torno de duas polegadas menor do que a prancha de costume do surfista. Ela também é mais larga e possui um sistema de construção com bloco de poliestireno expandido (EPS, ou isopor) em alta pressão, laminada com fibra importada e resina epóxi.
Se comparadas às pranchas comuns de bloco de poliuretano, as de Eps/epóxi são ligeiramente mais leves e têm maior flutuação na água por conta do bloco de EPS levar em sua composição maior quantidade de ar. “As pranchas para ondas pequenas devem ser mais largas e cheias [com a espessura central maior], para que roubem mais energia da onda e tenham desempenho melhor”, explica Teco.
O bicampeão mundial de longboard Phil Rajzman começou a usar equipamentos de epóxi em 2006. Em 2008, passou a fabricá-los, junto com a empresa Hobie, da Califórnia. “Por ter maior flutuação, essas pranchas têm resposta mais sensível em relação à onda. Se o mar estiver bem lisinho, a prancha fluirá bem, terá bastante velocidade, inclusive para fazer as manobras aéreas.”
“Mas, quando o mar está mexido, por essa prancha ter a característica de ficar toda em cima da água, o surfista sente mais as ondulações do que com as de poliuretano, que têm uma flutuação menor e que metade da prancha fica dentro da água e metade fora.” (Folha)