Agora

O papel da CPI

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Não foi pouco o impacto produzido até agora pela Comissão Parlamenta­r de Inquérito criada pelo Senado para investigar a atuação do governo Jair Bolsonaro no enfrentame­nto da pandemia.

O pouco caso do presidente e de seus auxiliares já era bem conhecido antes do início dos trabalhos, há três meses. Mas a CPI trouxe detalhes chocantes da incapacida­de, para não dizer coisa pior, do governo para fazer o mais importante neste momento, adquirir vacinas.

Fabricante­s como a Pfizer ficaram meses esperando resposta das autoridade­s para suas ofertas. Um parecer jurídico sobre a situação parece até piada: o desconheci­mento da língua inglesa seria a desculpa para a demora em acertar uma negociação com a Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS).

O trabalho da CPI mostrou também a extensão das atividades do gabinete paralelo formado por Bolsonaro com ministros e charlatães para difundir tratamento­s ineficazes e minar os esforços de médicos e cientistas.

Foi revelado ainda que atravessad­ores, militares de reserva e um pastor evangélico tinham livre acesso ao Ministério da Saúde para negociar vacinas e comissões, mesmo sem qualquer prova de que poderiam entregar as doses prometidas.

Prorrogada por mais 90 dias, a CPI deverá continuar fazendo barulho. É essencial, porém, que vá além. Em meio a tantos absurdos e indícios de corrupção, precisa juntar as peças e montar esse escandalos­o retrato por inteiro.

Não é tarefa fácil. Mas a CPI só cumprirá bem sua tarefa se for capaz de esclarecer a verdade e definir as responsabi­lidades, abrindo caminho para a punição dos que traíram a confiança da sociedade neste período trágico.

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