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Goleiro do Brasil, Santos venceu a fome e o frio para ser jogador

Paraibano da seleção na Olimpíada saiu de casa aos 14 anos e está no Athletico desde 2008

- JOSUÉ SEIXAS

MACEIÓ Eram 5h30 da manhã e Santos, ainda adolescent­e, já estava pronto para ir treinar. Tinha o dinheiro da passagem no bolso, um lanche para passar o dia e a vontade de se tornar jogador de futebol. Ele saía de Cabaceiras para Campina Grande. Mais de 130 quilômetro­s por dia. Às vezes, com fome na ida ou na volta, ignorando os roncos da barriga. O treino era às 13h, sob sol forte.

Ao deitar a cabeça para sonhar, ainda dentro do transporte, ele imaginava que se tornaria um grande jogador. Àquela altura, aos 14 anos, já tinha passado por muita coisa.

“Eu sou o mais novo de oito. Meus irmãos e eu ajudávamos o meu pai nas plantações. Eu não pegava tanto no pesado por conta da idade, mas sempre soube o quanto meus pais se esforçaram para me dar as melhores condições que poderiam. Eu queria ser jogador e fui atrás do meu sonho”, conta o goleiro.

O sonho obrigou Santos a sair de casa muito cedo. Ele foi a Caruaru, em Pernambuco, para jogar no Porto, em 2006. A trajetória se assemelhav­a à do goleiro Dida, à época na seleção brasileira, nascido na Bahia e criado em Lagoa da Canoa, no interior de Alagoas.

“Sempre me inspirei muito no Dida. Ele sempre teve um posicionam­ento muito bom dentro de campo, pegava pênaltis e era um grande goleiro. Gostava muito do Taffarel também, embora o tivesse visto menos”, disse.

Santos só ficou dois anos no Porto. Após uma boa Copa São Paulo de Juniores em 2008, ele foi visto pelo Athletico e levado a Curitiba. “Era tudo ou nada”, lembra.

Longe de Severino e Amara, os pais, Santos encarou o frio da cidade, muito diferente daquele calor das 13h nos treinos em Campina Grande. Com paciência, estreou como profission­al no Athletico em 2011 e soube aproveitar as oportunida­des até se tornar titular absoluto em 2018, com a saída de Weverton —campeão olímpico em 2016— para o Palmeiras.

“Weverton e eu convivemos muito tempo. Temos essa história com o Athletico e agora com a Olimpíada. Ele jogava aqui na época, e eu sempre observava. Foi também a época em que eu consegui me mostrar como o goleiro que merecia a vaga quando ele saísse. Ele me ajudou a crescer, e devo muita coisa a ele.

Até preciso pedir umas dicas sobre a Olimpíada. Ele é um campeão e sabe como é a competição.”

A primeira convocação de Santos para a seleção veio em 2019, para amistosos contra Senegal e Nigéria. No dia 14 de maio de 2021, ele obteve uma das maiores conquistas da carreira: o nome na lista final para a Olimpíada de Tóquio. Por telefone, o goleiro falou com a mulher Franciane e com as filhas Isabela e Manuela.

“Liguei primeiro para elas só para ver a reação, né? Eu estava treinando na hora em que saiu a lista. Já no fim do treino, fiquei sabendo e liguei. Depois, falei com os meus pais, e é bom ver o quanto eles ficam felizes. A alegria deles é uma alegria humilde, de simplicida­de e de orgulho. Acho que nem eles imaginavam que eu estaria aqui, indo para uma competição dessas”, afirma.

Aos 31 anos, o goleiro do Brasil sorri ao revisitar alguns momentos de sua história. Não só por tudo o que passou, como as brincadeir­as de infância ou os perrengues que hoje parecem distantes, mas por saber que também é exemplo.

“Acredito que as pessoas precisam ver o que somos e não de onde viemos. Quando entro em campo e estou jogando, eu penso nas crianças que me veem. Atletas em geral são exemplos e penso muito nisso em cada jogo ou quando falo sobre mim. Hoje posso proporcion­ar aos meus pais o conforto, estou em um dos maiores clubes do mundo e defendo minha seleção”, sorri. (Folha)

Faltam

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Marco Galvão - 11.jul.2021/divulgação O goleiro Santos, durante treino pela seleção brasileira; atleta saiu de casa aos 14 anos para realizar o sonho de ser jogador profission­al

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