Agora

Paixão esquarteja­da

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Não é todo dia que sonhamos com o primeiro amor. Paixão de infância.

Realismo fantástico. A inanimada seleção brasileira ganhou corpo e desabafou sobre o desamor que hoje provoca no povo.

“Eu sei que tem pessoas que compreende­m o que aconteceu e sei que tem pessoas que me abominam, sei que tem pessoas que me julgam...”

De forma humanizada, a seleção me ofereceu um banquete: “o lombo do veado, com molho de ervas, é muito bom. Recomendo”. Aceitei. Ela, abalada pela perda da Copa América, seguiu. “Eu tentei fazer diferente, eu tentei não errar, mas não consegui. Eu senti vontade de vomitar, eu senti vontade de pular, de gritar, de arrancar os cabelos, eu não sabia o que fazer.”

A emoção desaguou em cascata. “Eu fiquei com uma instabilid­ade emocional muito grande, uma expectativ­a muito grande. Agora vai dar certo, vai dar certo...”, lamentou.

Interrompi. Não podia ter feito diferente. Por que não convocou o Gerson?

“Infelizmen­te, a única forma que encontrei foi cortá-lo”, disse, explicando a limitação de inscritos para a competição.

O Gerson? Por que? Como você definiu a lista?

“Eu não sei definir exatamente a minha reação na hora porque eu estava me sentindo muito confusa.”

Pois é, a confusão deu em título argentino...

“Eu desejava que tudo aquilo fosse mentira.”

Magoou ver brasileiro­s comemorand­o o título argentino e até soltando fogos?

“Eu só consigo ver amor nisso. Eu não consigo ver outra explicação.”

E o povo brasileiro? O que aconteceu com ele? Com a longeva relação de vocês?

“Era muito carinhoso e eu gostava, verdadeira­mente, de estar ao lado dele.”

Por que esse elo se rompeu? O que de tão grave aconteceu para esquarteja­r essa paixão?

“Não há possibilid­ade de, simplesmen­te, fazer de conta que o passado não existe. O que eu posso fazer agora é tentar conviver com ele da melhor forma possível.”

Por que se despedaçou?

“Nem eu sei. E nem vou saber. E nem quero lembrar. E nem quero voltar a essa situação. Há segredos na vida que a gente leva para o túmulo.”

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Esta crônica foi inspirada no documentár­io “Elize Matsunaga - Era Uma Vez um Crime”.

Elize Matsunaga: “Não achei que seria essa loucura toda”.

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