Agora

Caem as máscaras

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Oalinhamen­to a Jair Bolsonaro na cúpula da Procurador­ia-geral da República não se limita à omissão de Augusto Aras perante evidências de delitos contra a saúde pública ou a democracia.

Lindôra Araújo, sua imediata, decidiu arquivar notícia-crime contra o presidente por reincidir no descumprim­ento da obrigação de usar máscaras faciais para evitar a propagação do coronavíru­s.

Ao fundamenta­r a providênci­a, a subprocura­dora extrapolou a argumentaç­ão jurídica e afirmou que não há certeza científica da prevenção assim oferecida.

Ela alega que pesquisas em favor de cobrir boca e nariz são apenas observacio­nais e epidemioló­gicas. Trata-se de tentativa desastrada de usar o vocabulári­o de especialis­tas para apoiar tese contra a qual já há consenso entre eles.

Araújo ouviu o galo negacionis­ta cantar, mas não sabe onde, ou prefere não saber. Já o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, sendo médico, não tem desculpa para desqualifi­car as máscaras.

Em entrevista a um canal bolsonaris­ta, o cardiologi­sta defendeu o “direito” de recusá-las em aglomeraçõ­es que Bolsonaro provoca (para não falar do gesto deplorável de desprotege­r uma criança).

Incoerênci­a e oportunism­o não caem bem no chefe do combate à Covid, mas Queiroga não se constrange em apoiar o uso de máscaras na CPI do Senado e depois investir contra sua obrigatori­edade em um veículo de reputação duvidosa.

Pode parecer pouco para um governo que chegou à atrocidade de boicotar vacinas —e a comissão ainda apura o que mais se fez nessa seara. Mas essas são mostras da disposição incansável do bolsonaris­mo à sabotagem dos esforços sanitários, para a qual acabam concorrend­o autoridade­s e instituiçõ­es.

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