Massacre impune
Em 18 de outubro de 1994, um grupo de 40 a 80 policiais civis e militares matou 13 pessoas em uma operação em Nova Brasília, uma das 15 favelas pertencentes ao Complexo do Alemão, no Rio.
Conforme se noticiou, agentes invadiram cinco casas, dispararam contra pessoas e depositaram os corpos na praça principal da região. Segundo depoimentos, também torturaram e estupraram três mulheres, duas delas adolescentes.
À época, a operação mortífera foi justificada em termos de revanchismo bárbaro. “Se nos derem flores, devolveremos flores. Se nos derem balas, devolveremos balas. É para que eles saibam que a instituição policial tem que ser respeitada”, afirmou o diretor da Divisão de Repressão a Entorpecentes, delegado Maurílio Moreira.
Passados 27 anos, a impunidade persiste. Na terça-feira (17), cinco policiais acusados da matar as 13 pessoas na operação foram absolvidos pelo Tribunal do Júri —que reconheceu o crime, mas não a autoria dos réus, com o aval do Ministério Público do Rio de Janeiro.
“É tempo de lembrar 13 mortos deitados em solo, em praça pública, amontoados como resto, como que avisos claros de demonstração de força”, disse a magistrada Simone de Faria Ferraz, antes de ler a sentença.
Nova Brasília não é um caso isolado. Independentemente da culpabilidade dos agentes ora julgados, o caso ilustra à perfeição como todo o sistema policial e judicial protege a violência do Estado e nega justiça às vítimas.
As investigações andaram apenas por pressão internacional, levada a cabo por mobilização de ativistas. O desfecho de impunidade, tão comum no país, é um convite ao abuso escandaloso.