Agora

Sérgio Reis é o clichê do tiozão bolsonaris­ta

Áudio golpista revelou homem antiquado, medroso e fora da realidade

- TONY GOES

OPINIÃO

Nem em seus tempos de maior sucesso o cantor e compositor Sérgio Reis esteve em tamanha evidência como na semana que passou. Tudo por causa de áudio enviado a amigo e vazado para a imprensa, em que Reis ameaça “quebrar tudo e tirar os caras na marra” se o Congresso não aprovar o voto impresso e remover todos os juízes do STF.

A repercussã­o da mensagem golpista foi péssima. Segundo o próprio artista, ele já teve quatro shows e dois comerciais desmarcado­s. Guilherme Arantes, Guttemberg Guarabyra, Maria Rita e Zé Ramalho cancelaram as participaç­ões que fariam em seu álbum.

Para piorar, a Polícia Federal bateu à porta de Sérgio Reis na sexta (20) e apreendeu seu celular. Ele também teve sua vida fiscal virada do avesso e até detalhes de uma prótese peniana emergiram. A pressão lhe causou picos de glicemia (Reis é diabético) e o levou à cama.

Em meio a esse tsunami de más notícias, o intérprete de clássicos como “Panela Velha” teve a chance de se redimir durante uma longa entrevista conduzida por Roberto Cabrini e exibida no domingo (22) pelo Domingo Espetacula­r (Record).

O que se viu no ar foi um homenzarrã­o de aspecto frágil, visivelmen­te assustado com o circo midiático que se armou e tentando entender o que aconteceu. Sérgio Reis pelo menos teve a dignidade de admitir seu erro e pedir perdão, algo raro entre bolsonaris­tas. Isto não significa que ele mudou de ideia quanto ao voto impresso ou ao STF: apenas se arrependeu de ter dito o que disse. Continua pensando igual.

Em todos os demais quesitos, Reis mostrou ser o clichê do tiozão do zap, que faz bravatas e repassa fake news. Tem uma visão antiquada do mundo e prefere o Brasil governado por um regime autoritári­o, que ignore diferenças e minorias. Mesmo assim, se vê como um cara “do bem”, preocupado com a saúde de todo mundo. Curioso, então, seu apoio a um governo cuja gestão desastrosa da pandemia já custou mais de meio milhão de vidas.

Reis também é medroso. O medroso tem medinho de ser cobrado por suas ações e de ser confrontad­o com as consequênc­ias delas.

Por fim, Sérgio Reis também está desconecta­do da realidade. Como todos que vêm ameaçando ultimament­e com um golpe de estado o cantor também imagina que seu projeto político conta com vasto apoio popular, o que é desmentido por todas as pesquisas. Estranho seria se contasse, dada a inflação galopante, o desemprego crescente e a devastação do meio ambiente que esse desgoverno promove.

Ao final da entrevista, difícil não sentir algum tipo de pena por Reis. As últimas imagens mostram um homem acamado, com manchas na pele por causa da diabetes.

Mas, desde que a ex-jogadora de vôlei Fernanda Venturini foi cancelada por se declarar contra as vacinas, nenhum cancelamen­to foi tão justo nesse desvairado Brasil de 2021. Pois o que Sérgio Reis propôs foi simplesmen­te a implantaçã­o violenta de uma ditadura no país. Portanto, merece a avalanche de críticas que vem recebendo e o ostracismo que certamente se seguirá.

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Divulgação/record Em entrevista a Roberto Cabrini, Sérgio Reis pede perdão por ataque aos ministros do STF

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