Histórias de Martinho da Vila
Músico e também escritor, artista conta as vidas de Cartola e Noel Rosa em recentes lançamentos
Aos 83 anos, Martinho da Vila é um artista incansável. Além dos já conhecidos dotes como músico, ele exercita agora ainda mais vertentes como escritor. E, desta vez, os contemplados são as crianças e os jovens. Martinho adentra o suave mundo da literatura infantojuvenil com o lançamento, em setembro, de “Martinho Conta Cartola” e “Martinho Conta Noel”.
Ambas as obras já estão disponíveis para compra online e em prévenda nas principais plataformas.
Tratam-se de duas pequenas biografias de grandes nomes da música popular brasileira escritas a partir do carinho da prosa poética do cantor e compositor: são as vidas dos sambistas Agenor de Oliveira (19081980) e Noel Rosa (1910-1937). “O ‘Martinho Conta Cartola’ veio de o Cartola ser um compositor importantíssimo e a nova geração não conhece muito dele. Já no [livro] sobre Noel eu quis mostrar um lado diferente do Noel Rosa, para as pessoas conhecerem não só seu talento, mas também suas atitudes”, conta Martinho da Vila.
De fato, enquanto ao escrever sobre Cartola ele se atém a dados biográficos, como suas dificuldades financeiras, a parceria romântica com Dona Zica e a fundação da Mangueira, ao falar de Noel ele evidencia sobretudo a atitude despreconceituosa do artista, que tocava com negros em uma época em que a atitude era considerada reprovável.
Não que o Cartola visto pelos olhos de Martinho seja menos interessante: o livro começa com uma deliciosa explicação do por que do apelido do músico, conhecido pelo adereço que levava na cabeça. Tanto em um quanto em outro, o es
Acima, o músico e escritor Martinho da Vila e, ao lado, as capas de seus mais recentes lançamentos literários, que fazem parte da coleção “Martinho Conta...”, da editora Lazuli, ambos por
R$ 29,90 critor alterna a narração dos fatos mais marcantes da vida dos músicos para apresentar letras completas das composições que os fizeram famosos. Algumas muito conhecidas, outras um pouco menos. Mas todas igualmente relevantes para quem quer saber mais sobre o assunto. “Ideia é o que não me falta. Além do livro de contos, a minha autobiografia já está pronta”, conta Martinho.
Ele ainda aproveita para falar sobre a maior representatividade dos negros na literatura e vê com bons olhos as diferenças entre o ofício de escrever e o de compor. “São atividades distintas: acho que uma não interfere muito na outra. Se bem que o ofício de compor música leva à capacidade de diminuição do texto, de fazer as coisas menores. A gente fica com mais capacidade de resumo.”
Mas nem por isso devemos considerar Martinho prolixo. Além de letras de canções e trechos das biografias de Cartola e Noel, os livros trazem ilustrações primorosas que ajudam a contar a história. Já sobre a história de seu tempo, o artista se mostra otimista: “Teremos eleições no próximo ano. Mudanças acontecerão”.