Paulistano, Sérgio Reis começou cantando rock na Jovem Guarda
“vagabundagem terrível” e defendeu “capar” estupradores, presumivelmente em referência a um projeto de autoria de Bolsonaro quando parlamentar, de submeter criminosos sexuais a castração química.
No atual governo, Reis abraçou com gosto a pauta da exploração econômica de terras indígenas. Dias antes do áudio polêmico vir à tona, ajudou a promover um encontro de representantes de tribos simpáticas a Bolsonaro com o presidente.
‘Errei, mas quem não erra?’
Um amigo próximo, o jornalista Fernando Richeti, diz que o artista sertanejo muitas vezes acaba dando opiniões sem pesar as consequências. “Ele sempre foi o ‘véião’ com coraçãozão de menino. Mas a gente sempre contornava, cortava essas coisaradas que ele falava. Sozinho, acabou falando o que não devia”, diz Richeti, apresentador do “Brasil Caminhoneiro”, programa
Vaivém ideológico: em 2014, Sérgio Reis posou sorridente ao lado de Xuxa e da então presidente, Dilma Rousseff; poucos meses depois foi um dos primeiros deputados a pedir o impeachment da petista transmitido pela TV Record e mais de 150 emissoras de rádio no país.
No ar há 40 anos com pequenas variações no nome, a atração tem Sérgio Reis como parte de seu elenco. “A gente sabe que a necessidade é urgente de mudança, por causa do preço do óleo diesel, tabela de frete defasado, é uma pauta justa para os caminhoneiros. Falei para o Serjão que é até válido a gente querer fazer uma mobilização, mas chegar ao ponto de dizer que tira todo mundo a tapa, não dá.”
O amigo, diz Richeti, concorda que se excedeu. Nos dias seguintes à polêmica, Sérgio Reis se desculpou. “Eu errei, quem não erra? Quem não faz bobagem um dia?”, afirmou, em entrevista à TV Record.
Sérgio Reis foi procurado, mas não quis dar entrevista. Por telefone, pediu desculpas e afirmou que a polêmica havia afetado sua saúde. “Espero que você entenda”, declarou. (Folha)
Embora hoje identificado com o meio rural, Sérgio Reis é paulistano do bairro de Santana e começou cantando rock na Jovem Guarda — um filho da cidade, portanto. Migrou para o sertanejo nos anos 1970, quando o gênero começou a conquistar audiências mais urbanas.
Segundo Marco Prado, professor de história da música popular da Escola de Música do Estado de São Paulo (Emesp), Reis fez a ponte entre o sertanejo “raiz”, representado, por exemplo, por Tonico e Tinoco, e a geração do sertanejo de massa, de Chitãozinho e Xororó. “Ele tem uma importância grande, ajudou a popularizar o sertanejo. Foi um dos que levaram o gênero para programas de auditório, tipo Hebe e Chacrinha, além de fazer filmes”, diz.
Segundo o professor, o gênero sertanejo nunca teve a politização como marca, mas a crítica de que é um estilo alienado é injusta. Há uma grande exaltação da ética do trabalho e do esforço pessoal, por exemplo, valores em alta entre os conservadores. “Há uma valorização do trabalho duro. A tradição do caipira é que quando o galo cantou, ele já está acordado”, diz o professor. Prado afirma que outra marca de Reis foi ter investido na produção de seus shows e até de seu visual. Isso, no entanto, atrai críticas de quem defende a cultura “caipira”.
“O Sérgio Reis se enquadra na música country americana. Até o visual que ele usa não é nosso. Quando ele começou a gravar música caipira rotulada de sertaneja, começou a ganhar dinheiro, ficou famoso, ele virou um personagem”, diz Rolando Boldrin, que apresenta programas de música brasileira na TV há 40 anos e atualmente está à frente do “Sr. Brasil”, na TV Cultura.
Segundo Boldrin, há uma manipulação de sertanejos por Bolsonaro. “Eles [artistas] são ingênuos, são usados por um governo populista para fazer promoção”, afirma. “Tem uns que fazem capa de disco com revólver na cinta, que nem faroeste.” (Folha)