Agora

Curva dramática

‘Duas Caras’ chega ao Globoplay com a história de Marconi Ferraço, que passa por cirurgias para ter um novo rosto; personagem foi inspirado em José Dirceu

- KARINA MATIAS

A história de um homem que, após roubar toda a fortuna da mulher com quem se casou, a abandona sem deixar vestígios e faz uma série de cirurgias plásticas para assumir uma nova identidade: esta é a história do empresário de sucesso Marconi Ferraço, e este é o enredo de “Duas Caras”, novela de Aguinaldo Silva exibida entre 2007 e 2008 na Globo e que acaba de entrar no catálogo do Globoplay.

Embora seja uma obra de ficção, o autor já revelou que a história de Ferraço foi inspirada na realidade, mais precisamen­te na vida do exministro José Dirceu.

“Não me interessou o lado político, mas a história de vida dele, um homem que fez uma operação plástica, transformo­u-se em outra pessoa e viveu durante anos assim, sem que ninguém desconfias­se que ele tinha um passado anterior”, diz Aguinaldo Silva no livro “Autores: Histórias da Teledramat­urgia”, do Projeto Memória Globo. “Dito isso, a novela não tinha mais nada a ver com José Dirceu”, prossegue.

Exilado do Brasil na ditadura, Dirceu se submeteu a uma cirurgia plástica em Cuba e passou quatro anos clandestin­o em Cruzeiro d’ Oeste, no Paraná, com o nome de Carlos Henrique Gouveia de Mello.

Para fazer o papel, o ator Dalton Vigh, 57 anos, diz ter se baseado no texto da novela. Ele lembra que o personagem tinha uma história complicada desde a infância —e em nada semelhante à do ex-ministro.

Ferraço nasceu como Juvenaldo e foi vendido pelos pais quando criança ao inescrupul­oso Hermógenes (Tarcísio Meira), que o rebatizou como Adalberto e o ensinou todos os tipos de trapaça. Já adulto, ele dá um golpe no próprio mestre e vê na rica órfã Maria Paula (Marjorie Estiano, em sua estreia como protagonis­ta) a vítima perfeita para seu golpe. Ele se casa com ela, rouba sua fortuna e some do mapa, sem saber que a deixou grávida. Mesmo com as plásticas e um novo rosto, Maria Paula o reconhece anos depois, já como Ferraço, e coloca em prática seu plano de vingança.

Dalton Vigh afirma que o papel foi um dos melhores que ele já fez, até porque teve um final diferente do previsto inicialmen­te. A ideia era que ele fosse assassinad­o pela vilã Sílvia (Alinne Moraes).

“Mas, no meio da trama começou a surgir uma torcida para o Ferraço

Marconi Ferraço (Dalton Vigh) e Maria Paula (Marjorie Estiano): reencontro anos depois ficar com a Maria Paula. E eu falava: gente, o cara roubou tudo dela”, relembra, aos risos. “O legal da novela é exatamente isso, você nunca sabe para onde ela vai. Poder fazer um personagem que tem essa curva dramática, do vilão ao herói, é raro, é difícil encontrar isso na carreira.”

Outra curiosidad­e, diz ele, é que o nome da novela vai ao encontro daquilo que busca como artista. “Eu sempre quis ser ator por conta de viver outros personagen­s. O ser famoso não fazia parte dos meus planos. Você se tornar conhecido era uma coisa meio ‘mal necessário’”, diz. “Eu sempre falava: se eu pudesse ter duas caras, uma para viver e uma para trabalhar, seria ótimo. Quando me convidaram para fazer a novela que chamava ‘Duas Caras’, eu falei: ‘caramba’”, conta.

O ator diz que hoje está mais acostumado com o assédio do público, mas não se sente confortáve­l ao causar tumulto —mesmo antes da pandemia. “Fico com vergonha.”

“Nostálgico desde criança”, Vigh conta que gosta de rever tramas antigas. E diz que ficou agoniado por

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