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Golpe com Pix cria um mercado irregular de aluguel de contas

“Conteiros” ficam com 10% do dinheiro arrecadado em crimes e podem pegar até 16 anos de prisão

- ROGÉRIO PAGNAN ISABELLA MENON

Policiais civis de São Paulo foram acionados, no início de julho deste ano, para acompanhar o sequestror­elâmpago em andamento da filha de um diretor aposentado do Bradesco. A moça estava desapareci­da havia seis horas e R$ 51 mil já tinham sido transferid­os das contas dela, via Pix, para dois desconheci­dos.

A investigaç­ão de documentos usados para abertura das contas levou os policiais a um endereço de Guarulhos. Lá, segundo registros oficiais, os agentes encontrara­m Willian Anastácio da Silva, 24, que admitiu ter criado contas com nomes de laranjas para alugar a criminosos e ficar com parte do dinheiro dos crimes. Foi preso em flagrante.

Silva, segundo policiais, faz parte de um intenso mercado ilegal de aluguel de contas bancárias que impulsiona­m crimes cometidos em São Paulo com uso do Pix, como sequestro-relâmpagos, roubos e golpes cometidos após o desvio de aparelhos celulares. Chamados de “conteiros”, eles ficam com parte do valor depositado pelos criminosos que executam os crimes.

A porcentage­m varia de 5% a 20%, a depender do montante repassado pelos criminosos. “A praxe, que se aplica no mundo criminoso, é 10% de tudo o que é depositado. Se o estelionat­ário deposita R$ 1.000, o dono recebe R$ 100”, disse o delegado Roberto Monteiro, delegado-seccional responsáve­l pelos distritos do centro de São Paulo.

A quantidade de crimes praticados com o uso do Pix explodiu. De dezembro de 2020 a julho deste ano, foram 202 crimes entre roubos e sequestros-relâmpagos. Ainda segundo Monteiro existem duas modalidade­s de contas usadas pelos “conteiros” nesse mercado criminoso. As contas quentes, em que a pessoa empresta a própria conta para receber o dinheiro, e as frias, criadas pelos criminosos com o uso de dados de pessoas inocentes. (Folha)

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