Golpe com Pix cria um mercado irregular de aluguel de contas
“Conteiros” ficam com 10% do dinheiro arrecadado em crimes e podem pegar até 16 anos de prisão
Policiais civis de São Paulo foram acionados, no início de julho deste ano, para acompanhar o sequestrorelâmpago em andamento da filha de um diretor aposentado do Bradesco. A moça estava desaparecida havia seis horas e R$ 51 mil já tinham sido transferidos das contas dela, via Pix, para dois desconhecidos.
A investigação de documentos usados para abertura das contas levou os policiais a um endereço de Guarulhos. Lá, segundo registros oficiais, os agentes encontraram Willian Anastácio da Silva, 24, que admitiu ter criado contas com nomes de laranjas para alugar a criminosos e ficar com parte do dinheiro dos crimes. Foi preso em flagrante.
Silva, segundo policiais, faz parte de um intenso mercado ilegal de aluguel de contas bancárias que impulsionam crimes cometidos em São Paulo com uso do Pix, como sequestro-relâmpagos, roubos e golpes cometidos após o desvio de aparelhos celulares. Chamados de “conteiros”, eles ficam com parte do valor depositado pelos criminosos que executam os crimes.
A porcentagem varia de 5% a 20%, a depender do montante repassado pelos criminosos. “A praxe, que se aplica no mundo criminoso, é 10% de tudo o que é depositado. Se o estelionatário deposita R$ 1.000, o dono recebe R$ 100”, disse o delegado Roberto Monteiro, delegado-seccional responsável pelos distritos do centro de São Paulo.
A quantidade de crimes praticados com o uso do Pix explodiu. De dezembro de 2020 a julho deste ano, foram 202 crimes entre roubos e sequestros-relâmpagos. Ainda segundo Monteiro existem duas modalidades de contas usadas pelos “conteiros” nesse mercado criminoso. As contas quentes, em que a pessoa empresta a própria conta para receber o dinheiro, e as frias, criadas pelos criminosos com o uso de dados de pessoas inocentes. (Folha)