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Sérgio Mamberti morre aos 82 anos deixando legado na TV e no cinema

Ator, diretor e político estava internado em São Paulo; ele atuou em novelas como ‘O Clone’ e ‘O Sol Nascente’

- CARLOS BOZZO JUNIOR

Nascido em 22 de abril de 1939, em Santos, no litoral paulista, o ator, diretor de teatro, autor, produtor e político Sérgio Duarte Mamberti morreu na madrugada desta sextafeira, aos 82 anos. O artista estava internado em hospital da capital paulista com infecção nos pulmões.

Além de ter sido dramaturgo por mais de 50 anos, sua vivência política de esquerda deu a ele base para ser um dos fundadores do Partido dos Trabalhado­res. “Minha militância política sempre foi ligada à questão cultural”, dizia. Em 12 anos, ocupou diversos cargos no Ministério da Cultura no governo Lula e no primeiro mandato de Dilma Rousseff.

O trabalho nos governos Lula e Dilma o mantiveram longe do teatro. Mamberti saiu do ministério em 2013. “A militância é uma das minhas paixões, mas voltar ao teatro é uma coisa... É a própria vida, é ali que eu respiro, vivo”, disse em entrevista à Folha de S.paulo em 2015.

Mesmo com as interrupçõ­es provocadas por sua atividade política, Mamberti construiu uma sólida carreira na cena cultural brasileira. Participou de 36 filmes, 36 novelas, 80 peças de teatro —sendo 20 delas como produtor— e recebeu vários prêmios por seus trabalhos.

Segundo revelou naquela mesma entrevista de 2015, sua casa —um sobrado de três quartos no bairro da Bela Vista, em São Paulo, vizinho ao teatro Ruth Escobar— abrigou, além desses astros da MPB, gente machucada pela polícia em 1968.

“Minha casa acompanhou muito da história brasileira, da cultura”, disse sobre a ocasião em que o teatro foi invadido por organizaçã­o de extrema direita que agia no regime militar. A casa serviu de abrigo ao elenco da peça “Roda Viva”, que foi espancado ao final de apresentaç­ão. “Aqui virou o hospital. Todo mundo que estava machucado veio para cá”, disse.

Viúvo desde 1980 da atriz Vivian Mahr, que morreu aos 37 anos, o ator redescobri­u o amor com Ednardo Torquato (morto em 2019), com quem viveu um relacionam­ento por quase quatro décadas.

Mamberti deixa três filhos: Eduardo, Carlos e Fabrício Mamberti.

Ator de teatro, cinema e TV

Sérgio Mamberti estudou na Escola de Arte Dramática, onde se formou em 1961. A estreia profission­al nos palcos aconteceu com “Antígone América”, em 1962. Antes disso, o ator sofreu uma espécie de crise ao participar de uma montagem no teatro Aliança Francesa. Ele se sentiu impossibil­itado de entrar em cena por achar que havia uma lâmina de vidro que impedia seu acesso ao palco. O problema foi resolvido com o diretor do espetáculo dando um chute no seu traseiro.

Em 1969, na montagem de “O Balcão”, Mamberti interpreto­u brilhantem­ente o personagem Juiz.

“Conheci o dramaturgo Jean Genet [autor da peça] e recebi um elogio. Ele disse que, de todas as montagens, o personagem do Juiz de que mais gostou foi o meu”, dizia o ator.

Mamberti também atuou em “Rancor”, peça de Otavio Frias Filho. Depois, brilhou em “Pérola”, sucesso de Mauro Rasi, no qual contraceno­u com Vera Holtz por cinco anos.

Como ator de TV, Mamberti participou de novelas de sucesso, como “As Pupilas do Senhor Reitor” (1970), “Brilhante” (1981), “O Clone” (2001) e “Sol Nascente” (2016).

Quando gravou “As Pupilas do Senhor Reitor”, o ator lembrava que o elenco tinha em mãos os horários dos aviões que decolavam e aterrissav­am no aeroporto de Congonhas para poderem gravar durante os espaços de silêncio. “O trabalho de TV é muito árduo, o glamour existe só para quem assiste”, dizia o ator que considerav­a Eugênio, seu personagem na novela “Vale Tudo”, de 1988, seu trabalho mais marcante.

Cinéfilo assumido, dizia assistir a uma média de 400 filmes por ano. Ele atuou em clássicos, como “O Bandido da Luz Vermelha”, de 1968, “Toda Nudez Será Castigada”, de 1973, “A Hora da Estrela”, de 1985, e “A Dama do Cine Shangai”, de 1987.

Mamberti não deixava de reconhecer a importânci­a do público. “A gente faz para vocês, porque são vocês o motivo de nossas vidas.” (Folha)

 ?? Karime Xavier - 16.ago.19/folhapress ?? Sérgio Mamberti em sua casa, no tradiciona­l bairro do Bexiga (região central de São Paulo), em 2019; ator morreu nesta sexta-feira (3) aos 82 anos, em hospital da capital
Karime Xavier - 16.ago.19/folhapress Sérgio Mamberti em sua casa, no tradiciona­l bairro do Bexiga (região central de São Paulo), em 2019; ator morreu nesta sexta-feira (3) aos 82 anos, em hospital da capital

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