Dr. Victor vive na memória de várias gerações
Ator fez Shakespeare, mas ficou conhecido do público pelo personagem de Castelo Rá-tim-bum
Santista de nascimento, o ator, diretor e ativista político Sérgio Mamberti morreu ontem de falência múltiplia dos órgãos.
Falamos certa vez em um Roda Viva, na TV Cultura, com o próprio Sérgio Mamberti no centro da roda, que “Tio” Victor —para o ponto de vista do sobrinho, Nino, vivido por Cássio Scapin— ou “Doutor” Victor, para os visitantes e outros moradores do “Castelo Rá-tim-bum”, era a figura mais conhecida de seu vasto repertório, em mais de 60 anos de carreira.
De certo não era o mais importante socialmente, quesito em que o ator trafegou com maestria, interpretando tantos personagens da maior relevância da história teatral mundial, pulando de Shakespeare em Molière, Brecht e Pirandello. Mas Tio Victor foi, na memória afetiva dos brasileiros, o mais famoso.
Victor Astrobaldo Stradivarius Victorius 1º era o mais sábio dos sábios do precioso enredo de Flávio de Souza e Cao Hamburger, a melhor produção originalmente criada para a TV nos quase 71 anos de história da televisão brasileira.
Pena que o material de gravação, e principalmente o áudio, da produção original não mostre condições técnicas para uma remasterização decente.
Além da conjunção de fatores felizes entre texto, elenco, cenário e trilha sonora, a genialidade do “Castelo” está também nesse ponto: a atemporalidade e a universalidade de suas histórias, como convém aos clássicos, capazes de serem entendidos por crianças de qualquer tempo, em qualquer espaço. Vitor era o maestro dessa partitura.
É certo dizer que a magia da bruxa Morgana, com suas centenas de anos, e a sagacidade do menino Nino eram reações diretas àquele Victor de Mamberti, respeitado por sua austeridade e ao mesmo tempo, fonte de inesgotável valor afetivo para as crianças do Castelo.
ANÁLISE
Atuação consagrada
Em segundo lugar na TV, e aí falamos de uma televisão que ainda mantém vivas as cenas de uma memória destruída por tantos incêndios e negligência, vem o mordomo Eugênio, adorável personagem de “Vale Tudo” (1988), de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères.
Na era do Twitter, quando o canal Viva trouxe “Vale Tudo” de volta, o atento Eugênio inspirou um dos mais divertidos perfis da rede de microblogs, alguém que tudo vê e tudo sabe, útil à informação de quem está de passagem ou veio para ficar na mansão de Tia Celina (Nathália Timberg) e Odete Roitman (Beatriz Segall).
Cinéfilo como o próprio Mamberti —e como Gilberto Braga— o mordomo tinha estofo cultural e citava de cabeça constantes referências encontradas nos clássicos da Sétima Arte.