STF e centrão avisam que ato golpista afeta Bolsonaro em 22
Ministros condicionam acordo sobre precatórios a comportamento do presidente em manifestação
BRASÍLIA Ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e dirigentes de partidos políticos condicionam o futuro das relações do governo com os demais Poderes à postura que Jair Bolsonaro adotará nas manifestações de 7 de setembro e nos dias posteriores aos protestos.
De um lado, integrantes da corte já enviaram recados ao mandatário e aos presidentes da Câmara e do Senado de que o avanço das negociações em busca de uma saída para o rombo dos precatórios, o que viabilizaria a reformulação do Bolsa Família, só deve ocorrer se o chefe do Executivo cessar os ataques ao tribunal.
De outro, líderes de siglas do centrão que hoje dão sustentação a Bolsonaro no Legislativo passaram a ver o desembarque do governo no ano que vem quase como inevitável se não houver uma mudança de comportamento do presidente.
O cálculo da cúpula dos partidos aliados é pragmático e eleitoral. Bolsonaro já não está bem nas pesquisas e apresenta popularidade em queda.
Os últimos dados apontam para um cenário desfavorável na economia em 2022. Se o chefe do Executivo insistir em adotar o tom autoritário, a relação entre os Poderes se torna ainda mais tensa, o que pode ter impacto na agenda econômica, mantendo Bolsonaro com baixa popularidade.
O desembarque, nessa hipótese, seria a única saída, na avaliação feita em conversas reservadas por dirigentes partidários.
A ideia das siglas não seria sair já, até porque as legendas que compõem o centrão, como PP, PL, Republicanos, entre outros, têm cargos na máquina federal e prioridade na liberação de emendas. Os dois primeiros, inclusive, ocupam postos no Palácio do Planalto.
Mas a perspectiva desses dirigentes é de abandonar o governo com a proximidade da eleição, caso o clima beligerante e a crise econômica continuem.
Questionado sobre se poderia encampar um pedido de impeachment caso o presidente insista em questionar a realização de eleições do ano que vem, um integrante da cúpula de um dos partidos do centrão considera que nada é impossível.
Do grupo, o que tem a menor chance de deixar o governo no curto prazo é justamente o PP, cujo presidente licenciado, senador Ciro Nogueira (PI), é chefe da Casa Civil.
Até a defesa que os dirigentes do centrão fazem do governo é mais na linha institucional, não do presidente em si.
Um senador da base de Bolsonaro, crítico das decisões do Supremo, disse esperar que o presidente saiba aproveitar o capital político das ruas. Caso contrário, sofrerá “consequências” —retaliações da Corte e dos partidos que o apoiam.
O clima de tensão é o mesmo no STF. Ministros dizem não ver condições de manter diálogo com o governo sobre uma saída para parcelar o pagamento de precatórios, por exemplo, se
Bolsonaro insistir em atacar a corte.
A possibilidade de o Supremo ajudar na busca por uma solução para reduzir o rombo de R$ 89 bilhões das dívidas judiciais previstas para o ano que vem surgiu justamente como uma forma de a corte fazer um gesto de pacificação em direção ao Palácio do Planalto.
As manifestações de 7 de setembro, porém, serão decisivas para definir se a corte de fato ajudará o governo a reduzir o rombo dos precatórios. (Folha)