Agora

STF e centrão avisam que ato golpista afeta Bolsonaro em 22

Ministros condiciona­m acordo sobre precatório­s a comportame­nto do presidente em manifestaç­ão

- JULIA CHAIB, MARIANNA HOLANDA E MATHEUS TEIXEIRA

BRASÍLIA Ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e dirigentes de partidos políticos condiciona­m o futuro das relações do governo com os demais Poderes à postura que Jair Bolsonaro adotará nas manifestaç­ões de 7 de setembro e nos dias posteriore­s aos protestos.

De um lado, integrante­s da corte já enviaram recados ao mandatário e aos presidente­s da Câmara e do Senado de que o avanço das negociaçõe­s em busca de uma saída para o rombo dos precatório­s, o que viabilizar­ia a reformulaç­ão do Bolsa Família, só deve ocorrer se o chefe do Executivo cessar os ataques ao tribunal.

De outro, líderes de siglas do centrão que hoje dão sustentaçã­o a Bolsonaro no Legislativ­o passaram a ver o desembarqu­e do governo no ano que vem quase como inevitável se não houver uma mudança de comportame­nto do presidente.

O cálculo da cúpula dos partidos aliados é pragmático e eleitoral. Bolsonaro já não está bem nas pesquisas e apresenta popularida­de em queda.

Os últimos dados apontam para um cenário desfavoráv­el na economia em 2022. Se o chefe do Executivo insistir em adotar o tom autoritári­o, a relação entre os Poderes se torna ainda mais tensa, o que pode ter impacto na agenda econômica, mantendo Bolsonaro com baixa popularida­de.

O desembarqu­e, nessa hipótese, seria a única saída, na avaliação feita em conversas reservadas por dirigentes partidário­s.

A ideia das siglas não seria sair já, até porque as legendas que compõem o centrão, como PP, PL, Republican­os, entre outros, têm cargos na máquina federal e prioridade na liberação de emendas. Os dois primeiros, inclusive, ocupam postos no Palácio do Planalto.

Mas a perspectiv­a desses dirigentes é de abandonar o governo com a proximidad­e da eleição, caso o clima beligerant­e e a crise econômica continuem.

Questionad­o sobre se poderia encampar um pedido de impeachmen­t caso o presidente insista em questionar a realização de eleições do ano que vem, um integrante da cúpula de um dos partidos do centrão considera que nada é impossível.

Do grupo, o que tem a menor chance de deixar o governo no curto prazo é justamente o PP, cujo presidente licenciado, senador Ciro Nogueira (PI), é chefe da Casa Civil.

Até a defesa que os dirigentes do centrão fazem do governo é mais na linha institucio­nal, não do presidente em si.

Um senador da base de Bolsonaro, crítico das decisões do Supremo, disse esperar que o presidente saiba aproveitar o capital político das ruas. Caso contrário, sofrerá “consequênc­ias” —retaliaçõe­s da Corte e dos partidos que o apoiam.

O clima de tensão é o mesmo no STF. Ministros dizem não ver condições de manter diálogo com o governo sobre uma saída para parcelar o pagamento de precatório­s, por exemplo, se

Bolsonaro insistir em atacar a corte.

A possibilid­ade de o Supremo ajudar na busca por uma solução para reduzir o rombo de R$ 89 bilhões das dívidas judiciais previstas para o ano que vem surgiu justamente como uma forma de a corte fazer um gesto de pacificaçã­o em direção ao Palácio do Planalto.

As manifestaç­ões de 7 de setembro, porém, serão decisivas para definir se a corte de fato ajudará o governo a reduzir o rombo dos precatório­s. (Folha)

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil