Juliette precisará de mais do que voz afinada para trilhar carreira
Juliette diz que a cantora a ajudou para além das gravações.
“Minha relação com a Anitta é muito bonita. Eu a tinha como uma referência feminina mesmo”, diz Juliette, que não descarta a possibilidade de uma parceria no futuro. “Tem que respeitar a história dela, porque ela tirou leite de pedra, como falamos lá no Nordeste.”
De repente, famosa
Com 24 milhões de seguidores no Instagram quando deixou o BBB —hoje já são mais de 32 milhões—, Juliette se assustou com a fama repentina. Segundo ela, o reality proporcionou uma mudança total em sua vida. “Estou construindo tudo, me construindo como artista”, diz. Nesse processo, ela confessa momentos de nervosismo e brinca que chegou a “fingir costume” quando se encontrava com grandes artistas. “Quando vi Gilberto Gil eu chorei”, relembra.
Juliette reforça que, mesmo com o reconhecimento nacional que conquistou, não aceitará qualquer rótulo de perfeição. “Quero que as pessoas me vejam com a minha humanidade. Vou continuar errando”.
Por causa da fama, a campeã do BBB 21 diz que agora sente que suas atitudes geram impacto. “O que está acontecendo comigo é um sonho, [mas] hoje eu não penso só em mim, penso em como vou influenciar uma pessoa e como eu posso ser exemplo.” Ela afirma, ainda, que busca maneiras de reduzir o peso dessa responsabilidade e aguarda ansiosa o início da próxima edição do BBB. “Quando tiver outro Big Brother acho que as pessoas vão ter novos amores, e eu sei que vai dar uma acalmada.”
Para o futuro da carreira, a paraibana enxerga estudo e dedicação. E também “muito frio na barriga”, já que um novo desafio se inicia já na próxima segunda-feira (13), quando ela fará sua estreia como apresentadora, à frente do programa TVZ, do Multishow. “É música, e eu vou conhecer pessoas que eu admiro”, resume.
Por fim, Juliette diz que o mais importante ela já conquistou, e se engana quem pensa que é o prêmio de R$ 1,5 milhão do BBB. “Meu sonho era encontrar sentido para tudo o que aconteceu comigo, já consegui.”
Entre as marcas da passagem de Juliette Freire pela última edição do Big Brother Brasil estão os momentos em que ela cantou com outros participantes. A vencedora do programa viralizou “Deus me Proteja”, de Chico César, e soltou a voz em “Sozinho”, conhecida na voz de Caetano Veloso, além de cantar com o sertanejo Rodolffo, dupla com Israel, que também esteve no BBB.
Com o sucesso da paraibana no programa, o caminho natural era que ela desse início a uma carreira na música. Antes mesmo do EP “Juliette”, lançado na quinta (2), ela já cantou em lives de Gilberto Gil, Elba Ramalho e Wesley Safadão, uma indicação do caminho artístico que pretende seguir.
De certa forma, “Juliette” soa exatamente como o que se espera dela. A advogada e maquiadora passeia por canções baseadas no forró, mas que têm um pé na MPB e outro no sertanejo. São baladas, lentas, tudo excessivamente fofo e tecnicamente bem executado, sem espaço para nenhum tipo de surpresa.
Até no jeito de cantar Juliette soa certinha demais. O que fornece alguma identidade ao primeiro lançamento musical de Juliette são as letras, repletas de referências à cultura nordestina. Esses símbolos se tornaram sua marca.
Na romântica “Vixe que Gostoso”, um quase arrocha com violões, ela só quer ficar de “chameguinho” com o parceiro. Em “Sei Lá”, espécie de mistura de Anavitória com Armandinho, Juliette se vê confusa com uma paixão. “Benzin” é um xote arrastado cuja melodia lembra uma versão sonolenta de “100 Anos”, do Falamansa. Já “Doce”, composta pela amiga Anitta —em parceria com Mãozinha e Umberto Tavares—, é ainda mais açucarada do que o título sugere. Há ainda “Bença”, escrita pelos paraibanos Dann Costara e Zé Neto —que também assinam “Diferença Mara”—, retomando temas da faixa anterior, conforme ela canta que “rapadura é doce, mas não é mole não”. Em meio a arranjos de sanfonas, a cantora diz que vem do sertão, onde o “coco é seco demais”, e que “o preconceito eu como com farinha”, levando no peito “a oração de mainha”.
Quando evoca referências ao Nordeste, Juliette naturalmente se apoia na representatividade que foi determinante para o seu sucesso na TV. Musicalmente, evoca uma tradição mais clássica da música nordestina, fazendo uma versão pasteurizada do forró pé de serra que nada tem a ver com a ideia de modernização e evolução estética sugerida pelas inovações eletrônicas da pisadinha.
Pouco criativo, “Juliette” é um retrato da EX-BBB em sua zona de conforto, em algum ponto morto entre o sentimentalismo exacerbado do brega e a sutileza da MPB mais alinhada à bossa nova. O EP, na verdade, conversa com a faceta mais inofensiva e careta que o pop brasileiro pode oferecer.
Se os cactos —como são conhecidos os fãs da cantora— tiverem a mesma empolgação para ouvir o EP que tiveram para votar na permanência de Juliette no BBB, não é difícil imaginar que essas músicas figurarão entre as mais ouvidas do país. Se quiser fazer da música uma carreira perene e relevante, contudo, Juliette vai precisar de mais do que alguns compositores de hits e uma voz afinada. (Folha)
O disco soa como o que se espera de Juliette, com canções baseadas no forró, mas que têm um pé na MPB e outro no sertanejo. São baladas, lentas, tudo excessivamente
fofo e tecnicamente bem executado