Debora Bloch lamenta crise na cultura e educação
ponto que a [personagem da] Debora entra. Mais do que nunca ela é essa professora que vai resistir”, acrescenta a autora.
“A educação é o único caminho possível para transformação da nossa sociedade”, reforça Antônio.
Debora Bloch diz, ainda, que Lúcia é uma das personagens mais especiais da sua carreira, por levá-la a conhecer mais a fundo universos como o da escola pública e do EJA. “É muito duro depois voltar para casa e saber que as pessoas vivem daquela maneira. Te dá uma vontade de contribuir para que isso se transforme.” E um dos caminhos para isso, diz a atriz, é justamente mostrar essa realidade. “Acho importante ‘Segunda Chamada’ estar na Globo e no Globoplay”, afirma —a data em que a nova temporada chegará à TV aberta, porém, ainda não foi divulgada. “Não é mole passar cinco meses convivendo com a precariedade da vida das pessoas. Elas são muito desassistidas, o poder público não chega a esses lugares. É revoltante, é deprimente, dá raiva.”
Outros temas
A nova temporada de “Segunda Chamada” também vai abordar temas como a doença de Alzheimer, as dificuldades que um cadeirante enfrenta para estudar e os preconceitos que os indígenas sofrem.
Paulo Gorgulho, Thalita Carauta,
Hermila Guedes e Silvio Guindane seguem no elenco da série, que conta ainda com participações de Moacyr Franco e Flavio Bauraqui, entre outros.
Quanto aos desafios impostos pela pandemia, a diretora artística Joana Jabace diz que foi preciso “aprender um novo jeito” de trabalhar. “A gente teve medo de não conseguir voltar a gravar e, quando conseguimos, foi tão difícil.”
As gravações começaram em fevereiro de 2020 e foram suspensas no mês seguinte. As autoras tiveram de reescrever a série e reduzir o número de episódios de 12 para seis, mas dizem estar felizes com o resultado.
Protagonista de “Segunda Chamada”, Debora Bloch desabafou com grande pesar sobre a atual situação da educação e da cultura no Brasil. “A gente está sofrendo com a vitória da ignorância.”
A equipe começou a filmar antes da pandemia e só pode concluir o trabalho agora. Como disse a diretora artística Joana Jabace, é emblemático que uma produção com esta temática seja lançada bem na semana deste conturbado 7 de setembro. “Ontem [terça], quando eu me dei conta de que a gente estava entregando a série que trata de todos esses problemas brasileiros no 7 de Setembro, eu chorei!”, disse Joana. “É o projeto das nossas vidas”, continuou, dirigindo-se às autoras Carla Faour e Julia Spadaccini. “E da minha também”, avisou Debora.
O enredo está centrado em uma escola da periferia de São Paulo. Por ali passam pessoas que resistem a uma rotina de cansaço para voltar aos estudos abandonados no passado, invariavelmente por razões econômicas e dramas sociais.
Ao lamentar a situação da cultura e da educação pública neste momento, Debora Bloch disse esperar que a “vitória da ignorância” a que se refere seja apenas por uma batalha, e não pela guerra.
“É muito grave o que está sendo feito com o ensino, com a educação, especialmente com o ensino público, com as universidades. É muito grave ter um ministro da educação que diz que a universidade é para poucos, que diz que os deficientes atrapalham, é muito grave”, repete.
“É um momento de escuridão, e há um projeto de desmonte da cultura e das artes, é muito sério. Quem estudou um pouco de história sabe que o primeiro sinal de regimes autoritários e fascistas é o desmonte de educação e dos aparelhos de cultura. Isso destrói uma sociedade, acaba com qualquer projeto de civilização e de identidade nacional.”
Além de levar moradores em situação de rua para a sala de aula, a nova temporada coloca à mesa casos de alcoolismo e Alzheimer, com uma comovente participação de Moacyr Franco. (Cristina Padiglione)