Agora

Que país é este?

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Ofundador da 1190 Sports, que distribui os direitos internacio­nais do Campeonato Brasileiro, comemora um ano de sucesso do projeto no mundo. São mais de cem países assistindo às Séries A e B e o contrato recém-assinado com a ESPN garantirá distribuiç­ão em toda a América Latina.

“Não se pode conquistar o mundo sem ser rei em seu próprio território”, argumenta Hernan Donnari. Há parcerias nos Estados Unidos, com Univision e Paramount Plus. E pode-se assistir às partidas em território norte-americano também pelo aplicativo Brasileirã­o Play.

“Nenhum país que assistiu aos campeonato­s do Brasil no primeiro ano quis devolver. Todos mantiveram para novos períodos”, destaca Donnari. Casos de países como Rússia, Ucrânia, Turcomenis­tão,

Uzbequistã­o e antigas repúblicas soviéticas. Portugal também é um cliente importante. Jorge Jesus e Abel Ferreira aumentam o interesse por lá.

Ao mesmo tempo em que o futebol brasileiro finalmente se preocupa em atravessar fronteiras, as imagens mostram um futebol enfermo. Ou pior: um país doente.

O caso do menino santista de 9 anos teve repercussã­o em todos os canais portuguese­s. A invasão da torcida do Grêmio e a destruição da cabine do VAR, depois do clássico contra o Palmeiras, também foi vista no mundo todo.

As cenas de violência não preocupam em excesso os executivos que distribuem o Brasileiro. Julgam que quem tem acesso às rodadas completas e aos programas de melhores momentos que pertencem aos pacotes percebe que há casos em um jogo, não em todos.

Precisa preocupar quem organiza.

Frase repetida à exaustão, quando se cobrava dos dirigentes adesão às medidas sanitárias, no ápice da pandemia, o futebol não é uma bolha.

Se o país vive uma onda de intolerânc­ia, se ela se espalha pelas redes antissocia­is, revela ataques racistas e homofóbico­s, se até um jogador de vôlei demonstra sua indignação com uma história em quadrinhos, se a sociedade está doente, o futebol é parte disso.

E expõe de maneira exuberante como a intransigê­ncia alcançou níveis insuportáv­eis. “Mais uma briga de torcida, termina tudo em confusão”, é verso da canção “Desordem”, dos Titãs, gravada em 1987.

Não se trata só desse tipo de conflito.

“Que país é este” foi gravada pela Legião Urbana em 1988 e a canção que dá nome ao disco era do Aborto Elétrico, de dez anos antes. Renato Russo cantava “ninguém respeita a Constituiç­ão, mas todos acreditam no futuro da nação”, enquanto o centrão dava o tom do governo Sarney, com Cazuza gritando: “Meu cartão de crédito é uma navalha”.

Quase 35 anos depois, meu partido é um coração partido.

Os distorcedo­res da Vila Belmiro distorcem o jeito de torcer e atacam a criança de 9 anos porque ela queria uma camisa do adversário.

A imagem deste Brasil atravessou o oceano e foi exibida de Portugal à França, de onde Jorge Sampaoli enviou sua solidaried­ade e uma camisa do Olympique de Marselha.

Se a doença não é exclusivid­ade do futebol, a cura pode passar por ele. Este país já estava desorienta­do em 2019.

Gabigol preparava-se para subir ao gramado do Allianz Parque. Já trajado com o uniforme completo do Flamengo, foi abordado por um mascote, todo vestido de Palmeiras: “Quero ver seu gol hoje”, disse o garoto.

Espantado, Gabigol perguntou: “Ué, você não é palmeirens­e?” O menino deu a réplica: “Sou. Vai ser 2 a 1 para o Palmeiras. Quero ver gol seu!”.

Melhor ter essa esperança ou a de uma canção de Gilberto Gil: “Quem sabe, o Super-homem venha nos restituir a glória, mudando como um Deus o curso da história”.

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