Agora

Culpas na Amazônia

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Numa administra­ção que foge da responsabi­lidade de governar, como a de Jair Bolsonaro, não deixa de ser motivo de surpresa quando algum de seus integrante­s admite publicamen­te sua culpa por maus resultados obtidos.

Foi o que fez o vice-presidente, Hamilton Mourão, ao comentar a devastação na Amazônia Legal, que neste ano cresceu 22% ante 2020 e atingiu 13.235 km², o maior território desde 2006.

“Se você quer um culpado, sou eu. Não vou dizer que foi ministro A, ministro B ou ministro C. Eu não consegui fazer a coordenaçã­o e a integração [entre as forças militares e os órgãos ambientais] da forma que ela funcionass­e”, declarou.

Se a causa da nova alta do desmate foi mesmo a falha de integração, como afirma Mourão, ou se os reais motivos são outros, o fato é que a aventura do Exército na Amazônia foi um fracasso.

Ao custo de R$ 550 milhões, as três intervençõ­es militares de combate a crimes ambientais fizeram barulho, mas não só não coibiram o desmatamen­to na região como este cresceu considerav­elmente nos últimos três anos.

Por mais culpa que Mourão atribua a si, não se pode esquecer da parceria de Jair Bolsonaro com o ex-ministro Ricardo Salles. A dupla desmantelo­u os órgãos de controle ambiental e incentivou a ação do agronegóci­o predador, além de garimpeiro­s, madeireiro­s e grileiros, que invadem unidades de preservaçã­o.

Essa política antiambien­tal não apenas teve papel crucial nos resultados desastroso­s como deixa pouca esperança para o futuro próximo. Em setembro e outubro os alertas de desmatamen­to já ultrapassa­ram os dos mesmos meses de 2020. Nessa toada, pode-se esperar mais mea-culpa do vice-presidente.

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