Agora

Michael superou drogas e depressão para se destacar no Fla

- LUCIANO TRINDADE

Em 2015, Manoel Messias de Oliveira estava em sua casa na cidade de Poxoréu, interior do Mato Grosso, quando recebeu uma ligação de seu filho mais velho. Michael estava aos prantos do outro lado da linha.

Naquele dia, o rapaz, então com 19 anos, temia morrer depois que soube do assassinat­o do traficante Mãozinha, com quem ele dividia uma casa, em Goiânia.

O crime era um acerto de contas do tráfico de drogas e Michael sabia que o seu destino poderia ser o mesmo. Por isso, decidiu fugir e, novamente, recebeu abrigo do primo Jefferson Delgado e da tia Ellen Cristina.

Quando Michael tinha 15 anos e também precisou sair às pressas de Poxoréu, foram eles que o receberam em Goiás. Na sua cidade natal, o garoto era procurado por roubos e por associação ao tráfico, crimes que o pai dele demorou a descobrir.

“Eu sempre ouvia que a família era a última a saber [quando um filho faz coisas erradas]. Foi assim que eu vi que isso era verdade”, diz Manoel, à reportagem.

Poxoréu é uma cidade de cerca de 16 mil habitantes e fica a aproximada­mente 200 km de Cuiabá. Foi lá que Michael passou sua infância, período em que costumava fugir da escola para jogar bola. O hoje atacante do Flamengo, inclusive, foi reprovado na terceira série do ensino fundamenta­l. Mesmo assim, sua professora queria que Manuel assinasse uma autorizaçã­o para o filho representa­r o colégio em um torneio de futebol.

Envolvido com o tráfico, o próprio jogador admite já ter feito uso de drogas e sofrido tentativas de assassinat­o, além de pensar em cometer suicídio, situações que o levaram a ter depressão. A chegada a Goiás para morar com o primo e a tia foi o ponto de virada na vida de Michael. Depois de passar pelo Monte Cristo e pelo Goiânia, foi contratado pelo Goianésia, em 2017.

Naquele mesmo ano, uma ajuda inesperada, vinda do cantor Amado Batista, deu ao atleta a primeira grande chance da carreira.

Antes de uma partida contra o Goiás, o cantor ligou para Harlei Menezes, ex-diretor de futebol e atual vice-presidente do time esmeraldin­o. “Eu estava saindo de casa para ir para o jogo e o Amado Batista me ligou falando: ‘Harlei, tem um jogador pequeno, mas muito arisco, velocista, driblador, joga lá na minha fazenda com os meus funcionári­os e com meus amigos. Dá uma olhada nele, quem sabe ele não te interessa’”, conta o ex-goleiro Harlei.

O Goiás venceu a partida por 4 a 2, mas Harlei diz que Michael foi o grande destaque, o que lhe valeu um contrato de cinco anos.

As qualidades do atacante também chamaram a atenção de Jorge Jesus, extécnico do Flamengo, que foi o responsáve­l por autorizar sua contrataçã­o, por R$ 34 milhões.

Na Gávea, Michael já se transformo­u em uma espécie de xodó da torcida, mesmo sem ser titular. Desde a chegada de Renato Gaúcho, em julho, o futebol dele evoluiu. Dos 18 gols que tem na temporada, 12 foram marcados sob seu comando.

Para o pai Manoel, seu filho não se adaptou ao estilo dos técnicos que substituír­am Jesus. Com Rogério Ceni, houve até uma decepção. “Teve um jogo que ele [Rogério] chamou meu filho e disse: ‘Vai lá e me prova que estou errado sobre você’. Isso deixou ele triste, era tão fã daquele cara.”

A idolatria a Ceni vinha desde a infância, já que Michael era são-paulino. Manoel, que é corintiano e, tem dois ótimos motivos para torcer pelos cariocas. “Se Deus me permitir, eu gostaria de ver meu filho fazer um gol no Palmeiras na final.”

 ?? Alexandre Vidal - 22.nov.21/Flamengo ?? Desde a chegada do técnico Renato Gaúcho, o atacante Michael melhorou seu desempenho e é o vice-artilheiro do Brasileiro, com 13 gols
Alexandre Vidal - 22.nov.21/Flamengo Desde a chegada do técnico Renato Gaúcho, o atacante Michael melhorou seu desempenho e é o vice-artilheiro do Brasileiro, com 13 gols

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil