Ela fez história
Intérprete da princesa Isabel em ‘Nos Tempos do Imperador’, Giulia Gayoso diz que personagem é uma incógnita: ‘Não compreendi diversas atitudes dela’
Todos conhecemos um pouco da história do Brasil e da família imperial que governou o país no século 19. Isso não quer dizer que os atores de “Nos Tempos do Imperador” tenham tido vida fácil para interpretar esses personagens. Giulia Gayoso, pelo menos, não teve.
“Estudei muito. O que conhecia era raso para quem faria a personagem. Li diversos livros que falavam sobre o Brasil no século 19, e afora também. É importante entender o que o mundo atravessava e o que tinha acabado de passar, para compreender todo o contexto da história da personagem.”
A atriz, que aos 23 anos já tem uma história longa na TV, interpreta princesa Isabel, filha de dom Pedro 2º e até então sua sucessora.
Figura controversa, ela acabou não assumindo o posto, devido à Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, mas marcou seu nome na história do país assinando a abolição da escravatura.
O pesquisador Paulo Rezzutti, autor de obras sobre o período imperial como “Dom Pedro 2º - A História Não Contada”, lembra que Isabel foi a segunda mulher a governar o país. “Por muito mais tempo que a Leopoldina, inclusive. Dá mais de quatro anos se somarmos todas as regências dela”, afirma.
“Nos Tempos do Imperador” mostra a princesa desde a infância até o início da fase adulta. Giulia Gayoso entrou nessa segunda fase, substituindo a pequena Any Maia, que fez a princesa nos primeiros capítulos. Para a atriz, um papel importante, mas trabalhoso, a começar pelo figurino, que pesa quase 10 kg.
Em meio aos seus estudos, Giulia Gayoso afirma que se surpreendeu com algumas coisas que descobriu da personagem, principalmente sobre sua batalha para engravidar. “A perda da sua primeira filha, a forma trágica como aconteceu, eu não fazia ideia”, recorda a atriz, se referindo à morte da filha de princesa Isabel durante o parto.
Na trama da Globo, o desejo de Isabel pela maternidade começará a ser assunto na próxima semana. Recém-casada com Gastão (Daniel Torres), ela deve retornar ao Brasil nos próximos dias, após uma temporada de lua de mel na Europa. E trará o assunto à tona antes que o marido siga para a Guerra do Paraguai.
Após estudos sobre a princesa e a conclusão das gravações, Giulia Gayoso afirma concordar com as avaliações de que sua personagem é “uma figura extremamente controversa”. Uma das questões é a própria escravidão, já que há relatos de que a princesa foi muitas vezes omissa e até debochada em relação ao sofrimento negro.
“Acredito que meu sentimento se estabeleça nesse lugar de incógnita, também”, afirma a atriz. “Até hoje não compreendi diversas atitudes de Isabel, e não acredito que seja algo que consigamos fazer, e nem que eu pretenda. O que sei é que, como sociedade, podemos batalhar para compreender o hoje e o que o passado nos ensinou.”
Paulistana em solo carioca
Paulistana, Giulia Gayoso mora atualmente no Rio de Janeiro ou “na estrada entre o Rio e São Paulo”, como costuma brincar. Começou a carreira cedo com campanhas publicitárias, ainda criança. Fez teatro e chegou a se forma dubladora. Seu primeiro filme foi “Onde Andará Dulce Veiga?” (2008) e fez várias pequenas participações na TV.
Mas foi em “Malhação - Pro Dia Nascer Feliz” (Globo, 2016) que a atriz ganhou um personagem fixo e uma legião de fãs. “Tem alguns
que me acompanham desde àquela época, é um carinho único”, afirma a atriz, que diz ter uma relação tranquila com os fãs e com as redes sociais. “Naturalmente, construí uma relação super descontraída”.
“Nos Tempos do Imperador”, no entanto, foi seu trabalho mais importante e mais complexo, já que foi gravado, em sua maior parte, durante a pandemia. Giulia Gayoso conta que foi um período de sentimentos mistos. Se de um lado havia o medo da doença, do outro havia o alívio por estar ativa mesmo num momento tão incerto.
“Mas, com os protocolos e testes realizados quase que diariamente, abriu-se um espaço para o alívio e alegria de ter a oportunidade de trabalhar e conviver com pessoas que estavam submetidas aos mesmos protocolos que eu. Dávamos risada, dividíamos aflições, nos acolhíamos. Fez parte de um grande processo de descoberta do novo”, diz.