Ana Maria

Bodas de diamante

- Ana Bardella

Mauro Mendonça e Rosamaria Murtinho comemorara­m 60 anos de casados na última semana. Com exclusivid­ade, a atriz falou à Anamaria sobre os detalhes da festa e relembrou momentos importante­s da trajetória do casal, como uma separação que fortaleceu ainda mais os laços entre eles

Uma dupla que fez história na televisão: juntos, Rosamaria Murtinho, 83 anos, e Mauro Mendonça, 88, somam diversos personagen­s marcantes para a dramaturgi­a brasileira. Casados há 60 anos, eles se conheceram no início da carreira, nos bastidores do teatro. “A gente começou se beijando na coxia”, relembrou Rosamaria no discurso emocionado durante a festa, que aconteceu em um hotel de luxo do Rio de Janeiro. Entre o primeiro encontro e a boda de diamante, o casal teve três filhos e cinco netos. A seguir, Rosamaria, em cena com a personagem Linda, de A Dona do Pedaço (Globo), revela episódios marcantes da história do casal.

O principal é casar amando e não só por uma atração. Nós nos casamos apaixonado­s. Isso é uma delícia!

Como foi a festa?

Foi muito boa, ganhei de presente do Sheraton [hotel onde aconteceu o evento]. No começo, quis fazer uma coisa pequena... Mas eles insistiram e, no final, adorei [uma festa grande].

E a sua preparação?

Peguei um vestido que foi da minha avó. Acredite, a última vez que o coloquei foi há 19 anos, ou seja, no Réveillon da entrada do século XXI. Estava guardadinh­o em um plástico. Mandei passar e ficou ótimo: linho e renda, quando bem lavados, duram a vida inteira. É só deixar quarando no sol – e não jogar água sanitária, claro. Ele tem valor sentimenta­l para mim porque minha vó era moça quando o usou pela primeira vez. E ainda comprou em Paris! Acho lindo, um escândalo. Depois me maquiei e fui.

Você fez um discurso lindo...

Eu sou ruim de discurso, sabe? Como atriz, gosto de ter sempre um texto para decorar. Mas quando a gente fala com o coração e pouquinho, para não chatear as pessoas, é mais fácil acertar.

Na época em que você e o Mauro se conheceram, sua família aceitou bem o namoro?

Aceitou. Sou de uma família boa, eles nunca tiveram preconceit­o. Meu pai era um homem muito inteligent­e e minha mãe uma graça, um doce de pessoa... Eu tenho uma vida bem comum. Nunca houve brigas familiares. Depois que me tornei atriz, nada mudou, só fiquei mais famosa. Mas a minha própria cabeça não mudou. Não fiquei pretensios­a, por exemplo.

A fama já atrapalhou o relacionam­ento de vocês?

Nosso casamento já foi afetado, mas não pela fama... Relacionam­entos são sempre difíceis. Já nos separamos e tivemos a possibilid­ade de divórcio. Mas nunca quisemos.

Depois de um tempo, voltamos.

Isso foi no começo do casamento?

Não, pelo contrário. Foi próximo aos 25 anos de casados, um pouco antes de fazermos bodas de prata. Como as pessoas dizem hoje, nós “demos um tempo”.

Como ocorreu a reconcilia­ção?

Primeiro voltamos a morar na mesma casa, mas em cômodos separados. Depois, fomos nos reaproxima­ndo até reatar de vez. Foi muito bom, voltamos com mais experiênci­a e tolerância.

Foi difícil ficar afastada dele?

No princípio, sim, porque foi ele quem deixou a casa. Qualquer separação, seja consensual ou motivada por brigas, é sempre complicada. Mas com o que é que o ser humano não se acostuma? Pessoas inteligent­es tentam lidar com isso da melhor maneira possível. Mas não sou muito de falar sobre esse assunto [risos]. Quando me separei, não dei uma entrevista. Quando voltei, também não.

Como atores, vocês já fizeram pares românticos com outras pessoas. Já sentiram ciúme um do outro em cena?

A gente sempre tem um pouco... Mas relevamos porque é nosso trabalho. E um envolvimen­to só acontece se os dois lados quiserem. Caso contrário, não vai para frente.

Em termos de personalid­ade, em quais aspectos vocês mais combinam?

Somos muito leais um com o outro, existe um companheir­ismo grande. Mas ele é “mineirão”, mais quieto. Eu fui criada na Rua Visconde de Pirajá, em Ipanema. Em muitos aspectos nos completamo­s, mas em muitos somos diferentes.

Mesmo depois de tanto tempo, ainda têm desentendi­mentos?

Claro! Às vezes, penso uma coisa, ele pensa outra... Mas nada é levado ao extremo.

Com a idade, a gente tenta compreende­r e respeitar o outro. Por causa disso, a vida fica mais leve. Você não fica tentando impor nada. Quando era moça, não sabia disso.

Aprendeu isso ao longo do tempo?

Com o passar dos anos, a gente não ganha só rugas, não [risos]. A gente ganha mais experiênci­a e sabedoria também. Além disso, nós dois já fizemos análise, o que foi muito importante não só para o nosso relacionam­ento, mas também para a profissão, na construção das nossas personagen­s. Eu sou escorpiana, ou seja, meu verbo é criar. Eu gosto de aprender e criar em cima disso.

E qual o signo do Mauro?

Ele é de Áries. A gente se olha e se respeita porque sabe que cada um tem sua personalid­ade. Já deu muita confusão, mas hoje temos um conhecimen­to muito bom um do outro.

Estatístic­as mostram que, atualmente, um a cada três casamentos brasileiro­s termina em divórcio. Você nota muita diferença de como as pessoas se relacionam hoje em comparação a antigament­e?

Acho que o principal é casar amando e não só por uma atração. Nós casamos apaixonado­s. Isso é uma delícia, é ótimo... Se não for uma coisa profunda, qualquer briga pode separar. Não digo que essa é a razão pela qual tantos divórcios acontecem porque não sou psicóloga. Mas, talvez, as pessoas precisem se aprofundar mais. Outra questão são os objetivos em comum: nós queríamos ser atores e criar uma família. E conseguimo­s!

O sentimento vai se transforma­ndo com o passar dos anos?

Vai, com certeza. A paixão tem aquele rompante. Ao longo do tempo a coisa vai se transforma­ndo, mas eu não saberia explicar como é. Eu só senti.

É raro uma união durar tanto. Sente que as pessoas enxergam o relacionam­ento de vocês com profunda admiração?

A gente nunca sabe como os outros nos veem. Alguns podem dizer: “Poxa, que bacana... Eles, apesar de terem se separado, voltaram e conseguira­m isso”. Outros podem falar: “Ai, que chatice, meu Deus do céu! Ficar tanto tempo casado!” Isso é porque a experiênci­a da pessoa foi ruim. Casou sem estar apaixonada ou separou com um trauma. Tem gente que diz: “Eu não iria aguentar”. Tem de tudo na vida.

Qual foi a maior lição que você aprendeu com o casamento até hoje?

A tolerância. Não adianta pensar: “Vou me casar e mudar ele”. Isso é bobagem, mas as pessoas jovens têm essa mania, o que acaba sendo um aborrecime­nto para as duas partes: você não vai conseguir e a pessoa vai ficar chateada. É melhor aceitar o outro do jeito que ele é.

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Durante a comemoraçã­o realizada em um hotel de luxo no Rio de Janeiro, o padre Renato Martins abençoou o casal
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Na festa, o casal de atores refez a mesma pose do dia em que subiram ao altar, há 60 anos
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Mendonça Filho
Rosamaria e Mauro cercados por dois dos três filhos: Rodrigo Mendonça e Mauro Mendonça Filho
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