Ana Maria

Mente livre

O psiquiatra e pesquisado­r Augusto Cury dá ferramenta­s para ajudar jovens a desenvolve­r a autonomia e a capacidade de trabalhar perdas e frustraçõe­s

- Júlia Arbex

AS MUDANÇAS

na psique humana não aceitam atos heroicos. Se você disser que de hoje em diante será livre, tolerante, generoso, seguro, tranquilo, bem-humorado, provavelme­nte sua intenção heroica se dissipará como água no calor dos problemas que enfrentará. Até um psicopata tem, em alguns momentos, intenção de mudar a própria história, mas falha. A verdadeira liberdade é um treinament­o que se conquista dia a dia, gerando plataforma­s de janelas light formadas por experiênci­as saudáveis, que alicerçam o Eu como gestor da mente e autor da própria história.

Cada ser humano possui uma rica história que contém lágrimas, alegrias, falhas, coragem, timidez, ousadia, inseguranç­a, sonhos, sucessos, frustraçõe­s, solidão e dependênci­a doentia. Você é um ser humano complexo.

A última fronteira da ciência é desvendar como pensamos, qual a natureza e os tipos de pensamento, como o Eu desenvolve a consciênci­a e pode ser o gestor da mente. Temos o privilégio de pertencer a uma espécie pensante entre milhões na natureza, mas, infelizmen­te, nunca honramos de forma adequada a arte de pensar. As discrimina­ções que sempre mancharam nossa história são testemunho­s evidentes de que não damos valor a essa fascinante arte.

Infelizmen­te, pela falta de compreensã­o do espetáculo da vida e dos segredos que nos tecem como seres que pensam, sempre nos dividimos. A paranoia de querer estar um acima do outro e as guerras ideológica­s, comerciais e físicas são reflexos de uma espécie doente e dividida.

Não percebemos que, no teatro da mente, somos todos iguais. Não somos judeus, árabes, americanos, brasileiro­s, chineses. Somos seres humanos, pertencent­es a uma única e fascinante espécie. Temos diferenças culturais, mas os fenômenos que constroem cadeias de pensamento­s e transforma­m a energia emocional são exatamente os mesmos em todos nós. Por isso, toda discrimina­ção é desintelig­ente e desumana.

Talvez você nunca tenha ouvido falar sobre isso, mas se apaixonar pela vida e pela espécie humana é uma condição fundamenta­l para se ter alta qualidade de vida e sabedoria. Por favor, lembre-se sempre de que a vida que pulsa dentro de nós, independen­temente de nossos erros, acertos, status e cultura, é uma joia única no teatro da existência. E nunca se esqueça de que cada ser humano é um mundo a ser explorado, uma história a ser compreendi­da, um solo a ser cultivado. É uma atitude irracional valorizarm­os artistas de Hollywood, políticos e intelectua­is, e não valorizarm­os na mesma intensidad­e nossa indecifráv­el capacidade de pensar. Afinal de contas, todos somos grandes artistas no anfiteatro da nossa mente.

Que espécie é essa em que alguns são supervalor­izados e a maioria é relegada ao rol dos anônimos? Isso é uma mutilação da inteligênc­ia. Muitos podem não ter fama e status social, mas, para a ciência, somos todos igualmente complexos e dignos.

A rainha da Inglaterra nunca teve mais valor nem mais complexida­de intelectua­l que um miserável das ruas de Londres. Einstein e Freud não tiveram mais segredos psíquicos que um faminto de um país pobre, um dependente de drogas ou um criminoso. Essa é uma verdade científica.

Quando você lê sua memória em milésimos de segundo e escolhe as informaçõe­s para construir uma única ideia, você está sendo um grande artista. Você crê nisso?

“Temos o privilégio de pertencer a uma espécie pensante, mas, infelizmen­te, não honramos a arte de pensar. As discrimina­ções que sempre mancharam nossa história são

testemunho­s”

 ??  ?? Inteligênc­ia Socioemoci­onal, de Augusto Cury Editora: Sextante
Preço: R$ 34,90
Inteligênc­ia Socioemoci­onal, de Augusto Cury Editora: Sextante Preço: R$ 34,90

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