Sobre PRÍNCIPES e SAPOS
Dizem que algumas crianças têm amiguinhos imaginários. Eu diria que nós, adultas, vamos além: temos um príncipe encantado imaginário. Aquela pessoa que pode até ter cumprido uma temporada como namorado real, mas que, por um motivo ou por outro, não permaneceu. Porém, decidimos que ele seria o ‘perfeito’, aquele com quem a vida ia parecer um eterno comercial de margarina.
É esse ex quem ganha todos os louros da fama, mesmo que, à sua época, nem tenha sido tão príncipe ou tão encantado assim. Mas é para o aconchego dessa memória – muitas vezes inventada – que corremos cada vez que os caminhos escurecem. E o namorado imaginário não curte futebol ou sai com amigos. Também não envelhece ou tem cólica renal. Seguramente, não ronca e acorda de barba feita.
É nele que pensamos quando assistimos àquela história de amor em uma noite de inverno e o sapo que nos acompanha puxa a manta para si e dorme antes dos créditos iniciais. Ao final da sessão, estamos
chorando menos pela mensagem do filme e mais por nossa predestinação. E as músicas? Ninguém se dá conta, mas aquele ímpeto de cantar a letra que, tão descaradamente fala de nossos amores interrompidos com a interpretação de um candidato do The Voice, não é dom musical adormecido, não. Temos uma tendência de romancear o improvável, de imaginar o que teria sido “se”, deixando o tal príncipe nos perseguir a galope, a bordo do seu cavalo branco, sem dar chance nesse páreo, para que os plebeus se defendam. É uma briga desleal entre o idealizado, protegido pelas brumas do passado ou da imaginação, e aquele em carne e osso, que desfila suas imperfeições por aí.
No fundo, a gente sabe que, se tivéssemos a oportunidade de empregar o príncipe, ele seria demitido antes do período de adaptação. Porque, pensando bem, nosso currículo também não nos habilita para a vaga de princesa.
E a gente nem gosta muito disso de sapatinho de cristal com tanta liquidação dando sopa por aí.
... se tivéssemos a oportunidade de empregar o príncipe,
ele seria demitido antes
do período de adaptação. Porque, pensando bem, nosso currículo também não nos habilita para a vaga de princesa