A difícil ARTE de interpretar o outro
Aintuição é uma faculdade que nos dá pistas de uma realidade que não está muito clara. Ela pode ajudar, nos preservando de situações arriscadas ou até apontando um caminho melhor, de algo que vai dar certo. O problema é que é fácil confundir intuição com medo ou desejo. O “estou com um pressentimento de que vai acontecer algo errado esta noite e, por isso, não vou sair de casa” pode ser só uma preguiça tentando ser justificada.
Mas quando usamos a tal intuição para adivinhar o outro é que a coisa desanda de vez. Porque descobrir o que está nos bastidores de uma frase em reticências, uma meia-palavra ou um olhar enigmático pode, sim, ser o que você intui. E mais 23.548 coisas, incluindo o que a pessoa afirma ser. Por isso, na dúvida, não tente supor nada. Você pode criar uma tempestade num copo d’água. Porque a intuição, às vezes, fica sufocada por uma tendência meio suicida que temos de pensar o pior. É como um mecanismo de defesa acionado automaticamente, preparando nossos sentidos para uma frustração iminente. Sofrer querendo descobrir o que passa em uma cabeça
que não é a nossa é um exercício inútil, que demanda tempo e energia.
Mas o que fazer então?
Acreditar sem tentar espiar por detrás. Você pode ser enganado? Pode, claro que pode. Mas é o que se tem de concreto. A única maneira de acessar a caixa-preta que é o pensamento alheio é confiando no que ele diz. Porque o compromisso com o fato é de quem o profere.
E o papel do interlocutor é ouvir e traçar teorias em cima do que é dito e não do que é calado. Quando não há questionamentos ou santas inquisições, ao contrário do que possa parecer, a responsabilidade do outro em ser correto dobra. Porque ele ganha o compromisso de preservar sua confiança, sob o risco de perdêla, em um deslize, para sempre. Vira brincadeira de gente grande, cuja regra solitária é a verdade.
E a verdade é uma sementinha que gosta de ver o sol. Pode enterrar à vontade. Ela sempre dá um jeito de aparecer.
Quando usamos a tal intuição para adivinhar o outro é que a coisa desanda de vez. Porque descobrir o que está nos bastidores de uma frase em reticências pode, sim, ser o que
você intui