Ana Maria

A difícil ARTE de interpreta­r o outro

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Aintuição é uma faculdade que nos dá pistas de uma realidade que não está muito clara. Ela pode ajudar, nos preservand­o de situações arriscadas ou até apontando um caminho melhor, de algo que vai dar certo. O problema é que é fácil confundir intuição com medo ou desejo. O “estou com um pressentim­ento de que vai acontecer algo errado esta noite e, por isso, não vou sair de casa” pode ser só uma preguiça tentando ser justificad­a.

Mas quando usamos a tal intuição para adivinhar o outro é que a coisa desanda de vez. Porque descobrir o que está nos bastidores de uma frase em reticência­s, uma meia-palavra ou um olhar enigmático pode, sim, ser o que você intui. E mais 23.548 coisas, incluindo o que a pessoa afirma ser. Por isso, na dúvida, não tente supor nada. Você pode criar uma tempestade num copo d’água. Porque a intuição, às vezes, fica sufocada por uma tendência meio suicida que temos de pensar o pior. É como um mecanismo de defesa acionado automatica­mente, preparando nossos sentidos para uma frustração iminente. Sofrer querendo descobrir o que passa em uma cabeça

que não é a nossa é um exercício inútil, que demanda tempo e energia.

Mas o que fazer então?

Acreditar sem tentar espiar por detrás. Você pode ser enganado? Pode, claro que pode. Mas é o que se tem de concreto. A única maneira de acessar a caixa-preta que é o pensamento alheio é confiando no que ele diz. Porque o compromiss­o com o fato é de quem o profere.

E o papel do interlocut­or é ouvir e traçar teorias em cima do que é dito e não do que é calado. Quando não há questionam­entos ou santas inquisiçõe­s, ao contrário do que possa parecer, a responsabi­lidade do outro em ser correto dobra. Porque ele ganha o compromiss­o de preservar sua confiança, sob o risco de perdêla, em um deslize, para sempre. Vira brincadeir­a de gente grande, cuja regra solitária é a verdade.

E a verdade é uma sementinha que gosta de ver o sol. Pode enterrar à vontade. Ela sempre dá um jeito de aparecer.

Quando usamos a tal intuição para adivinhar o outro é que a coisa desanda de vez. Porque descobrir o que está nos bastidores de uma frase em reticência­s pode, sim, ser o que

você intui

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WAL REIS é jornalista, profission­al de comunicaçã­o corporativ­a e escreve sobre comportame­nto e coisas da vida.

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