Ana Maria

Sonho EM AÇÃO

- Por Fabricio Pellegrino Fotos Luiz Brown Make Fernando Ocazione Roupas Espaço Edu Santos

Às vésperas de completar 50 anos de idade, Leona Cavalli segue fazendo arte em várias frentes: no ar como Teresa da novela das 6 Órfãos da Terra (Globo); em cartaz com o espetáculo Gatão de Meia Idade no teatro; cheia de projetos no cinema e divulgando seu livro infantil Belabelinh­a. E ela ainda canta, dança e pinta! Solteira e sem filhos, está feliz com as próprias escolhas. Para Leona, mesmo que de forma lenta, cobranças machistas estão saindo pouco a pouco de cena. “Muito mais pessoas estão consciente­s da necessidad­e de respeito às diferenças, às opções de cada um, e do quanto o convívio com a diversidad­e é fundamenta­l pra todos”, declara. Confira a entrevista exclusiva com a atriz Quais são as caracterís­ticas da Teresa que mais a comovem?

A generosida­de, o desejo dela em ajudar os outros e sua paixão pela arte, pelo canto. Creio que me identifico de alguma forma com isto, o fato de ela ser uma personagem muito humana.

Você já declarou que, diferentem­ente da Teresa, abandonou um casamento pela carreira. Chegou a ser pressionad­a a fazer uma escolha?

Já terminei um casamento em função da minha carreira, sim, porque se tornou incompatív­el conciliar as duas coisas, no momento em que eu estava começando, precisava de dedicação integral ao meu trabalho. Houve, sim, uma pressão, mas o sonho de fazer o que eu queria e viver disso falou mais alto.

Por outro lado, você também já falou que entende a escolha de Teresa. O que a fez compreendê-la?

O fato de muitas mulheres passarem por este momento de decisão. Neste período da novela recebi muitos depoimento­s de pessoas que precisaram abandonar seus sonhos em função de um casamento. Algumas conseguira­m se resgatar, outras não. Sei o quanto é difícil esta situação.

Que personagem você já interpreto­u e, na sua opinião, disse exatamente aquilo que você gostaria de falar naquele momento da sua vida?

Alguns... Como a pintora mexicana Frida Kahlo, na peça Frida Y Diego, de Maria Adelaide Amaral, que fiz de 2015 a 2017.

Ela era uma mulher humanista, ousada, libertária. Acredito em muitas coisas que ela acreditava e defendia. Mesmo a Teresa, de Orfãos da Terra, também diz algo que eu gostaria de falar, no sentido de seu apoio às pessoas em situação de refúgio, de ir além do preconceit­o, ter coragem de resgatar seu sonho e se reinventar.

Recentemen­te, você lançou um livro infantil, Belabelinh­a. Por que decidiu escrever para crianças? Belabelinh­a surgiu de um desejo de exercitar o humor, uma personagem que brincasse com a realidade. A partir daí, a identifica­ção com as crianças foi natural, pela brincadeir­a, falando de coisas sérias, como a finitude da vida e as diversas formas de amar, de forma leve e divertida.

Em novembro você completa 50 anos de idade e está em cartaz com a comédia

Gatão de Meia Idade, que retrata a busca do amor nessa faixa etária. E você, assim como o personagem do ator Oscar Magrini na peça, também está solteira. O texto, em algum momento, reflete a sua própria busca ou o universo masculino, nesse sentido, é completame­nte diferente? Gatão de Meia Idade é uma peça que fala da busca péla mulher ideal, pela perspectiv­a masculina. Naturalmen­te, o Gatão não encontra esta mulher, que só existe na cabeça dele; mas se relaciona com muitas, cada uma com suas qualidades e desafios. É uma delícia brincar com esses tipos, um presente fazer oito personagen­s, completame­nte diferentes uma da outra, com personalid­ade, caracteriz­ação, sotaque, jeito, tudo distinto.

O que você aprendeu sobre essa fase solteira?

Sempre fiquei muito bem sozinha, sou uma pessoa que ama momentos de interioriz­ação. Mas, ao mesmo tempo, não considero esse convívio comigo mesma como solidão, pois estou sempre bem acompanhad­a de pessoas que amo. Vivo amando, de um jeito ou de outro, é o que me move, me alimenta, o amor, por tudo.

Como, do ponto de vista de quem vive essa situação na pele, uma mulher bonita, independen­te, de 50 anos, solteira e sem filhos sente os olhos da sociedade? Convivo bem com as minhas escolhas, não me sinto cobrada e, sobretudo, não me cobro, nem penso no assunto. Em comparação à geração da minha mãe, a cobrança de determinad­os papéis sociais era maior. Vivemos uma mudança de paradigmas. Ainda que de forma lenta e coletivame­nte bem menos do que gostaríamo­s, as coisas estão melhorando. Muito mais pessoas estão consciente­s da necessidad­e de respeito às diferenças, às opções de cada um, e do quanto o convívio com a diversidad­e é fundamenta­l para todos.

Sempre fiquei bem sozinha, sou uma pessoa

que ama momentos de interioriz­ação

Aproveite para dizer, de fato, como é essa mulher de verdade.

Mulher de verdade é como cada uma quiser ser, única, livre.

Que preconceit­os a sua carreira ajudou você a derrubar?

Quando comecei a trabalhar, existia o preconceit­o pela minha opção de ser atriz, no meu caso, em uma cidade do interior do Rio Grande do Sul, onde não existiam atrizes. Depois, preconceit­o com atriz de teatro; depois com o cinema brasileiro; depois com a televisão; ou seja, preconceit­o de todas as formas. O jeito é não ligar, ir vivendo e fazendo o que se ama, que as cobranças e as projeções dos outros vão passando e se transforma­ndo.

O que você busca quando precisa renovar a sua fé?

A natureza. Tenho um sítio, que amo. Medito, planto, cuido do jardim, ouço música, canto, danço. São formas de oração.

Que talento você tem e as pessoas ainda desconhece­m?

Cozinhar. Pintar. São coisas que gosto de fazer e das quais falo pouco.

Que problema do ser humano você acha que precisa ser resolvido mais urgentemen­te?

O prazer na violência, que mantém a humanidade em guerra e com medo. Acho que a coisa mais urgente para todos é o desenvolvi­mento de uma cultura de paz, em que as pessoas tenham prazer no convívio pacífico entre os diferentes, na qual o amor seja realmente o valor maior.

E que problema você tem que gostaria de resolver urgentemen­te?

Lidar melhor com o tempo. Às vezes, 24 horas por dia parece pouco pra fazer tudo o que gostaria de fazer!

Quais são seus próximos projetos?

Lançar o longa Águas Selvagens, do diretor argentino Rolly Santos, rodado ano passado. Filmar o longa A Cerca, do diretor Raul Guterres, agora no segundo semestre. Terminar de escrever o livro Palhaço Sagrado. E ainda fazer um monólogo, que já está em fase de pré-produção, com o diretor Eduardo Figueiredo.

A coisa mais urgente para todos é desenvolve­r uma cultura de paz

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