História de superação
A obra aborda encontros, desencontros e coragem para enfrentar os inúmeros imprevistos da vida, com casais cativantes e inspiradoras cenas de sexo
PRESENTE – SÃO PAULO.
A mão é enorme, morena e quente. Cobre a minha barriga. O ritmo suave da oscilação de um peito adormecido continua me embalando. O calor da sua respiração toca o meu pescoço e permaneço imóvel. Fecho os olhos e saboreio as recordações desta noite, até precisar vê-lo. Giro o corpo, toda vagarosa, e fico frente a frente com ele. Observo o seu rosto com atenção e calma, pois ele sempre teve a fantástica capacidade de dormir profundamente, mas fico triste por não conseguir admirar as duas características físicas de que mais gosto nele: olhos azuis como água de mar e um sorriso perfeito.
Ele raramente sorri, e ainda mais raro é o seu riso, mas quando acontece é marcante por ser tão lindo. E esta noite sorriu quando me disse que se sentia feliz por estar comigo. Que estava sendo a melhor noite dos últimos dez anos. Sorriu quando me olhou nos olhos e me chamou de Flor. Meu Leo. Passo os dedos pelo seu cabelo preto, contornando em seguida as linhas profundas que surgiram no seu rosto nesta década em que não nos vimos. Elas não existiam quando o vi pela última vez, mas gosto delas. Tornam-no mais humano e frágil. Agradeço por perceber que a idade conseguiu tocar em alguém que caminha na Terra como se fosse de outra espécie.
Tomando coragem, vou ficando mais exploradora e toco no que posso. Os braços estão mais fortes e o corpo mais largo, como se tivesse crescido, o que parece impossível; contudo, o cheiro, o seu maravilhoso cheiro, é igual e continua atraindo o meu corpo como se eu não tivesse opção. O Leonardo é, sem dúvida, o homem mais lindo que já conheci, porém eu me apaixonei perdidamente quando percebi quem ele era no seu âmago e não quem se apresentava ao mundo. A beleza física é estonteante e um atrativo para qualquer mulher, mas, depois do que confessou durante as longas horas em que o seu corpo procurava o meu, entendi que poucas foram as que conseguiram ver além da beleza de Adônis.
Ao observá-lo com tanta atenção me pergunto se também notou a metamorfose que aconteceu comigo. Não sou a mesma Rafaela. Física e mentalmente me modifiquei muito. Hoje sou uma mulher madura, sofisticada, experiente e séria. Não sorrio com a naturalidade do passado e deixei para trás aquela inocência que, por vezes, me faz questionar como pude ser tão ingênua. Como fui capaz de acreditar que o mundo tinha mais pessoas boas do que más e que bastava sermos bons para recebermos bondade em troca. Hoje sei que não é verdade.
O meu corpo também mudou, e os homens notam quando o peito não está tão firme e a barriga não é mais reta, porém eu me amo da forma como aprendi a ser. Sei que não sou aquela garota de 22 anos com cabelo solto ao sabor do vento e sem um pingo de maquiagem, mas o meu corpo é amado por mim porque tem aguentado cada facada que a vida me dá. Pode não ter a suavidade da seda, que outrora nem apreciava tanto assim, mas tem a robustez necessária para enfrentar os furacões que bateram de frente em mim. Quando ele se move, paro até voltar a ficar quieto. E é nesse movimento que percebo que irá acordar, e eu não vou querer reviver mais nada. Não quero escutá-lo pedindo perdão como fez sempre que o seu corpo buscava o meu. Não, não quero. De verdade. “Flor, tive tantas saudades. Fui um fantasma durante muitos anos, e hoje respiro pela primeira vez. Perdoa-me.”
“O meu corpo também mudou. Sei que não sou aquela garota de 22 anos, mas meu corpo é amado por mim porque tem aguentado cada facada que a vida me dá”