Ana Maria

Queria ter a IDADE de hoje e a MATURIDADE dos 18

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Eu sei que a frase usual não é essa. Mas sabem o que seria uma pessoa com a bagagem dos 50 em um corpo de 18? Um adolescent­e chato. Porque a experiênci­a acumulada com os anos não cabe em um corpo jovem. A responsabi­lidade, que chega comumente com a idade, não teria me permitido sair de quarta a domingo, dormir três horas e passar metade das aulas cochilando atrás dos óculos escuros. “Você lutou tanto para entrar na faculdade”, imporia a tal maturidade. E eu não descobriri­a, na prática, que tequila, vinho e cerveja não combinam. Não andaria com a amiga bagaceira, que era má companhia e, sem ela, não fabricaria memórias que me fazem gargalhar até hoje. Não me apaixonari­a por pessoas erradas e, por conta disso, nunca encontrari­a as certas.

Com pouca idade não se pensa tanto e se avança sem olhar para os lados. E não era o corpo mais leve que te movia, mas sua consciênci­a que não pesava um grão de areia.

“Em meia hora passamos para te buscar. Vamos para a praia. Joga qualquer coisa na mochila.” E, em

meia hora, você tinha promovido a terceira guerra mundial no seu quarto, jurado seu irmão de morte pela mala estragada, pedido a emancipaçã­o para sua mãe e lavado a franja porque não dava para ensaboar o cabelo todo. E ia. E esquecia o biquíni, mas levava sapatos para três semanas. E dava tudo certo, mesmo dando errado. O excesso de planejamen­to engessa. Projetar consequênc­ias faz a gente estacionar e, com o tempo, a roda fica quadrada e não se vai mais a lugar algum. É preciso arrastar pela vida um pouco daquela inconsequê­ncia da pouca idade para nossa trajetória não se resumir a um parágrafo na conversa pelo Whatsapp, quando aquele amigo de infância pergunta o que você tem feito: “Ah, eu me formei. E arranjei um emprego bacana. Depois casei. E tive os gêmeos. E cuido dos gêmeos porque eles precisam crescer saudáveis para viver até mais ou menos os 18 anos, quando se tornarão adultos responsáve­is e cheios de maturidade”.

Projetar consequênc­ias faz a gente estacionar e, com o tempo, a roda fica quadrada e não se vai mais a lugar algum. É preciso arrastar pela vida um pouco daquela inconsequê­ncia da pouca idade...

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 ??  ?? WAL REIS é jornalista, profission­al de comunicaçã­o corporativ­a e escreve sobre comportame­nto e coisas da vida.
WAL REIS é jornalista, profission­al de comunicaçã­o corporativ­a e escreve sobre comportame­nto e coisas da vida.

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