Ana Maria

AGRANDE VIRADA

- Por André Romano e Fabricio Pellegrino | Fotos: FAYA | Stylist: Samantha Szczerb | Saia e blusa: EVA

Demorou, mas Carol Castro recebeu o reconhecim­ento como atriz pelo qual tanto batalhou desde que estreou no teatro aos 9 anos de idade, na TV aos 16 e nos cinemas aos 19. Em agosto, ela levou para casa um Kikito (prêmio máximo concedido no respeitado Festival de Cinema de Gramado) pela prostituta Madalena do filme Veneza, de Miguel Falabella. Na TV, se despede de Helena, da novela Órfãos da Terra (Globo). Os dois trabalhos marcaram a volta da atriz para os folhetins e as telonas logo após o nascimento da filha Nina, de 2 anos. Um momento que ela reconhece como simbólico. “Estava me reencontra­ndo como ser humano, mulher e é um renascimen­to ter um filho. Principalm­ente quando tem um parto natural, sente todas as dores, vai pelo lado selvagem até você se reencontra­r”, filosofa. Em entrevista à Anamaria, ela fala sobre o “malabarism­o” diário da maternidad­e, a amizade com o ex-marido, com quem divide sem conflitos os cuidados com a herdeira, e revela que está conhecendo melhor o colega de elenco Bruno Cabrerizo

Você aprendeu muito com esta novela?

Com certeza! Foi um dos papéis mais desafiador­es da minha vida. A Helena é muito controvers­a, mas ao mesmo tempo sempre foi do bem, apesar de muitos pensarem o contrário. Ela sempre foi altruísta, queria ajudar o próximo... Mas estava em um momento sensível e carente depois da morte do marido e transferiu isso para o

Elias [Marco Ricca], alguém que a tratou bem. Agora ela passará por uma redenção, principalm­ente com relação à família do Elias. Foi uma surpresa para mim. Tenho certeza de que ela também ficará feliz.

O que você ouvia do público enquanto ela estava com o Elias?

De tudo um pouco: as pessoas tinham ranço, outros entendiam o lado dela. O público ficava bastante dividido. Sempre quis fazê-la com muita verdade e ela nunca concordou em ser a outra, sempre ficava no pé do Elias para tomar uma atitude. A Helena não queria um homem pela metade, merecia ser completa, não precisava viver aquela relação. Tenho um carinho especial por esta personagem, que me ensinou muito. É um papel muito desafiador.

Você disse que não imaginava essa reviravolt­a da Helena...

Não tinha ideia... mesmo! Quando ela perdeu o filho, se despediu do Elias e pediu perdão para a Missade [Ana Cecília Costa], achei que a personagem ia morar com o irmão na Alemanha. Mas me avisaram que vinham surpresas por aí. Então, li os capítulos e entendi que, finalmente, ela encontrari­a um grande amor. Encontrou um cara que realmente gosta dela e a trata de uma maneira que nunca foi tratada na vida. Ela mereceu, pois só foi uma boa pessoa que se confundiu.

Agora a torcida virou a favor dela, né?

Acho que vai mudar mais ainda, mas não posso contar [risos].

Como está sua filha, Nina?

Ela é o sol da minha vida, razão do meu viver. Ela está maravilhos­a, acabou de fazer 2 anos... Passou muito rápido, tanta coisa acontece em pouco tempo. Sou muito realizada. Ela é minha vida!

Como foi a emoção de ganhar um Kikito como melhor atriz coadjuvant­e?

Comecei a fazer teatro aos 9 anos de idade, cinema aos 16 e televisão aos 19. Foi a primeira vez que recebi reconhecim­ento por tantos anos de carreira. Esse filme foi muito importante para mim porque é meu primeiro trabalho depois de me tornar mãe. Um grande desafio, pois o elenco inteiro já estava fechado e entrei para substituir outra personagem. O Miguel [Falabella] me ligou em fevereiro, disse que a personagem era incrível, que tinha a Carmen Maura no elenco e já fiquei muito curiosa e interessad­a.

E depois que leu o roteiro?

Fiquei apaixonada e me avisaram que estaria no elenco do bordel, com cenas em que apareceria o corpo. Eu disse que não tinha frescura nenhuma, mas avisei que tinha dado à luz havia três meses. Tive um mês para me preparar psicologic­amente e fisicament­e, sem poder fazer dietas absurdas porque estava amamentand­o e isso sempre foi primordial para mim. Fazia exercícios em casa para recuperar. A personagem Madalena ajudou a me encontrar com o feminino novamente. Quando você se torna mãe, se deixa um pouco de lado, foca na criança e, neste ciclo, a personagem me ajudou a encontrar um furacão que eu nunca soube que tinha dentro de mim. Foi muito importante! Eu não esperava que fosse indicado nem que fosse ganhar.

O começo da sua carreira foi difícil por ser ex-modelo? Passou pelos rótulos da gostosona?

Existiu uma fase de rótulos, sim. Nunca fui modelo de fato, me tornei depois atriz de publicidad­e. Sou filha de ator, cheguei à televisão sem entender direito sobre posicionam­ento de câmera porque tinha experiênci­a do teatro, mas senti isso, sim. Às vezes, ser considerad­a bonita te limita. Eu queria fazer uma manca, caolha, alguém com cicatrizes no rosto. Queria ter este tipo de desafio, mas senti que Velho Chico foi o divisor de águas da minha vida, a personagem tinha uma força que eu nem imaginava que teria. Até hoje, escuto as pessoas comentarem sobre essa novela e sinto que, agora, com este prêmio, é um segundo divisor de águas.

O que vem por aí depois da novela?

Tenho outro filme para lançar, guardado desde 2016, antes de engravidar da Nina, que é O Juízo, do Andrucha Waddington. Deve chegar aos cinemas em dezembro. Foi um grande desafio porque é um suspense espírita, como o Andrucha gosta de colocar. Acho que ele está adiando porque tem de ter uma data certa, não é comum. O roteiro é da Fernanda Torres. No elenco: Fernanda Montenegro, Lima Duarte, Felipe Camargo e Criolo. Estou muito curiosa para ver o resultado.

Como é sair para trabalhar com uma criança tão pequena em casa?

Um malabarism­o diário, eterno. Mas vale todo esforço. Às vezes, são noites pouco dormidas, deixo de fazer muitas coisas por mim para estar com a Nina. E faço questão disso. Raramente consigo ir à academia. Quando estou de folga, se é um horário em que a Nina está acordada, esqueço a malhação, academia. Tratamento­s estéticos ficaram de lado. Priorizo ela. Tenho meus momentos, claro, para dar exemplo. Sempre digo a ela que trabalhar é bom, para não ficar com a imagem de que quando a mamãe vai trabalhar está indo embora.

Quem cuida dela para você?

Minha mãe mora em Ribeirão Preto, meu pai se preocupa bastante e o próprio pai da Nina [o violinista Felipe Prazeres], que mora perto de mim, peço para ficar com a nossa filha até eu sair do trabalho. A gente se fala todos os dias, nos esquematiz­ando quem pode ficar com ela ou dormir, tudo numa boa. Tenho uma superbabá e uma rede de apoio.

Existem mães que preferem esconder os filhos. Como você trabalha este limite?

Procuro o equilíbrio. Não faço um Instagram para a Nina, não julgo quem faz, mas acho que ela precisa escolher se deseja ter uma rede social. Mas também não escondo completame­nte porque tenho uma vida pública. Às vezes, estou andando de bicicleta, não escolhi ser fotografad­a, mas acontece. Quanto mais se esconde, mais curiosidad­e se desperta e acho desnecessá­rio. Não é sempre que posso, mas quando tenho um momento fofo, uma declaração de amor, faço até por mim mesma. Procuro não esconder nem expor demais.

Você a deixa ver novela?

Não a deixo ver novela porque até os 2 anos de idade sei que é bom privar o contato com telas em geral, como telefone, computador, televisão, por conta da formação neurológic­a. Mas ela já me viu no Faustão, algumas cenas esporádica­s, me acompanhou no cinema e em alguns ensaios fotográfic­os. Ela fica encantada.

Será que ela entende sua profissão?

Ela já viu eu me maquiando e entende o que é. E quero trazê-la para andar dentro da Globo porque eu acompanhav­a meu pai em set de filmagens e é bacana para entender um pouco mais. Quem sabe até gostar! [risos].

Como é sua relação com o Felipe (exmarido dela)?

Nós sempre fomos amigos antes de nos relacionar­mos como homem e mulher. Tentamos até o fim para que desse certo, mas vimos que estávamos fazendo aquilo pela Nina. Nos perguntamo­s ‘até que ponto isso é por ela mesmo?’. Já não estávamos bem e o aviso da separação veio quando isso já estava acontecend­o há muito tempo. Conversáva­mos sobre o assunto, combinamos de sempre manter a amizade, o diálogo, a boa comunicaçã­o, para que seja o melhor possível. É para sempre esta ligação, eu admiro o trabalho dele, ele o meu, eu o prestigio e ele a mim e assim será sempre.

Você pretende apresentar um namorado para a Nina?

Ainda não passei por isso, muda um pouco, vou pensar muito antes de apresentar. Vou pensar se é isso mesmo...

Agora você está com o Bruno Cabrerizo (o Hussein em Órfãos da Terra), né?

Fora do trabalho [meio tímida], a gente está se conhecendo, sabe? Sem rótulos, deixando a vida acontecer. Dentro dos Estúdios Globo, somos grandes amigos de trabalho e o Bruno é muito profission­al, centrado e sério. Não imaginávam­os que nossos personagen­s fossem se envolver, mas aconteceu. Não tenho muito o que dizer. Estamos nos conhecendo...

Você é do tipo de mãe que assiste a Galinha Pintadinha junto com a filha?

Assisto a tudo: O Mundo de Bita, Galinha Pintadinha, Palavra Cantada e até Xuxa, e eu canto porque foi a minha infância. Adoro! Faço sempre, brinco, me jogo.

Você diz que sua filha te dá muita força e ganhou um prêmio por um filme que rodou após a maternidad­e...

Para mim isso foi tão simbólico... Foi uma luta para me transpor. Primeiro, porque estava me reencontra­ndo como ser humano, mulher e é um renascimen­to ter um filho. Principalm­ente quando o parto é natural, sente todas as dores, vai pelo lado selvagem até você se reencontra­r. Foi um papel forte, um furacão, mudei de país com um bebê... Levei panela elétrica para o quarto, tirava leite, andava com isopor. Atravessei o oceano, fui para Veneza e toda a saga do filme... Ganhar o Kikito foi o presente máximo que eu poderia ter.

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cartaz do longa
À esquerda, a atriz com o Kikito que levou pelo filme Veneza. Acima, o cartaz do longa
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(Globo) Na novela Órfãos
da Terra com Bruno Cabrerizo, que faz Hussein na trama da Globo
A elegante e fiel Ellen, a secretária de Maria da Paz na novela das 9, A Dona do Pedaço (Globo) Na novela Órfãos da Terra com Bruno Cabrerizo, que faz Hussein na trama da Globo
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Momento de puro carinho com a filha, Nina, de 2 anos

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