Ana Maria

AMIGOS que vão pra nunca mais. E outros que VOLTAM

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Écomum nos compadecer­mos de amigos que ficaram nas fotografia­s de antigament­e. Pessoas que não envelhecem com a gente. Moram em cenários do passado e – na maioria dos casos – é lá que devem permanecer.

Isso porque arrastar amigos que fizemos na infância, como uma espécie de patrimônio pessoal, pode entupir a capacidade de atrair os novos. Acredito numa lógica que envia amigos certos para cada fase da vida. Imagine que você e um amigo iniciam uma maratona juntos. Em certa fase da corrida, o caminho se bifurca e seu parceiro decide seguir pela sombra. Você opta pelo sol, assim como outros que, até então, nem tinham sido notados. Naquele momento, o grupo que corre por estrada aberta tem mais afinidade com você que seu amigo da largada. E isso não é bom nem mau: é natural. Mudamos o tempo todo. Portanto, é esperado que as pessoas ao nosso redor também girem. Sabe aquele vestido lindo de babado azul-turquesa que fez sucesso no casamento de sua prima nos anos 80? Provavelme­nte hoje você não usaria mais. E não apenas porque saiu de moda ou seu corpo mudou, mas porque hoje você nem gosta tanto assim de azul-turquesa ou de babados.

Entender que os melhores amigos foram melhores para determinad­a fase é compreensã­o que evita se alimentar

... arrastar amigos que fizemos na infância pode entupir a capacidade de atrair os novos. Acredito numa lógica

que envia amigos certos para cada fase

da vida

do passado. Eles a consolaram quando chorou por um amor platônico aos 18 anos? Talvez não seriam tão eficientes para lidar com seus problemas mais robustos de hoje.

Mas há os que permanecem. E claro: é uma delícia ter ao alcance aqueles que conhecem nossas famílias, entendem nossas caras e bocas, e gargalham relembrand­o fatos do passado, que só fazem rir você e ele porque foram os protagonis­tas da história. História que, às vezes, pega o trem de volta e faz regressar o amigo que pegou a bifurcação lá atrás. Chegou de cabelos brancos, com o rosto cansado da viagem e pronto para saber o que perdeu durante a ausência. Portanto, deixe ir: o que precisa voltar, sempre desembarca na próxima estação.

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 ??  ?? WAL REIS é jornalista, profission­al de comunicaçã­o corporativ­a e escreve sobre comportame­nto e coisas da vida.
WAL REIS é jornalista, profission­al de comunicaçã­o corporativ­a e escreve sobre comportame­nto e coisas da vida.

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