Ana Maria

EM TODAS AS CAIXAS

- Por André Romano | Fotos e beleza Vinícius Mochizuki

Mariana Santos, no ar como a Carla de Malhação – Toda Forma de Amar (Globo), sempre lembrada por suas personagen­s de comédia, mostra com a atual personagem na TV que consegue trafegar por diversos gêneros de atuação. E não faz isso apenas na televisão. Na peça Só de Amor..., que encerrou a temporada há poucas semanas, ela também transitou entre o humor e o papo sério. À Anamaria, ela falou sobre a importânci­a para o artista de não se fixar em apenas uma prateleira, revelou que sofre de pânico – mas está tudo sob controle – e revela o que considera mais importante: fidelidade ou lealdade?

A Carla ficou dividida entre o Madureira (Henri Castelli) e o Major (Julio Machado). O que vai acontecer?

Ela assumiu que está apaixonada pelo Major. E contará tudo para o Madureira. Gravamos uma cena linda em que a Carla foi muito honesta com ele e, finalmente, se portaram como adultos. Apesar de mãezona e madura em outros aspectos, a Carla estava feito adolescent­e no quesito amor. Ela não entendia a paixão que sentia e, claro, não queria enganar o Madureira. Embora se culpe muito, abriu o jogo com Madureira sobre o Marco Rodrigo.

O público cobrava o desenrolar desse relacionam­ento?

Sim. Na internet, ficam cobrando: “Como vai ser isso? Eles se gostam! Desenrola isso!”. Mas tem muita gente que também torce pelo Madureira, então é meio a meio. A tendência, nesse momento, é a Carla ficar com o Major.

E torce para sua personagem ficar com alguém?

Torço para os personagen­s serem bons e terem várias cenas boas [risos]. As cenas que gravamos agora foram incríveis, de conversas maduras e até sofrimento. Afinal, terminar com alguém que você ama, e porque ela ama também, não é fácil. Todos esses sentimento­s foram trabalhado­s, fiquei feliz.

A Carla se dá bem com os jovens, então, fica tudo mais fácil, né?

Sim, a Carla se dá bem com todos os adolescent­es.

Ela é uma mãezona que entende, ajuda e tem uma relação boa com a Anjinha [Caroline Dallarosa]. Não sei o que vai acontecer quando ela começar a namorar o Marco Rodrigo e como essas cenas de família vão se dar, mas acho que será bem divertido.

O público das redes sociais que acompanha Malhação também vai ao teatro assistir à sua peça Só de Amor..., que está em cartaz em São Paulo?

Todo mundo que vai ao espetáculo diz que está assistindo, pergunta do Major e do Madureira... As pessoas gostam de um romance em novela, né?! Mas nem todo mundo que vai ao teatro vê TV, ou vice-versa. As pessoas recebem muito bem o espetáculo e entrego uma proposta completame­nte diferente na peça. Com isso, rola uma surpresa boa, porque tem gente que sai do espetáculo pensando “que interessan­te, não sabia o que ia acontecer com a Mariana em cena...”.

E você vem do humor. É uma mudança total...

Mas a peça tem um humor também, só é outra pegada. Como artistas,

temos várias possibilid­ades.

Você mora em São Paulo e grava no Rio. O pessoal para pra falar com você durante as viagens?

Fala e é ótimo porque adoro conversar. A gente trabalha para isso. Às vezes, estou perdendo um voo, chorando, sentada, atrasada, enfim, vem alguém tirar uma foto e tem uma lágrima sua caindo, você enxuga, a pessoa vem, te abraça e tira a foto. As pessoas não sabem o que está acontecend­o com você – e nem têm por que saber.

Acredita que a peça Só de Amor... cumpriu a função de mostrar para as pessoas o que é depressão e ansiedade?

A peça é sobre sensações, o fluxo de pensamento­s... Então, ela é toda recortada em fluxos, é para ser sentida. Eu toco no assunto, mas não falo diretament­e que a pessoa tem isso. Em várias cenas, quem se aprofunda, entende o espetáculo, está ligado na história, sente tudo o que está acontecend­o e se identifica.

Ele tem relação com os nossos familiares, amor-próprio... A personagem quer ser amada, o que acontece com a maioria de nós. O artista, em geral, tem muito problema de aceitação.

Ele quer ser amado o tempo inteiro e precisamos trabalhar isso em nós.

Você e a Ingrid Guimarães estão no ar em telenovela­s. Isso mostra que atrizes de humor têm outras faces, né?

Isso é muito bom. Fazer humor é muito difícil, mais difícil do que fazer drama, mas é bom não ficar em uma caixa só. Quando tiram você do lugar-comum, e já sabem que vai se entregar e fazer bem, lhe dão outras possibilid­ades. Isso é muito bom! Eu estou amando fazer Malhação.

E gosta de fazer parte desse triângulo amoroso da novela?

Estou adorando fazer a Carla. Ela é tão legal, maravilhos­a, tem tanta coisa boa nela. E também esses desvios, ela gosta de um, gosta de outro, ela é humana. É legal humanizar os sentimento­s.

E qual o retorno do público sobre esse triângulo amoroso?

As pessoas ficam muito divididas. Tem quem goste e quem não goste. E o grande barato é saber que na sua vida vão passar pessoas interessan­tes, caso esteja aberto. Corremos o risco de nos apaixonarm­os por outras pessoas enquanto estamos numa relação, como a Carla.

Acha que a relação de Carla e Marco Rodrigo vai fluir e chegar até o fim?

Acho que vai fluir, mas não sei se chega até o fim. Torço para que seja um final bom e que todos fiquem bem.

A história de o Major perder a esposa e a Carla o marido aproxima o casal na trama?

Creio que sim, porque eles são viúvos e têm tudo a ver. Teve uma cena em que eles se beijam e achei tão bonito, porque estão ali frágeis. Já em outra cena, eles se beijam e não é nada programado, foi algo bem delicado. Ela é muito amiga da Neide [Quitéria Kelly] e fica chateada por isso, mas elas não vão disputar homem. Elas têm amizade acima de tudo. As duas são mulheres, adultas, e têm que

trabalhar isso também.

Já se apaixonou por mais de uma pessoa ao mesmo tempo ou esteve nesse papel de conselheir­a?

Já estive no papel de tudo [risos]. Já fui conselheir­a, precisei de conselho, me apaixonei por duas pessoas. A gente passa por tudo. Quando era mais nova, namorava um carinha e me apaixonei por outro. Aí, ficava naquela: “Ai, meu Deus, de quem gosto mais?”. É um horror. Prefiro ter uma paixão só, porque dá muito trabalho você administra­r dois. É muito sofrimento. E eles me largaram [risos].

Acha que a Carla poderia ficar com os dois?

Eu acho, igual em Dona Flor e Seus Dois Maridos.

O que é mais importante no relacionam­ento: a lealdade ou a fidelidade?

Lealdade é o mais importante. E os combinados que são feitos na relação. Porque o combinado não sai caro. Combinou a fidelidade monogâmica na relação, você tem que ter lealdade para cumprir isso.

Você saiu de Pega Pega (Globo, 2017) e entrou em Malhação, que fica mais de um ano no ar, e seu nome tem sido cogitado para uma outra novela. Como seu marido, o produtor Rodrigo Velloni, e você se dão com o tempo do seu trabalho?

Ele é muito companheir­o, vocês não estão entendendo [risos]. Olha, não queria casar, nunca pensei em casar, mas, quando casei, eu disse “É ele!”. Quando estou com o Rodrigo, sou muito eu e ele é ele. A gente sente uma paz... Ele me apoia muito. Por exemplo, fiquei mais de três meses sem ir para minha casa em São Paulo, porque estava em cartaz no teatro e gravando Malhação todos os dias. Tudo no Rio de Janeiro. Então, ele vinha para cá. Já trabalhamo­s juntos e ele me perguntou se terei férias após Malhação para podermos viajar juntos.

Pretende viajar com a peça pelo Brasil?

Sim. Nós já fizemos quatro cidades e vamos esperar acabar a novela porque é um espetáculo solo, então, fica muito cansativo.

E o que gosta de fazer com o seu marido?

Viajar com ele é muito bom. A gente é uma ótima companhia de viagem um para o outro.

Muitos artistas estão fazendo peças falando de amor ou que remetem ao psicológic­o das pessoas. Acha que neste momento conturbado em que vivemos, os artistas sentiram a necessidad­e de falar desses temas?

Trata-se de algo atual, que estamos vivendo. Estamos vendo que precisamos cuidar da gente também, do nosso interior, do coração, porque

a coisa está barra-pesada.

Como se protege das notícias negativas do mundo?

A arte me protege muito. O teatro é uma catarse e me libero em cada apresentaç­ão.

Você tem medo de censura?

Pânico! Censura é horrível e ela pode voltar. Não podemos retroceder assim. A liberdade é tão duramente conquistad­a e a gente não pode perder isso.

Está se sentindo uma diva com o seu corpo?

Me sinto muito bem. Me cuido, faço exercícios... Estava até conversand­o com uma figurinist­a, que disse não ter tempo para ir à academia, para mim, quando pratico exercícios, me faz um bem enorme.

Do que você tem medo na vida?

Sofro de pânico, mas está superequil­ibrado. E com autoconhec­imento consigo lidar com a vida. Sou muito feliz e tento me autoconhec­er. Tenho muitos medos, mas um medo geral é o da violência, falta de emprego das pessoas, gente tendo que procurar trabalho na terceira idade porque precisa, a situação da saúde no país que não melhora, pessoas sem empatia, muito intolerant­es...

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 ??  ?? Mariana Santos com o marido, o diretor e produtor Rodrigo Velloni. No destaque, a atriz em cena na peça Só de Amor...
Em Malhação – Toda Forma de Amar (Globo, 2019), ela é Carla e se apaixona pelo Major, vivido
pelo ator Julio Machado
Mariana Santos com o marido, o diretor e produtor Rodrigo Velloni. No destaque, a atriz em cena na peça Só de Amor... Em Malhação – Toda Forma de Amar (Globo, 2019), ela é Carla e se apaixona pelo Major, vivido pelo ator Julio Machado
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