EM TODAS AS CAIXAS
Mariana Santos, no ar como a Carla de Malhação – Toda Forma de Amar (Globo), sempre lembrada por suas personagens de comédia, mostra com a atual personagem na TV que consegue trafegar por diversos gêneros de atuação. E não faz isso apenas na televisão. Na peça Só de Amor..., que encerrou a temporada há poucas semanas, ela também transitou entre o humor e o papo sério. À Anamaria, ela falou sobre a importância para o artista de não se fixar em apenas uma prateleira, revelou que sofre de pânico – mas está tudo sob controle – e revela o que considera mais importante: fidelidade ou lealdade?
A Carla ficou dividida entre o Madureira (Henri Castelli) e o Major (Julio Machado). O que vai acontecer?
Ela assumiu que está apaixonada pelo Major. E contará tudo para o Madureira. Gravamos uma cena linda em que a Carla foi muito honesta com ele e, finalmente, se portaram como adultos. Apesar de mãezona e madura em outros aspectos, a Carla estava feito adolescente no quesito amor. Ela não entendia a paixão que sentia e, claro, não queria enganar o Madureira. Embora se culpe muito, abriu o jogo com Madureira sobre o Marco Rodrigo.
O público cobrava o desenrolar desse relacionamento?
Sim. Na internet, ficam cobrando: “Como vai ser isso? Eles se gostam! Desenrola isso!”. Mas tem muita gente que também torce pelo Madureira, então é meio a meio. A tendência, nesse momento, é a Carla ficar com o Major.
E torce para sua personagem ficar com alguém?
Torço para os personagens serem bons e terem várias cenas boas [risos]. As cenas que gravamos agora foram incríveis, de conversas maduras e até sofrimento. Afinal, terminar com alguém que você ama, e porque ela ama também, não é fácil. Todos esses sentimentos foram trabalhados, fiquei feliz.
A Carla se dá bem com os jovens, então, fica tudo mais fácil, né?
Sim, a Carla se dá bem com todos os adolescentes.
Ela é uma mãezona que entende, ajuda e tem uma relação boa com a Anjinha [Caroline Dallarosa]. Não sei o que vai acontecer quando ela começar a namorar o Marco Rodrigo e como essas cenas de família vão se dar, mas acho que será bem divertido.
O público das redes sociais que acompanha Malhação também vai ao teatro assistir à sua peça Só de Amor..., que está em cartaz em São Paulo?
Todo mundo que vai ao espetáculo diz que está assistindo, pergunta do Major e do Madureira... As pessoas gostam de um romance em novela, né?! Mas nem todo mundo que vai ao teatro vê TV, ou vice-versa. As pessoas recebem muito bem o espetáculo e entrego uma proposta completamente diferente na peça. Com isso, rola uma surpresa boa, porque tem gente que sai do espetáculo pensando “que interessante, não sabia o que ia acontecer com a Mariana em cena...”.
E você vem do humor. É uma mudança total...
Mas a peça tem um humor também, só é outra pegada. Como artistas,
temos várias possibilidades.
Você mora em São Paulo e grava no Rio. O pessoal para pra falar com você durante as viagens?
Fala e é ótimo porque adoro conversar. A gente trabalha para isso. Às vezes, estou perdendo um voo, chorando, sentada, atrasada, enfim, vem alguém tirar uma foto e tem uma lágrima sua caindo, você enxuga, a pessoa vem, te abraça e tira a foto. As pessoas não sabem o que está acontecendo com você – e nem têm por que saber.
Acredita que a peça Só de Amor... cumpriu a função de mostrar para as pessoas o que é depressão e ansiedade?
A peça é sobre sensações, o fluxo de pensamentos... Então, ela é toda recortada em fluxos, é para ser sentida. Eu toco no assunto, mas não falo diretamente que a pessoa tem isso. Em várias cenas, quem se aprofunda, entende o espetáculo, está ligado na história, sente tudo o que está acontecendo e se identifica.
Ele tem relação com os nossos familiares, amor-próprio... A personagem quer ser amada, o que acontece com a maioria de nós. O artista, em geral, tem muito problema de aceitação.
Ele quer ser amado o tempo inteiro e precisamos trabalhar isso em nós.
Você e a Ingrid Guimarães estão no ar em telenovelas. Isso mostra que atrizes de humor têm outras faces, né?
Isso é muito bom. Fazer humor é muito difícil, mais difícil do que fazer drama, mas é bom não ficar em uma caixa só. Quando tiram você do lugar-comum, e já sabem que vai se entregar e fazer bem, lhe dão outras possibilidades. Isso é muito bom! Eu estou amando fazer Malhação.
E gosta de fazer parte desse triângulo amoroso da novela?
Estou adorando fazer a Carla. Ela é tão legal, maravilhosa, tem tanta coisa boa nela. E também esses desvios, ela gosta de um, gosta de outro, ela é humana. É legal humanizar os sentimentos.
E qual o retorno do público sobre esse triângulo amoroso?
As pessoas ficam muito divididas. Tem quem goste e quem não goste. E o grande barato é saber que na sua vida vão passar pessoas interessantes, caso esteja aberto. Corremos o risco de nos apaixonarmos por outras pessoas enquanto estamos numa relação, como a Carla.
Acha que a relação de Carla e Marco Rodrigo vai fluir e chegar até o fim?
Acho que vai fluir, mas não sei se chega até o fim. Torço para que seja um final bom e que todos fiquem bem.
A história de o Major perder a esposa e a Carla o marido aproxima o casal na trama?
Creio que sim, porque eles são viúvos e têm tudo a ver. Teve uma cena em que eles se beijam e achei tão bonito, porque estão ali frágeis. Já em outra cena, eles se beijam e não é nada programado, foi algo bem delicado. Ela é muito amiga da Neide [Quitéria Kelly] e fica chateada por isso, mas elas não vão disputar homem. Elas têm amizade acima de tudo. As duas são mulheres, adultas, e têm que
trabalhar isso também.
Já se apaixonou por mais de uma pessoa ao mesmo tempo ou esteve nesse papel de conselheira?
Já estive no papel de tudo [risos]. Já fui conselheira, precisei de conselho, me apaixonei por duas pessoas. A gente passa por tudo. Quando era mais nova, namorava um carinha e me apaixonei por outro. Aí, ficava naquela: “Ai, meu Deus, de quem gosto mais?”. É um horror. Prefiro ter uma paixão só, porque dá muito trabalho você administrar dois. É muito sofrimento. E eles me largaram [risos].
Acha que a Carla poderia ficar com os dois?
Eu acho, igual em Dona Flor e Seus Dois Maridos.
O que é mais importante no relacionamento: a lealdade ou a fidelidade?
Lealdade é o mais importante. E os combinados que são feitos na relação. Porque o combinado não sai caro. Combinou a fidelidade monogâmica na relação, você tem que ter lealdade para cumprir isso.
Você saiu de Pega Pega (Globo, 2017) e entrou em Malhação, que fica mais de um ano no ar, e seu nome tem sido cogitado para uma outra novela. Como seu marido, o produtor Rodrigo Velloni, e você se dão com o tempo do seu trabalho?
Ele é muito companheiro, vocês não estão entendendo [risos]. Olha, não queria casar, nunca pensei em casar, mas, quando casei, eu disse “É ele!”. Quando estou com o Rodrigo, sou muito eu e ele é ele. A gente sente uma paz... Ele me apoia muito. Por exemplo, fiquei mais de três meses sem ir para minha casa em São Paulo, porque estava em cartaz no teatro e gravando Malhação todos os dias. Tudo no Rio de Janeiro. Então, ele vinha para cá. Já trabalhamos juntos e ele me perguntou se terei férias após Malhação para podermos viajar juntos.
Pretende viajar com a peça pelo Brasil?
Sim. Nós já fizemos quatro cidades e vamos esperar acabar a novela porque é um espetáculo solo, então, fica muito cansativo.
E o que gosta de fazer com o seu marido?
Viajar com ele é muito bom. A gente é uma ótima companhia de viagem um para o outro.
Muitos artistas estão fazendo peças falando de amor ou que remetem ao psicológico das pessoas. Acha que neste momento conturbado em que vivemos, os artistas sentiram a necessidade de falar desses temas?
Trata-se de algo atual, que estamos vivendo. Estamos vendo que precisamos cuidar da gente também, do nosso interior, do coração, porque
a coisa está barra-pesada.
Como se protege das notícias negativas do mundo?
A arte me protege muito. O teatro é uma catarse e me libero em cada apresentação.
Você tem medo de censura?
Pânico! Censura é horrível e ela pode voltar. Não podemos retroceder assim. A liberdade é tão duramente conquistada e a gente não pode perder isso.
Está se sentindo uma diva com o seu corpo?
Me sinto muito bem. Me cuido, faço exercícios... Estava até conversando com uma figurinista, que disse não ter tempo para ir à academia, para mim, quando pratico exercícios, me faz um bem enorme.
Do que você tem medo na vida?
Sofro de pânico, mas está superequilibrado. E com autoconhecimento consigo lidar com a vida. Sou muito feliz e tento me autoconhecer. Tenho muitos medos, mas um medo geral é o da violência, falta de emprego das pessoas, gente tendo que procurar trabalho na terceira idade porque precisa, a situação da saúde no país que não melhora, pessoas sem empatia, muito intolerantes...