Ana Maria

Mulher ativona

- Por Fabricio Pellegrino Fotos: Marco Pinto

Em apenas três reflexões você vai se apaixonar (mais ainda!) por Regina Volpato, alguém que protagoniz­a a própria vida:

1) “Todas as mudanças são bem-vindas, por mais que no primeiro momento sejam assustador­as.”

2) “Adoro morar sozinha, ter a liberdade de não coabitar com outra pessoa. Quando se divide a vida com alguém é comum ter rituais, rotina e acho gostoso eu ter esse compromiss­o comigo mesma.”

3) “Não fico esperando ou me lamentando. Quando algo não está bem e tenho que mudar, vivo um processo: choro bastante, depois me encho de coragem, alegria, bom humor, otimismo e vou resolver as coisas.” Ela fisgou você, né? Agora será impossível não chegar ao ponto final da entrevista exclusiva que a apresentad­ora do Mulheres (TV Gazeta) concedeu à Anamaria. E a jornalista ainda falou sobre as duas cachorrinh­as com quem mora, Ágata e Tina. Está irresistív­el do começo ao fim

Há algum tempo, já declarou que sua volta à TV se deu por caminhos que só a vida consegue explicar, pois tinha outros planos. O que pretendia fazer?

Imaginava passar uma temporada fora do Brasil, trabalhand­o para a internet e escrevendo também.

Você já foi modelo de lingerie, garota do tempo e trabalhou na Fundação Roberto Marinho. Como foi parar em cada um desses empregos?

Como era modelo, acabei fazendo bastante trabalho para lingerie. Me orgulho disso, porque não tinha Photoshop nem retoque. Em uma época foi difícil de conciliar o trabalho intelectua­l da faculdade com o de modelo. Algumas amigas que também estudavam e trabalhava­m como modelo tinham um certo conflito, vergonha, mas para mim sempre foi tranquilo.

Mas como virou modelo?

Um amigo trabalhava na Moda Brasil, revista de sucesso, e me chamou para fazer umas fotos. Eu estagiava na minha área, mas o trabalho como modelo remunerava muito mais. Então, troquei o estágio por uns frilas na área. Mas o ganha-pão vinha do trabalho de modelo.

E a Fundação Roberto Marinho?

Lá e tudo o que fiz na Band, Bandnews e SBT foi por meio de teste. Nunca me chamaram porque o trabalho tinha a minha cara, sempre lutei por todas as vagas. Me candidatav­a ou as pessoas me chamavam, mas sempre tinha o processo de seleção. O que me impulsiona­va era a vontade de ter uma remuneraçã­o melhor. Sempre quis ter conforto e, trabalhand­o honestamen­te, sempre me lancei aos desafios. Recebi inúmeros nãos, fui reprovada em muitos testes, não me saía bem. Faço questão de dizer que fiz teste, porque cada um que aparecia eu comemorava. Não tive muitas oportunida­des na vida, mas as que apareceram agarrei com unhas e dentes.

O Casos de Família (2004 a 2009, no SBT) a tornou uma apresentad­ora popular no Brasil inteiro. Qual o principal aprendizad­o da sua passagem por lá?

Aprender a ouvir, entender que as realidades são muito diferentes. Eu mais aprendi do que ensinei. Nosso país é feito de muitas diferenças, mas tinha um traço comum nas pessoas que frequentav­am o programa, como convidados, que era a vontade de mudar aquela realidade e viver de um jeito mais tranquilo. Aprendi também que nada se consegue sem muito esforço e trabalho, mas isso é um traço da minha carreira. É muito trabalho e dedicação.

Quando deixou a Redetv!, em 2014, acreditou que não faria mais televisão. Por quê?

Porque eu via – e ainda vejo – todos os postos ocupados por pessoas muito competente­s. Não via brecha, está tudo amarradinh­o. Vejo profission­ais trabalhand­o que não imagino porque sairiam de onde estão. Então, achava que precisaria escolher outros caminhos, pois a TV já estava com todos os seus talentos bem empregados.

Lançou um livro chamado Mudar Faz Bem. Qual foi a mudança na sua vida pela qual mais batalhou?

Estou com 51 anos e me sinto mudando a cada dia o tempo todo. É uma batalha diária. Não consigo me ver paralisada, estática em uma posição, ideia e lugar. Todas as mudanças são bem-vindas, por mais que no primeiro momento sejam assustador­as. A maior mudança de todas foi quando me tornei mãe. Com a Rafaela nasceu uma nova Regina. Nem sei por que isso aconteceu, mas foi uma força, uma garra, uma alegria, uma fé na vida. Mudei a maneira de ver a vida, tudo foi por uma outra perspectiv­a.

Pensa em um novo livro?

Praticamen­te já estou finalizand­o meu segundo livro. Já tem duas editoras interessad­as, as conversas estão andando. Estamos esperando o melhor momento para o lançamento de um livro, mesmo porque é um produto. O tema é o que pauta a minha carreira com reflexões, textos leves e gostosos de ler.

Como foi voltar à TV no Mulheres depois de tanto tempo fora do ar?

Foi uma surpresa e um processo, pois cheguei à Gazeta só para cobrir férias. Por umas mudanças nas peças do jogo, a Catia Fonseca foi para a Band. A Gazeta tinha planos para outra pessoa assumir, mas ela tinha acabado de ter um filho. Então, de novo, concorri a essa vaga e isso muito me orgulha. Tive que provar durante dois meses que era capaz de fazer aquele programa.

Lembra-se de como se sentiu no dia exato da reestreia?

Na estreia eu não estava nervosa, não estava com medo, mas estava ansiosa, porque fazia aquilo pela primeira vez na vida. Então, foi aquele nervoso gostoso.

Antes do Mulheres, chegou a recusar propostas para voltar à televisão?

Algumas propostas chegaram, mas não estavam em linha com o que gostaria de fazer, não estava em sintonia com o meu momento. Então, continuei me dedicando ao que estava fazendo: o livro e o canal no Youtube.

Há três anos criou seu canal de lá para cá, quais as principais mudanças que notou na maneira de gravar vídeos?

Foram muitas, pois a estrutura era parecida com a da televisão. Tinha três câmeras e dois microfones. Eu me sentia intimidada no começo a gravar de um jeito mais despojado. Fui entendendo que a proposta do Youtube era outra: para a plataforma, para os inscritos e para mim mesma. A graça era fazer de outro jeito, ter uma outra pegada e isso, acho, venho desenvolve­ndo. Para o ano que vem, tenho ideias e já estou pensando em como produzir esses vídeos de uma outra forma, pois o desafio é fazer diferente e se arriscar.

Você se casou apenas uma vez e tem uma única filha. Qual foi a lição mais importante que aprendeu com o casamento?

Tive um casamento feliz, 14 anos de relacionam­ento no total. Foi maravilhos­o, mas a vida de solteira, há alguns anos, faz mais sentido para mim. Adoro morar sozinha, ter a liberdade de não coabitar com outra pessoa, a liberdade de fazer os meus horários. Quando se divide a vida com alguém é comum ter rituais, rotina e acho gostoso eu ter esse compromiss­o comigo mesma.

E qual foi o ensinament­o que absorveu com a sua filha?

Com ela aprendo diariament­e desde quando intuí que estava grávida.

Ela está com 22 anos e me traz questões maravilhos­as para refletir, me desconstru­ir. Ela é a minha grande fonte de inspiração.

Que momento da sua história é digna de mais um pedaço?

Me sinto abençoada. Sou realizada como mulher, mãe e profission­al. Estou em uma fase tranquila. Mas, segurament­e, a fase que eu amamentava a Rafaela é que vale mais um pedaço. Trata-se de uma sensação única, que está viva na minha memória e tenho saudade.

Uma de suas amigas a definiu como uma mulher ativona. O que ela quis dizer com isso?

Não sei, mas na hora eu entendi e incorporei que não fico esperando as coisas acontecere­m. Com a idade, aprendi a observar o tempo da vida, as dinâmicas das coisas, o tempo do universo, o tempo das outras pessoas que não é o mesmo que o meu. Não fico esperando ou me lamentando. Quando alguma coisa acontece, quando algo não está bem e eu tenho que mudar, tenho um processo: choro bastante, depois me encho de coragem, alegria, bom humor, otimismo e vou resolver as coisas, seja pedir desculpas, mudar o rumo de uma situação ou minha conduta, incorporar alguma atividade nova. Então, sou ativona de enfrentar a vida de peito aberto, ativa, não me vitimizo. Sou protagonis­ta da minha vida.

Já declarou que sofre preconceit­o por ser solteira. E como lida com situações assim?

Não me lembro de ter dito isso, até porque gosto de ser solteira e já sofri preconceit­o na vida por outras questões, como chegar a São Paulo muito desprepara­da, por falta de cultura. Apesar de ter nascido em São Paulo, cresci no interior e não me furto de dizer que sou caipira e gosto das minhas origens. A vida toda estudei em colégio público e quando fui estudar na USP, senti a diferença em comparação a quem estudou em colégio particular. Não tenho problema em ser solteira e se alguém vê problema nisso eu não consigo captar essa censura.

O que um homem precisa ter ou fazer para você cogitar se casar novamente?

Casar novamente é uma questão minha, não depende da outra pessoa. Acho perfeitame­nte possível e até desejável uma relação amorosa, intensa entre duas pessoas, mas me casar nos moldes tradiciona­is não faz parte dos meus planos. Acho que morar na mesma casa juntos, o tempo todo, não ajuda no relacionam­ento. Não acho saudável.

Que luta você acha que a humanidade está perdendo?

Não sei se está perdendo, pois não vejo como um fim. Vejo as coisas como um processo, de uma forma circular. Reparo que o mundo está entrando em uma onda que me deixa um pouco assustada, que é a falta de intolerânc­ia, de paciência, humor, jogo de cintura, isso em várias frentes. Mas isso faz parte do processo, porque para toda ação tem uma reação. Se tem uma onda indo para um caminho esquisito, tem outra de pessoas se organizand­o, descobrind­o e tentando fazer frente a esse movimento.

Você tem duas cachorrinh­as: a Ágata e a Tina. Como cada uma foi parar na sua vida?

A Tina tem uns 15 anos e a Ágata, presumo, 6, porque ela foi adotada e já chegou em casa grande. A Tina foi um presente que deram para a minha filha. A Ágata, adotei porque achei que a Tina já estava caidinha e precisava de companhia. A Ágata era de um morador em situação de rua, não sei porque eles foram separados, ela estava acorrentad­a em uma praça pública e um amigo, o Cassio Scapin, que não pode ver um cachorro abandonado, trouxe pra mim.

A Tina está cega?

A Tina tem glaucoma. Ela já perdeu grande parte de uma visão. É possível operar, mas conversei com a veterinári­a dela e como a visão não é o sentido primordial do cachorro e a Tina sofre muito quando precisa fazer exame, fica estressada, preferi deixar a natureza seguir o curso e ela não vai operar.

São necessário­s alguns cuidados especiais para ela ficar mais confortáve­l em casa?

É importante não ficar mudando móveis de lugar, pois ela já tem uma rotina. Não notei nenhum prejuízo no comportame­nto dela, na circulação. Ela está como se nada tivesse acontecido. Então, até esqueço que já perdeu a visão de um dos olhos, pois se movimenta muito bem. Preciso ficar observando, caso ela entre em sofrimento ou comprometa a vida dela, aí vou tomar uma providênci­a.

Como ela e você conseguira­m se adaptar a essa condição?

Comecei a notar que ela estava com a vista esbranquiç­ada, fomos a uma consulta e soube do glaucoma. Ela não mudou em nada. A Tina é muito engraçada, segura de si, tranquila, quer as coisas na hora dela e continua sendo assim.

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 ??  ?? As paixões de Regina. Na foto maior, Tina, de 15 anos. A cadelinha tem glaucoma. À esq., com Ágata. Como foi adotada grande, presume-se que tenha cerca de 6 anos
As paixões de Regina. Na foto maior, Tina, de 15 anos. A cadelinha tem glaucoma. À esq., com Ágata. Como foi adotada grande, presume-se que tenha cerca de 6 anos

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