Ana Maria

PROTAGONIS­TA acessivel

- Por André Romanos

Prestes a se despedir de Maria da Paz, a boleira que conquistou o Brasil na novela A Dona do Pedaço (Globo), Juliana Paes faz um balanço sobre a missão da personagem que deixa a TV no próximo dia 23. O saldo? Mais positivo impossível. Mesmo cansada após um ano mergulhada no projeto, ela comemora o resultado. “O brasileiro ama amar os vilões. Então, fazer uma mocinha que seja amada, que seja abraçada pelo público, foi um desafio para mim”, diz. A seguir, a atriz fala sobre essa vitória, assume (sem culpa) as renúncias necessária­s

para conquistar o reconhecim­ento profission­al e revela o segredo para, mesmo sendo considerad­a uma das grandes estrelas do país, continuar tão

disponível: empatia! A Maria da Paz conquistou o Brasil. Como você recebe esse carinho do público?

Eu estou muito feliz! E lisonjeada de verdade com o sucesso da novela. E, confesso, também estou muito cansada. Ainda mais nessa reta final. A gente fica muito exaurido fisicament­e e, sobretudo, mentalment­e. Porque as sequências que finalizam a história são as que puxam muito da nossa emoção. Muito texto para decorar, muita emoção para dar conta. Então, existe esse cansaço e, ao mesmo tempo, essa sensação de plenitude, de gratidão, de missão cumprida. Essa novela sempre foi muito desafiador­a para mim em vários aspectos. Então, estou me sentindo com essa sensação exatamente de missão cumprida.

E qual foi essa missão?

Fazer uma mocinha que fosse querida. Porque, hoje em dia, isso é difícil. Afinal, o brasileiro ama amar os vilões. Então, fazer uma mocinha que seja amada, que seja abraçada pelo público, foi um desafio para mim. E, sinto, esse desafio foi cumprido. Mesmo com essa cegueira de mãe da personagem, que não conseguia enxergar os defeitos da filha [Jô, interpreta­da por Agatha Moreira], as pessoas se identifica­ram com ela. E fazer a Maria da Paz entrar no coração do público, nossa, me deixou com a sensação de vida ganha.

Bom, na reta final, a Maria da Paz descobre que a Josiane é, realmente, filha dela de sangue...

Tinha uma metade de mim que torcia para a Maria da Paz ser mãe da Joana [Bruna Hamú].

Por quê?

Porque eu acho que seria uma alegria para a Maria da Paz ter essa filha de sangue com esse amor e essa admiração pela mãe. Mas, por outro lado, acho importante para o público ver que mesmo bons pais e uma boa criação podem gerar frutos ruins. Acho relevante trazer essa mensagem também. Afinal, a culpa não é de quem cria. Os indivíduos escolhem os próprios caminhos, independen­temente de quem os criou. Acho essa mensagem importante também.

Está torcendo para a Maria da Paz ficar com quem no final?

Sou a única desse elenco que não pode declarar voto. Eu estou isenta aqui.

A Maria da Paz é mais uma protagonis­ta em sua carreira. Qual a sensação desse sucesso profission­al todo?

O reconhecim­ento profission­al nunca vem em um trabalho só. Porque o público leva tempo para te colocar em certos ‘patamares’. Vamos pegar as grandes divas da TV por exemplo: Fernanda Montenegro e Laura Cardoso.

Elas não usufruíram desse título enquanto jovens. Levou um tempo para se instaurar essa coisa toda. E eu fico muito feliz com todo reconhecim­ento que já tenho a essa altura da minha vida. Pois tive grandes oportunida­des e cavei várias delas com muito esforço, e muita renúncia. As pessoas acham que é muito glamour. E não é! É muita renúncia, é muito deixar o filho em casa, é muita culpa.

Nos dê um exemplo…

A novela Meu Pedacinho do Chão [2014, Globo] me ensinou muito e me deu muita projeção. Mas precisei deixar o meu filho, o Antônio, em casa com 4 meses de vida. Por outro lado, posso colher esses louros profission­ais hoje. Eu sinto, atualmente, que as pessoas me veem como uma grande artista. E, isso para mim, não tem preço, pois batalhei muito. Sim, paguei caro, mas o tanto que foi pago influencio­u de uma forma para eu chegar profission­almente onde estou. E isso não tem preço, não.

A Maria da Paz foi o melhor personagem que você fez?

Acho que, talvez, a Maria da Paz tenha sido a personagem que mais se comunicou com o grande público. Com o que a gente chama de povo. Ela conseguiu tocar as pessoas de maneira geral, independen­temente de idade, classe social, sexo, raça... Eu estava meio contemplat­iva ontem e cheguei em casa cansada pra caramba. Aí, fiquei na varanda pensando: ‘o que a Maria da Paz faria nessa situação em que estou prestes a tomar uma atitude da minha vida?'.

Olha que loucura quando um personagem ganha alma, um contorno que transcende. Vai além do que a novela conta, é um comportame­nto, é um jeito de ser positivo, do bem, moral, que sempre acolhe as pessoas, que não tem nenhum tipo de preconceit­o.

E que resposta obteve para a pergunta do que ela faria naquela situação?

Ela, com certeza, teria um pouco mais de paciência. Ela iria esperar. Esse ‘jeito’ Maria da Paz de ser me inspira muito também. E essa inspiração chega a várias outras pessoas.

É você quem responde as mensagens em suas redes sociais?

Sou eu mesma quem mexe nas minhas redes sociais. Curtida, comentário, tudo isso sou eu. Imagina que eu vou deixar alguém escrever por mim.

Mesmo protagonis­ta, você sempre foi acessível...

Penso assim: a minha matériapri­ma é olho no olho, é gente. Só consigo fazer bem uma cena se tenho boas relações humanas. Compreende? É no dia a dia, no trato com as pessoas. É no olhar para você e ver que você está olhando para mim de verdade que estabeleço relações e que entendo como elas se dão no dia a dia. E, para mim, tudo é matéria-prima. O ser ator é viver do exercício de empatia. Como você se diz ator se não exercita a empatia fora de cena? Isso, para mim, não faz o menor sentido.

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Com os dois filhos, Antônio, de 6 anos, e Pedro, de 8: “Tive grandes oportunida­des e cavei várias delas”
Duas vezes Maria da Paz: acima, com um bolo, marca registrada da persoangem. Ao lado, a sofrência da mocinha Com os dois filhos, Antônio, de 6 anos, e Pedro, de 8: “Tive grandes oportunida­des e cavei várias delas”

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