Ana Maria

Depois DOS40, somos todas ‘ONAS’

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Gostava de assistir à série

Os Homens São de Marte, protagoniz­ada pela atriz Monica Martelli, que interpreta uma carioca de 45 anos, bem-sucedida, com filha pequena, que tenta um equilíbrio entre relacionam­entos, casa, trabalho, ser bonita, corpo mudando com a idade. Enfim, a produção traz aspectos comportame­ntais típicos de mulheres da tal “nova meia-idade”.

Em um dos capítulos, a personagem está recomeçand­o a vida de solteira e conhece um garotão de praia. Eles saem, transam e ela morre de rir quando ele a define como “gostosona”.

E conclui que, depois dos 40, não somos mais “gatinhas”, “fofinhas”, “princesinh­as”. Somos ‘ONAS’: gostosonas, bonitonas, GATONAS e, às vezes, VACONAS, biscatonas.

A personagem termina o episódio sentindo-se confortáve­l com o rótulo. Mas, neste ponto, divergimos.

Já tinha observado que o sufixo está cada vez mais presente nas referência­s às quarentona­s e cinquenton­as, em geral. E, mesmo quando vem como uma tentativa de elogio, fico com um sorriso amarelo e agradeço sem muita convicção se há o que agradecer, enquanto tento entender por que o território das ‘ONAS’ não me é confortáve­l. Talvez porque a intenção seja expressar que, apesar da idade avançada, você continua inteira. Ou inteirona. É como se ganhássemo­s imunidade parlamenta­r: nem tudo precisa estar no lugar, você não precisa mais ser perfeitinh­a (inha) porque, nessa idade superlativ­a, já está no lucro.

Eu pesava 47 kg até os 28 anos. Com 1,67 metro. Nada em mim nunca foi ‘ão’ ou ‘ONA’. E a autoimagem é uma vilã que te desafia. Porque hoje, mesmo definitiva­mente ‘ONA’, ainda me acho ‘inha’. Há pouco tempo, em uma loja, a animada vendedora tentava me convencer de que a saia estava ok. Respondi evasivamen­te, mais para o espelho do que para ela: ‘Não sei... se fosse quatro dedos mais longa...’ e ela para não perder a venda: “Ah, mas com essas pernonas?” O efeito foi rebote. A saia ficou e levei minhas PERNINHAS pra longe daquela blasfêmia.

Eu pesava 47 kg até os 28 anos. Com 1,67 metro. Nada em mim nunca foi ‘ão’ ou ‘ONA’. E a autoimagem é uma vilã que te desafia. Porque hoje, mesmo definitiva­mente ‘ONA’, ainda me acho ‘inha’

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 ??  ?? WAL REIS é jornalista e profission­al de comunicaçã­o corporativ­a. Escreve sobre comportame­nto e coisas da vida: www. walreisemo­utraspalav­ras. com.br/blog/
WAL REIS é jornalista e profission­al de comunicaçã­o corporativ­a. Escreve sobre comportame­nto e coisas da vida: www. walreisemo­utraspalav­ras. com.br/blog/

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