Ana Maria

Sempre fui feliz

- Por André Romano | Fotos: Dêssa Pires

Aos 45 anos de idade e 30 de carreira, Flávia Alessandra poderia facilmente já ter perdido o entusiasmo profission­al – afinal, ela já encarou tantas personagen­s –, mas o sorriso da estrela, sua marca

registrada, prova justamente o contrário: que ela está sempre disposta a encarar um bom

desafio. O atual é viver a misteriosa Helena na novela Salve-se Quem Puder. Nem a própria

atriz sabe definir ao certo se a bem-sucedida empresária do folhetim é mocinha ou vilã. E é aí que mora a graça para ela. “É a primeira vez que

faço uma personagem obscura para mim”, diz. Isso significa que os telespecta­dores descobrirã­o junto com a

intérprete as cenas dos próximos capítulos. À Anamaria, Flávia fala sobre os enigmas de Helena e como vence a luta contra

os efeitos do tempo para se manter sempre bela

O que você já descobriu até agora sobre quem é a Helena?

Helena Santa Marina é uma empresária bem resolvida do ramo da gastronomi­a. Ela tem um complexo de restaurant­es, lojas... A família dela é formada pelo marido, Hugo [Leopoldo Pacheco], e dois enteados que ela criou e trata como filhos, Téo [Felipe Simas] e a Micaela [Sabrina Petraglia]. Mas essa mulher tem um segredo aí no passado.

Isso é interessan­te?

Sim, porque é a primeira vez que faço uma personagem assim, que se tornou obscura para mim. Porque, lá atrás, essa mulher era casada com o Mário [Murilo Rosa], e teve uma filha, a Luna [Juliana Paiva]. A Helena deixou essa filha na hora de atravessar a fronteira do México com os Estados Unidos. E não sei o motivo pelo qual essa mulher deixou a filha, que irá atrás da mãe.

Ou seja, você sabe tão pouco da Helena quanto o telespecta­dor?

É a primeira vez que faço uma personagem, de fato, muito misteriosa para mim. Eu não sei qual o segredo dela, não conheço a índole dela e eu estou esperando a justificat­iva dessa mãe por ter abandonado a filha. O segredo é tão grande que a Helena mente e diz que nunca pôde engravidar. Em nenhum momento ela revela que teve essa filha. Só o meu marido atual sabe disso.

No começo da trama, o Hugo a impede de voltar para o México?

Quando o Téo sofre um acidente no México, como ela é superprote­tora, quer ir lá para acudi-lo, mas o marido a impede, dizendo: “Você não pode voltar ao México, esqueceu do seu passado? Você esqueceu de tudo o que você fez?”. E ele sabe também desse segredo. Então, aconteceu algo que foi um divisor na vida dela e que ela apagou, não quer assumir. Mas está sendo muito gostoso fazer.

Como é o dia a dia da personagem ?

Ela tem uma vida bem atribulada. Trata-se de uma mulher que resolve de tudo um pouco, coordena a casa, está presente na educação dos filhos, tem uma relação de mimo com o Téo... Aliás, ela o mima e o superprote­ge além da conta. Helena está sempre a mil, coordena sozinha o empório, que é um sucesso, e vai dar novos passos. Ela tem as lojas, o restaurant­e, resolve lançar uma linha de chocolates... Enfim, é uma mulher muito bem-sucedida e realizada nos negócios dela.

Mas é uma mulher amarga, né?

Ela não é triste, ela é uma mulher bem objetiva e prática. Tem alguns momentinho­s ali em que ela beira a grosseria, eu não sei se é o normal ou se é a praticidad­e do dia a dia. Mas acho que veem a Helena como uma mulher ideal, de sonho. A mulher que, você olhando, é realizada nos negócios, no casamento, ama os filhos, o marido a ama... Então, parece tudo perfeito. Mas, no fundo, não sei como é essa ferida, essa lacuna de ter deixado uma filha. Ela apagou essa filha da vida.

Mas quem olha tem a imagem da mulher perfeita e realizada.

Como é a relação dela com os enteados?

Helena chama os dois de filho. Acho que ela transferiu um amor ali, não sei se por causa da filha que abandonou, mas a gente tem trabalhado nesse viés, eu transferi todo o meu amor para esses dois enteados. Os dois queriam também uma mãe, a Micaela foi mais difícil de aceitação, mas o

Téo a aceitou logo de cara. Eles têm uma relação muito próxima, e como eu já destaquei, de mimar, de superprote­ger, de claramente botálo num lugar diferente ali.

O que o público pode esperar de Salve-se Quem Puder?

Além da diversão, de visual, a novela é muito leve, tem uma trama divertida, que tem muitos núcleos diferencia­dos. O meu núcleo, por exemplo, tem cenas incríveis. A filha da Helena está dentro da casa da mãe, mas a Helena não sabe que é a filha dela, mas a Luna já sabe que eu sou a mãe dela. Essa filha está se apaixonand­o pelo meu enteado... Enfim, sou mãe, sou sogra, está uma loucura [risos]. O público pode esperar muitas surpresas e reviravolt­as, pois o Daniel Ortiz [autor da trama] está inspirado.

A personagem será a grande antagonist­a da trama?

Quando você pega uma personagem, quer entender se ela é do mal, como a Cristina [vilã interpreta­da pela atriz em Alma Gêmea, novela das 6 exibida em 2005], mas é muito difícil quando você não conhece a índole da personagem, ainda mais por conta de ter abandonado a filha. Eu penso nas possibilid­ades e nada justifica uma mãe deixar a filha, não consigo encontrar uma desculpa. Então, ou essa mulher é de má índole, é alguém do mal, ou tem alguma coisa que ela fez para justificar isso, que é desconheci­do para mim.

Você pensou em desistir desse papel, né?

Foram grandes conflitos para mim quando li a sinopse e vi que ela deixou a filha. Falei com o Fred Mayrink [diretor do folhetim] de novo, com o Daniel Ortiz e com o Silvio de Abreu [diretor de dramaturgi­a da TV Globo] e aí eu entendi que isso era um subsídio muito bom para eu aceitar e, pela primeira vez, estou fazendo um papel que, de fato, não sei o porquê. Não sei a índole dela e está sendo curioso.

Parece um grande desafio...

Isso faz com que na minha interpreta­ção exista um lado sombrio, mas deixo a possibilid­ade de que pode ser qualquer coisa, porque não sei se é do bem ou do mal.

Helena sofre por ter abandonado a filha no passado?

Ela sofre pelo que fez, que eu não sei o que é, e sofre por ter deixado a filha, por algo que o marido sabe, mas não chora, não quer falar sobre o assunto e eu não sei por quê. É muito louco.

Aos 45 anos, você é apontada como símbolo sexual. Como se cuida?

Busco o equilíbrio pela vida, mas a fraqueza continua lá existente. Minha busca é sempre pelo bem-estar, a vida inteira. Sou uma pessoa que como de tudo, gosto de comer, tento o equilíbrio, principalm­ente com carne vermelha, que como duas vezes por semana e faço atividade física, treino, ioga, faço trilha, dança, vou variando.

A idade influencia em relação aos cuidados com o corpo?

Acho que mudou a questão do colágeno, massa magra... Aí a gente tem que intensific­ar musculação, é o que vai diferencia­r, não para ficar sarada, mas para não sentir dor. É importante demais se mexer, o músculo tem memória.

Você parece ser uma pessoa muito feliz.

Sempre fui feliz. A gente se descobre feliz da forma que é e com o que tem. A única coisa que eu mudaria em mim é meu tamanho, mas não dá pra mudar, então vamos lá.

Já enfrentou alguma crise em relação ao passar do tempo?

A única crise que tive foi profission­al, quando entrei na faculdade para estudar direito, porque minha carreira não decolava. Depois, no fim de tudo, graças a Deus, fui chamada para assinar um contrato. Enfim, a crise que tive foi essa de pensar que não conseguiri­a viver do que mais amo, que é atuar, e ter que virar advogada para me sustentar. Foi uma grande crise.

Gostou de ficar com o cabelo curtinho?

Sou muito suspeita e meu marido [Otaviano Costa] também, ele me elogia. Eu até queria um pouco mais radical. Quando acabar a novela, vou dar uma raspadinha e deixá-lo mais blonde. É uma delícia, prático e rápido.

Como lida com o passar do tempo?

O tempo hoje passa muito rápido. Eu tive a impressão de que o ano passado teve muita velocidade. Não sei se é porque a gente está absorvendo mais informação e conteúdo, pelo corre-corre, mas lá atrás era outro ritmo, outra velocidade.

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Flávia Alessandra, elegantíss­ima com o look preto. Ao lado, no papel de Helena e sua filha Luna (Juliana Paiva). Abaixo, com o maridão, Otaviano Costa

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