Ana Maria

Sobre amor e superação

A obra aborda a rotina de pacientes com câncer e as emoções e dificuldad­es dos familiares nesse momento tão delicado

- Karla Precioso

Ele não podia perdê-la novamente. Dênis estava em pé, de frente para o guarda que regula visitantes no hospital, esperando a hora de poder entrar e dar um último beijo em Iracema, antes da mastectomi­a total, cirurgia mais importante de sua vida.

Inteiro uma bagunça. Não dormiu, não jantou, não comeu nem bebeu nada. Como se fosse caso de vida ou morte. Ele sentia que alguma coisa de ruim aconteceri­a. Seu coração não mente, nunca mentiu, e ele sempre foi homem de fé.

Foi autorizado a entrar quando começou o horário de visitas, 8 horas em ponto. Cruzou os corredores aos trotes, perdeu o chapéu de cowboy no meio do caminho e não teve tempo de voltar para buscá-lo. Topou com Marina e pediu desculpas pelo encontrão. Marina? A sua ex-noiva? A mulher que botou fogo em sua fazenda? Parou no meio do corredor e deu meia-volta. – Tá fazendo o que aqui? – Coincidênc­ias demais não são coincidênc­ias.

– Ué, vim contar para ela sobre o nosso filho! – Com a cara lisa, a maquiagem borrada para parecer cena dramática, Marina chacoalhav­a a mão, na cara dele, mostrando a aliança de noivado que ele deu um dia e já se arrependeu amargament­e por tê-lo feito. – Filho, Marina, que filho? – O que eu vou ter com você! – Como que a gente está grávido, se sempre foi de camisinha?! E você tem DIU, minha Nossa Senhora...

– É, meu bem – Marina tinha um humor perverso –, quando é para ser, Deus dá um jeito.

Sem pensar, partiu correndo até achar o quarto de Iracema.

De touquinha descartáve­l, deitada na cama móvel, a sala estava cheia de médicos e enfermeiro­s.

Seu Geraldo, o pai, segurava a mão de Iracema, desejando boa cirurgia, e os técnicos já tinham destravado as rodinhas de sua cama para levá-la até o centro cirúrgico.

– Cema... – Ele disse assim que entrou no quarto, pálido de medo – Cema...

– Agora não, cabra. – Seu Geraldo mandou e nem sequer o chamou pelo apelido de costume.

Iracema tinha os olhos tão cozidos de choro, tão tristes, que qualquer coisa que ele dissesse não faria sentido.

– Cema, por favor, amor, me perdoa. – Ele nem sequer sabia como explicar.

– Então é verdade? – Ela sussurrou, engolindo o choro, tão magoada que parecia ser o fim de sua linha. – Não, anjo, pelo amor de Deus, é claro que não é!

– Você não terminou com ela como me disse?

– Não tinha o que terminar! – Então você estava comigo ao mesmo tempo que estava com ela...

– Não! Não, Cema, ela te explicou tudo errado...

– Vá embora.

– Cema, por favor, me deixa explicar.

– Vá. – Ela mandou, num fiapo de voz, tão encolhida e pequena, deitada naquela cama.

– Tirem ele daqui.

– Cema, amor, não faz isso comigo.

– Vamos! – O médico mandou que seus técnicos empurrasse­m a cama de Iracema até o centro cirúrgico e se virou para o cowboy: – Agora não é hora, por favor, nos dê licença.

Dênis deu espaço para a cama passar, mas seguiu ao lado, procurando o que dizer, perdido com a súbita aparição de Marina, a falsa notícia de bebê, o jeito como ela conseguiu acesso ao quarto de Iracema antes dele...

“Não dormiu, não jantou, não comeu. Como se fosse caso de vida ou morte.

Ele sentia que alguma coisa de ruim

aconteceri­a. Seu coração não mente, e ele sempre foi homem de fé”

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Um Coração por Casal, de Camila Marciano Editora: 3DEA Preço: R$ 39,90

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