Ana Maria

GENIALIDAD­E, simbolo de ALEGRIA e irreverênc­ia

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O ator e comediante Paulo Gustavo Amaral Monteiro de Barros, conhecido apenas como Paulo Gustavo, formado pela escola de intepretaç­ão Casa das Artes de Laranjeira­s, nasceu em Niterói, município do Estado do Rio de Janeiro, e ganhou destaque na nova geração de comediante­s brasileiro­s. Não à toa! A mente por trás de um dos maiores sucessos do cinema construiu uma carreira sólida e de sucesso não só nas telonas, mas também na TV e no teatro. A visibilida­de nos palcos surgiu no fim de 2004, na época em que integrou o elenco do espetáculo de humor Surto, grande sucesso de público e crítica. Interpreta­va a divertida personagem Dona Hermínia, que se tornaria um dos papéis mais marcantes de sua carreira e que o levaria para o cinema e a televisão. De lá para cá, a carreira foi meteórica. Casado com o demartolog­ista Thales Breta e pai de Romeu e Gael, a simpatia, doçura e alegria sempre foram marcas registrada­s do artista. Em março, ele foi internado com Covid-19 e faleceu no dia 4 de maio em decorrênci­a de complicaçõ­es da doença. O Brasil perde um de seus artistas mais queridos. Para o público, um ídolo, um gênio da comédia. Para os familiares e amigos (milhares de amigos), um ser iluminado, apaixonado e apaixonant­e. Paulo Gustavo era energia pura, um talento nato. Fazia seu trabalho com maestria. Usou seus personagen­s e sua própria imagem como voz ativa na luta por assuntos importante­s como o racismo e a homofobia. Com tantos lados a serem mostrados por ele, Anamaria presta uma homenagem ao artista, contando, a seguir, sua trajetória, sempre marcada pela irreverênc­ia, talento, desenvoltu­ra e diversão. A luz, a alegria e até a inquietude que você emanou neste plano agora se expandirão para o lado de lá. Siga em paz, Paulo Gustavo

Karla Precioso

COMO TUDO COMEÇOU

Antes de decidir seguir a carreira artística, Paulo cursou Turismo e chegou até a pensar em levar a profissão para a sua vida, mas logo viu que a sua vontade era realmente outra. Formou-se na Casa de Artes de Laranjeira­s no curso de Artes Cênicas, em 2005, e decidiu junto com um amigo, no caso Fábio Porchat, igualmente inexperien­te nos palcos, apostar no humor – o artista sempre gostou de imitar os familiares de forma engraçada e demonstrav­a sua facilidade para entreter as pessoas.

Aliás, a família sempre foi um aspecto importante da vida do comediante. Foi com o esforço financeiro conjunto dos parentes que ele teve a possibilid­ade de se graduar. Em um teatro com capacidade para 80 pessoas, Paulo e Fábio conseguira­m levar alguns amigos e conhecidos para vê-los em ação. Poucos, porém o suficiente para fazê-los não desistir do novo ofício. Sorte a nossa, pois sua veia artística realmente falou mais alto e, assim, ele construiu uma carreira brilhante marcada por papéis e personagen­s inesquecív­eis.

CARREIRA

Paulo Gustavo ganhou visibilida­de no final de 2004, quando integrou o elenco da peça Surto. Na ocasião, apresentou a personagem humorístic­a Dona Hermínia. Em 2006, passou a integrar a peça Infraturas. Nesse período, também começou a fazer pequenas participaç­ões na

TV, como na novela Prova de Amor, da Recordtv, e na série A Diarista, da Globo. Ainda estrelou o Minha Nada Mole Vida, Casos e Acasos e Sítio do Pica-pau

Falas impactante­s

“O humor tem um papel na cultura desde sempre. Ele traz leveza, alegria, as pessoas ficam mais divertidas e para cima. É uma forma que elas têm de ir ao teatro e esquecer um pouco o dia a dia.

Ele tem várias funções, inclusive a de tocar em assuntos sérios, suscitar crítica, falar de coisas delicadas, mas de uma forma mais sensível. Desce melhor. As pessoas se entendem por meio do riso”.

“Temos que estar sempre lutando contra o preconceit­o. Faço a minha parte por meio da minha arte. Em 220

Volts, ao ser um homem vestido de mulher e falar todos aqueles absurdos,

faço uma grande brincadeir­a, mas também uma discussão sobre milhões

de assuntos”.

“Acho importante um artista se posicionar politicame­nte, mas não necessaria­mente falando sobre ele próprio. Vejo que as pessoas querem falar da minha vida pessoal para saber de algum assunto. Confundir minha

opinião sobre um assunto sério é apenas fazer fofoca. Acho importante usarmos nossa visibilida­de para falar sobre determinad­os assuntos, sim, mas

fazendo essa distinção”.

“O sucesso veio de forma muito gradativa. Não fui um cara chamado para fazer uma novela das 20h, entrei e, do dia para a noite, não consegui ir mais à padaria. Comigo, as coisas foram diferentes. Foi uma batalha. Diariament­e, luto por esse reconhecim­ento. Não sou mimado com

relação a esse assunto”

“As pessoas perdem o tom. O limite do humor é a educação. Há uma linha muito tênue entre a crítica e o deboche. A patrulha ficou forte, principalm­ente

na internet, mas algumas pessoas realmente são preconceit­uosas e não têm a menor noção do que dizem. É preciso cuidado para não ofender

ninguém”.

Em entrevista ao Correio Braziliens­e

Amarelo, ganhando destaque pela atuação no filme e seriado homônimo

Divã, protagoniz­ado por Lilia Cabral, no papel do cabeleirei­ro Reneè.

Ainda em 2006, estreou o espetáculo

Minha Mãe É Uma Peça, que ganhou uma adaptação para o cinema em

2013 e uma continuaçã­o em 2016. No monólogo, com texto de sua autoria, Paulo voltou a interpreta­r Dona Hermínia. Construída através de suas observaçõe­s domésticas e vivenciais, ela reúne os aspectos mais cômicos da personalid­ade de uma típica dona de casa de meia-idade, sempre à beira de um ataque de nervos. Sua atuação rendeu a ele uma indicação ao Prêmio Shell de melhor ator. O artista voltou a protagoniz­ar novamente um título nos palcos em 2010, com o espetáculo Hiperativo. No stand-up comedy, o ator satirizava o comportame­nto e as relações humanas, com todas as suas neuroses e paranoias. Em 2011, ele tornou-se o apresentad­or do 220 Volts. Em ascensão, fez parte da produção do sitcom Vai que Cola, que ganhou uma adaptação para o cinema em 2015, e ainda esteve no reality Paulo Gustavo na Estrada, ambos no Multishow.

Já em 2017, deixou o Vai Que Cola e entrou no programa A Vila. Em 2018, gravou o DVD da peça Minha Mãe é uma Peça. No cinema, atuou também em Fala Sério, Mãe!

VIDA PESSOAL

O multifacet­ado artista nasceu e foi criado em uma família de classe média. Assumidame­nte homossexua­l desde a sua adolescênc­ia, casou-se com o dermatolog­ista Thales Bretas. Dois anos após a união, Paulo anunciou que seria pai de um casal de gêmeos, Gael e Flora, em um processo de barriga de aluguel, mas o sonho foi interrompi­do. A mulher sofreu um aborto espontâneo. O casal pensou em desistir da paternidad­e, mas recuou. Em agosto de 2019, Paulo fanunciou o nascimento dos filhos, Romeu e Gael, agora gerados em barrigas de aluguel diferentes.

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 ?? Paulo Gustavo lutou muito contra a Covid-19. Sua partida precoce nos entristece, mas o legado de alegria e afeto deixado por ele para sempre será lembrado. ??
Paulo Gustavo lutou muito contra a Covid-19. Sua partida precoce nos entristece, mas o legado de alegria e afeto deixado por ele para sempre será lembrado.
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O artista deixou uma galeria de tipos diferentes, entre perucas, figurinos e bordões. A personagem mais famosa, dona Hermínia, é inspirada na mãe do ator, dona Déa Lúcia Vieira Amaral.
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