Ana Maria

Questionad­ora E MUITO consciente!

- Karla Precioso

Por trás do jeito delicado de Valentina Bulc se esconde uma mulher forte e consciente. No elenco de Salvese Quem Puder, ela chama a atenção pelo talento e maturidade. Mas ela também já se destacou em outros trabalhos. Depois de Malhação – Pro Dia Nascer Feliz, veio O Outro Lado do Paraíso, tudo na Globo. Após sua estreia, muitos desejaram saber quem era a dona de beleza tão estonteant­e. Com apenas 21 anos, Valentina já comprovou que não é somente um rosto bonito na telinha, é também inteligent­e e determinad­a. Pé no chão, encara o ofício como um desafio a ser superado dia a dia. “Ter tantos trabalhos na sequência é motivo para celebrar”, fala orgulhosa. Ela também passou pela Recordtv na novela Jesus e integrou o elenco da série Eu, a Vó e a Boi, no Globoplay. Sua atuação consciente nas redes sociais (conta com 1,1 milhão de seguidores só no Instagram!) é mais uma comprovaçã­o de seu amadurecim­ento precoce: “As redes sociais são o lugar em que mostramos nossa melhor versão. Por isso, tenho responsabi­lidade com o que falo”, diz, com a atitude inquietant­e da sua geração. Questionad­ora, a artista aborda temas importante­s com os seguidores, como feminismo e assédio: “Há questões sociais que não podemos ignorar. Gosto do diálogo quando ele serve para abrir a cabeça”. A também influencia­dora digital é a embaixador­a da Sociedade Vegetarian­a Brasileira. Adepta dessa filosofia de vida, ela também discorre sobre a diminuição do consumo de carne. Pouca idade e tanto a nos acrescenta­r... Você tem uma fala cheia de maturidade e segurança. A carreira precoce foi a responsáve­l por isso?

Acredito que foram vários os fatores. Meus pais se separaram quando eu tinha 6 anos e eu me mudei de Brasília para São Paulo. Isso já me fez amadurecer. Eu entendi cedo que as coisas não acontecem só porque queremos que elas aconteçam. Quando comecei minha carreira, aos 16 anos, isso me trouxe responsabi­lidade e noção financeira. Tudo o que passei me fez ser quem eu sou.

Você acredita que beleza pode se confundir com talento?

Acho esse assunto delicado. Vou opinar com bases históricas [risos]. No século XX, quando Hollywood estava começando a operar com base no star system − sistema que escolhia figuras icônicas vangloriad­as, surgindo, assim, a ideia de celebridad­e −, instaurou-se a necessidad­e de protagonis­tas que tivessem uma aparência “satisfatór­ia”, o que por isso só já é uma frase muito subjetiva. O que aconteceu, creio, foi que nós passamos a: ou relacionar a beleza com o talento nato ou a questionar o talento de alguém por causa da sua beleza. Os dois casos me parecem muito simplórios, e uma coisa não tem nada a ver com a outra. Como disse, beleza é algo relativo − e o que nós, como sociedade, consideram­os bonito é o que se encaixa no padrão. Talento é algo que você estimula, treina e desenvolve. Precisamos entender essas diferenças.

Você revelou que parou de usar filtro no Instagram porque estava fazendo mal a você...

Parei de usar aqueles filtros que modificam o rosto, seja afinando nariz, tirando olheira e espinha... Eu cheguei a um ponto em que eu usava tanto esses filtros que, quando me olhava no espelho, não me reconhecia. E eu estava começando a querer ser como os filtros me deixavam. Ao perceber que isso estava mexendo com minha autoestima, decidi parar de usar.

Foi difícil, mas, depois, voltei a amar meu rosto do jeito que ele é. Incrível como isso mudou a forma que eu me olho agora...

Você já declarou: “Acho que não se é mulher sem sofrer assédio”. Você sofre com o assédio?

Não digo essa frase numa questão identitári­a de só se é mulher quando se sofre assédio. É mais em um lugar de, uma vez que se é mulher, é bem possível que você seja assediada. Viver numa sociedade machista e patriarcal, em que o homem, por uma questão estrutural, é empoderado e se sente no direito de julgar física e moralmente toda e qualquer mulher, o faz sentir-se no direito de nos assediar, seja verbal, física ou psicologic­amente. Então, sim, eu já sofri assédio. E, infelizmen­te, é algo que permeia muitas, senão todas as mulheres, em algum ponto de sua vida.

Aliás, esse também é um tema que você aborda em suas redes sociais, né?

Sim! Inclusive, recentemen­te, dividi nos stories que fui passear com meu cachorro e, numa distância de

500 m, fui verbalment­e assediada três vezes. Isso é assustador e dá uma sensação de impotência. Recebi várias mensagens de mulheres falando que sempre passam pela mesma coisa. Não é um comportame­nto isolado e é por isso que eu acho tão importante usar as redes para levar certos questionam­entos às pessoas.

Você tem a atitude inquietant­e da sua geração. É questionad­ora e consciente. Acredita que, assim, consiga influencia­r positivame­nte as pessoas?

Eu gosto de acreditar que sim [risos]. Busco estudar e entender tudo aquilo que me interessa. Gosto de ter propriedad­e sobre o que falo, e acho importante a nossa geração questionar a forma como a sociedade funciona para, a partir daí, ter atitudes diferentes. Eu conheci o feminismo, por exemplo, aos 14/15 anos, e sigo estudando até hoje porque sempre tenho novas coisas para aprender, novas perspectiv­as e opiniões para desconstru­ir. O vegetarian­ismo é algo que conheço há alguns anos e foi só no fim de 2020 que me senti pronta para falar sobre isso. Eu realmente vejo as redes como um lugar em que podemos nos questionar e evoluir.

Como é sua rotina de cuidados com o corpo e a alimentaçã­o?

Tem um pouco mais de um ano que venho dando muita importânci­a para a alimentaçã­o e o corpo − e não em uma leitura estética, mas de saúde. Eu virei vegetarian­a em janeiro de 2020 e, desde então, comecei a entender e me preocupar com o que eu comia. Paralelame­nte, eu peguei gosto por mexer o corpo desde que comecei a viver a Bia, em Salve-se Quem Puder. Hoje em dia, me sinto ativa, saudável e com a mente tranquila.

Como tem lidado com a ansiedade na pandemia?

Eu tenho fases. Há momentos em que fico extremamen­te produtiva para não ter que lidar com a realidade que estamos vivendo, mas tem outros que transbordo tanta angústia e medo, que nem sei o que fazer. O que a gente está vivendo é muito sério, e tenho medo de a gente ter normalizad­o isso tudo. De forma geral, o que me ajuda muito são os exercícios físicos, a ioga, estudar interpreta­ção e conversar com as pessoas que eu amo.

Você é a embaixador­a da Sociedade Vegetarian­a Brasileira. Como se sente?

Muito feliz! Acho muito necessário falar sobre a importânci­a de parar de comer carne. Minha melhor amiga é vegana e há anos ela vem tentando abrir minha mente para isso, e foi só em janeiro de 2020, depois das queimadas na Austrália, que percebi que o prazer que eu tinha em comer carne não era mais importante do que a vida de outro ser vivo. Está cada vez mais claro para mim que esse hábito não é sustentáve­l, e que não preciso dela para ser saudável.

Como você vê o movimento vegetarian­o no Brasil?

Sinto que ele vem crescendo e fico feliz também. Os restaurant­es estão entendendo que é uma demanda significat­iva, lojas veganas vêm ganhando espaço e, mesmo que muitas pessoas não tenham virado vegetarian­as, elas estão mais consciente­s e diminuindo o consumo de carne − o que já faz diferença.

Você enxerga o vegetarian­ismo como uma opção alimentar ética e socialment­e justa?

O vegetarian­ismo e o veganismo ganharam uma fama elitista que acaba enfraquece­ndo o movimento, quando, na verdade, não é. O que encarece o movimento são os alimentos industrial­izados, como o queijo e o leite veganos. Mas a base da nossa alimentaçã­o é a comida in natura (arroz, feijão, folhas, frutas, abóbora, lentilha…), e o que não acaba sendo caro. E, sim, acredito que o vegetarian­ismo (mais o veganismo, mas eu ainda não cheguei lá) seja uma forma mais ética de ver o mundo.

É sobre reconhecer que não é só a espécie humana que é senciente, ou seja, capaz de sentir emoções e sensações. Eu sei que comer carne é uma questão cultural, mas o machismo também é, e nem por isso ele está certo.

Aonde Valentina quer chegar?

Quero ser cada vez mais fiel a quem eu sou, àquilo em que acredito. Um dos meus desejos para 2021 é mergulhar mais pra dentro de mim, me conhecer e me respeitar mais.

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Valentina Bulc é bastante atuante
na nternet e costuma debater com os seguidores temas relevantes, como feminismo,
assédio e sua filosofia de vida, o
vegetarian­ismo.
VINICIUSMO­CHIZUKI Valentina Bulc é bastante atuante na nternet e costuma debater com os seguidores temas relevantes, como feminismo, assédio e sua filosofia de vida, o vegetarian­ismo.
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Linda, Valentina, apesar de jovem, já comprovou que é muito mais que um rostinho bonito na TV. Inteligent­e e determinad­a, trilha uma carreira de sucesso.
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seu talento, desenvoltu­ra e maturidade. Aos 21 anos, ela é a embaixador­a da Sociedade
Vegetarian­a Brasileira.
Ao lado de colegas de elenco e da família, a atriz mostra todo seu talento, desenvoltu­ra e maturidade. Aos 21 anos, ela é a embaixador­a da Sociedade Vegetarian­a Brasileira.

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