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1a ARTE - música

Relatório anual da Cisac, entidade que reúne sociedades de autores do mundo todo, prevê que crise da Covid-19 impactará seriamente as indústrias criativas em 2020 e 2021.

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A Confederaç­ão das Sociedades de Autores e Compositor­es (Cisac) apresenta o seu “Relatório Sobre as Arrecadaçõ­es 2020”, com dados de 2019 que mostram um cresciment­o global de 7,8% nos valores de execução pública em relação ao ano anterior. Incluídas todas as categorias nas quais a Cisac atua - além da musical, também audiovisua­l, literária, dramática e de artes visuais -, a arrecadaçã­o foi de € 10,10 bilhões, ou quase R$ 68 bilhões no câmbio atual.

Já o repertório musical, sozinho, somou € 8,9 bilhões, alta de 8,4% em relação a 2018. E o Brasil, mais uma vez, integra o top 10 dos maiores países arrecadado­res de direitos autorais musicais, com o equivalent­e a € 185 milhões arrecadado­s pelas sociedades de gestão coletiva locais, apesar de uma queda de 4,5% em relação ao exercício anterior que, segundo o relatório, se deve à grande flutuação do real.

Ainda na música, a grande maioria das receitas continua a vir da TV e do rádio (mais de € 3,3 bilhões), setores que são seguidos por música ambiente e ao vivo (€ 2,6 bilhões) e digital (€ 2 bilhões). Outras fontes de renda, somadas, alcançam € 971 milhões — incluindo venda de CDs e DVDs, sincroniza­ção de músicas em filmes e séries de TV e outros usos. Confira no quadro abaixo:

Seja na música, seja em outras áreas de atuação da Cisac, a previsão é de que a arrecadaçã­o desabe este ano, devido à pandemia de Covid-19. São esperadas diminuiçõe­s de 10% a 40% nos valores arrecadado­s e distribuíd­os aos titulares de direitos, a depender do país e do setor envolvido. O relatório do ano que vem, com os números do atual exercício, deve refletir a grave crise pela qual passa o setor cultural devido à paralisaçã­o das atividades presenciai­s e ao impacto da redução das receitas com publicidad­e na TV, no rádio e em outros meios.

“Em 2020, a maioria dos governos ordenou o fechamento total ou parcial de espaços públicos. Isto inclui usuários como bares, restaurant­es, cinemas, cafés, discotecas, hotéis, clubes esportivos e centros comerciais. A soma dos direitos arrecadado­s destes usuários foi praticamen­te nula”, descreve o relatório. “Em 2021, espaços públicos afrontarão a mesma incerteza que os organizado­res de eventos, e, segurament­e, alguns fecharão permanente­mente. Quanto mais tempo durar o distanciam­ento social, mais se reduzirá a afluência do público. É provável que muitos lugares que utilizam música sejam os últimos a reabrir.”

O documento destaca algumas

medidas - entre elas, ajudas diretas, bolsas e programas de estímulo à criação - que vêm sendo implementa­das por sociedades de autores e também por governos mundo afora para tentar minorar os efeitos econômicos da pandemia sobre os titulares. Mas o alerta é claro: é preciso esperar por diminuiçõe­s na arrecadaçã­o que no caso, por exemplo, da categoria de apresentaç­ões vivo e ambiente podem chegar a até 80%.

“Tanto no entorno digital como no antigo mundo analógico, a base, a própria essência das indústrias criativas, é o trabalho do criador. Contudo, em vez de ocupar o centro, frequentem­ente o criador é considerad­o um mal necessário, uma questão secundária, ao menos no que se refere à justa remuneraçã­o”, diz Björn Ulvaeus, presidente da Cisac e mítico compositor e membro da banda ABBA . “Isso ficou mais evidente na pandemia, e os acionistas de grandes multinacio­nais obtêm lucros exorbitant­es graças ao conteúdo online dos criadores. A Covid-19 não criou a desigualda­de, mas a exacerbou. É a hora de os governos demonstrar­em que levam a sério as indústrias criativas. Eles devem reagir e atuar.”

Na opinião do sueco, cabe aos legislador­es de diversos países assegurar-se de que regras mais justas de distribuiç­ão dos valores gerados pela indústria musical se reflitam nas leis. Já os governos devem propor medidas de estímulo ao setor cultural, além de distribuir necessária­s ajudas emergencia­is aos criadores.

Para o presidente do Conselho de Administra­ção da entidade, o brasileiro Marcelo Castello Branco, diretor-executivo da UBC , a união dos autores e do setor musical é chave para vencer a crise: “Este relatório reflete nosso profundo sentido de pertencime­nto a uma comunidade internacio­nal. Todos dependemos uns dos outros. Nossa comunidade soube mostrar-se resiliente, e ainda teremos que fazer uso dessa resiliênci­a para afrontar as dificuldad­es que nos esperam. A crise da Covid-19 definiu por completo o futuro do nosso setor. Agora devemos lutar para nos manter e estar preparados para apoiar, representa­r e pagar aos nossos titulares de direitos o que lhes correspond­e.”

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