Coleção digital das peças “Medeia” e “Medeia 2”
Mostra contempla as duas montagens do CPT_SESC com a exibição de imagens de figurinos, objetos e materiais gráficos dos espetáculos, que fazem parte de uma série de adaptações de tragédias gregas.
OCentro de Pesquisa Teatral do Sesc disponibilizou desde 8 de fevereiro a coleção digital “Medeia” (2001) e “Medeia 2” (2002), peças dirigidas por Antunes Filho.
É possível conferir imagens do figurino restaurado das duas montagens, além de fotos de cena, documentos gráfico-textuais e fichas técnicas do restauro, que explanam todo o processo realizado para trazer a público esses itens. Antes de serem fotografados por Bob Sousa, os trajes foram restaurados e higienizados pela figurinista Rosângela Ribeiro, sob supervisão do Sesc Memórias, Centro de Memórias do Sesc, dando evidência a toda a riqueza de confecção.
As fotos dos trajes e de cenas indicam a preocupação da direção de Antunes em criar uma ambientação que favorecesse a atenção ao trabalho vocal e corporal dos atores, buscando o minimalismo dos elementos cênicos.
Junto com “Fragmentos Troianos”, “Medeia” e “Medeia 2” fazem parte de um ciclo de interpretações de tragédias gregas e compartilham entre si alguns dos elementos comuns, como o mergulho do universo feminino. Também são peças que usam o texto clássico para falar de questões contemporâneas.
A base do enredo é a peça de Eurípides sobre o mito grego de Medeia, de 431 a.C. Nela, a personagem-título é neta de Hélio-Sol, vive em Cólquida, na ilha de Ea, sob o reino de seu pai, Aetes. Ela se apaixona por Jasão, em uma armadilha tramada pelos deuses Afrodite e Eros. Depois de ajudar o amado a conquistar o Velocino de Ouro, Medeia foge com Jasão para Grécia, contrariando sua família. Depois de anos de casamento, Jasão a troca pela filha de Creonte. Tomada pela ira, ela mata seus filhos com Jasão, a nova esposa dele e ele próprio. Ou seja, através da versão de Eurípides, Medeia acaba reduzida a uma mulher vingativa, ciumenta e assassina.
As tragédias de Eurípides foram, para Antunes Filho, pretextos para tratar de acontecimentos de seu tempo presente. Para isso, ele desenvolveu novas técnicas e métodos de voz e de interpretação para além de uma concepção realista, trabalhar o corpo todo a serviço da voz. A intenção do diretor era ‘apagar’ a divisão entre corpo e alma dos atores, em exercícios corporais.
“Medeia 2” continuou o trabalho do método da voz e um aprofundamento na releitura do mito grego, valorizando ainda mais o texto, com mais influência do Butô (dança contemporânea japonesa) e do minimalismo, representado inclusive nos figurinos de Anne Cerutti e Jacqueline Castro Ozelo. Anne também é responsável pela cenografia da peça.
Em “Medeia”, abandonou-se o palco italiano, optando por algo próximo ao de teatro Nô (forma de teatro japonês), com a plateia mais próxima dos atores, dando mais compreensão da voz e colocando os espectadores dentro da cena, como cúmplices da ação. A cenografia do espetáculo é de Hideki Matsuda e os figurinos são de Jacqueline Castro Ozelo e Christina Guimarães.
A coleção digital de “Medeia” e “Medeia 2” junta-se à “Fragmentos Troianos” e a outras três, que permanecem on-line para serem visitadas a qualquer instante no Sesc Digital.
A primeira, lançada em setembro de 2020, é “A Pedra do Reino” (2006), sobre a encenação de Antunes e do grupo Macunaíma, com base na obra de Ariano Suassuna.
Em outubro de 20, foi disponibilizada a mostra sobre “A Hora e vez de Augusto Matraga” (1986), baseada em conto de Guimarães Rosa. A peça marcou o encontro de Antunes com Raul Cortez e foi definida pelo ator como um marco em sua carreira.
“Xica da Silva” (1988) ganhou coleção em novembro. Protagonizada pela atriz Dirce Thomaz, a peça foi fundamental na trajetória e evolução do grupo com o uso da cenografia como elemento narrativo, mais do que simples recriação realista de um espaço, era parte efetiva na criação de significados no relacionamento com atores e texto.
Em dezembro entrou no ar a coleção de “Fragmentos Troianos” (1999), que é a primeira de um ciclo de adaptações de tragédias gregas realizada pelo CPT_ SESC, em um mergulho no universo feminino e no processo de criação focado na busca do que Antunes chamou de a “sonoridade trágica”, uma forma de interpretar tragédias no palco.