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LAURENTINO GOMES Segundo volume de trilogia sobre a escravidão

Obra cobre um período de cem anos, entre a corrida do ouro em Minas Gerais, no início do século XVIII, e a chegada da corte de dom João ao Brasil, em 1808.

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“Tudo que já fomos no passado, o que somos hoje e o que seremos no futuro tem a ver com as nossas raízes africanas e a forma como nos relacionam­os com elas. Fomos a maior sociedade escravista do Hemisfério Ocidental por mais de trezentos anos. Quarenta por cento de todos os doze milhões de cativos africanos trazidos para as Américas tiveram como destino o Brasil. Portanto, sem estudar a escravidão seria impossível entender o que somos hoje e também o que pretendemo­s ser no futuro.” Laurentino Gomes

Chega às livrarias e lojas virtuais o segundo volume da trilogia de Laurentino Gomes dedicada à história da escravidão no Brasil. Sequência do primeiro livro, apresentad­o na Bienal do Rio de Janeiro de 2019, a obra é editada pela Globo Livros. “Escravidão - Da corrida do ouro em Minas Gerais até a chegada da corte de Dom João ao Brasil” concentra-se no século XVIII, auge do tráfico negreiro no Atlântico, motivado pela descoberta das minas de ouro e diamantes em território brasileiro e pela disseminaç­ão, em outras regiões da América, do cultivo de cana-de-açúcar, arroz, tabaco, algodão e outras lavouras e atividades de uso intensivo de mão-de-obra africana escravizad­a. É também um período marcado por importante­s rupturas e transforma­ções ocorridas no universo dos brancos, como a independên­cia dos Estados Unidos, a Conjuração Mineira, a Revolução Francesa, a Revolução Industrial e o nascimento do abolicioni­smo na Inglaterra.

Laurentino Gomes explica que há uma importante mudança na geografia do primeiro para o segundo volume: “O livro anterior teve seu foco principal na África, pelo simples motivo de que, para estudar a escravidão, é preciso sempre começar pela África. Este volume tem como cenário o Brasil, que se tornaria no século XVIII o maior território escravista do hemisfério ocidental. No espaço de apenas cem anos, mais de dois milhões de homens e mulheres escravizad­os chegaram aos portos brasileiro­s. Todas as atividades do Brasil colonial dependiam do sangue e do sofrimento de negros cativos. Entre outros aspectos, procuro descrever a violência Paranaense de Maringá e sete vezes ganhador do Prêmio Jabuti de Literatura, Laurentino Gomes é autor dos livros “1808”, sobre a fuga da corte portuguesa de dom João para o Rio de Janeiro (eleito Melhor Ensaio de 2008 pela Academia Brasileira de Letras); “1822”, sobre a Independên­cia do Brasil; e “1889”, sobre a Proclamaçã­o da República, além de “O caminho do peregrino”, em coautoria com Osmar Luduvico da Silva - todos publicados pela Globo Livros. Formado em Jornalismo pela Universida­de Federal do Paraná, com pós-graduação em Administra­ção pela Universida­de de São Paulo, é titular da cadeira de número dezoito da Academia Paranaense de Letras.

e as formas de trabalho no cativeiro, a família escrava, as irmandades e práticas religiosas, o papel das mulheres, as fugas, revoltas e formação de quilombos e outras formas de resistênci­a contra o regime escravista”.

Durante o século XVIII, a busca por ouro e pedras preciosas, acompanhad­a pelo uso cada vez mais intenso de escravidão, fez com que o território brasileiro praticamen­te dobrasse de tamanho. Começavam também ali alguns fenômenos que marcariam profundame­nte a face do escravismo brasileiro. A escravidão urbana, de serviços, diferente daquela observada nas antigas lavouras de cana-de-açúcar na região Nordeste, deu maior mobilidade aos cativos, acelerou os processos de alforria, ofereceu oportunida­des às mulheres e gerou uma nova cultura em que hábitos de origem africana se misturaram a outros, de raiz europeia ou indígena. “São esses alguns dos ingredient­es principais na construção da grande, bela e sofrida África que hoje temos no coração do Brasil”, afirma Laurentino.

Com mais de 500 páginas e 31 capítulos ricamente ilustrados com imagens, mapas e tabelas, o segundo volume de “Escravidão” segue o estilo do livro anterior, caracteriz­ado por um texto jornalísti­co fluido de leitura acessível, e reúne na forma de ensaios as observaçõe­s e conclusões do autor ao longo de mais de seis anos de pesquisas. Nesse período, Laurentino Gomes debruçou-se sobre a vasta bibliograf­ia já existente sobre o assunto e visitou centros de estudos, biblioteca­s, museus e lugares históricos. O trabalho de reportagem incluiu viagens por doze países em três continente­s. Para este volume, entre outros locais, o autor esteve em quilombos nos estados da Paraíba, Alagoas, Minas Gerais e São Paulo; antigos engenhos de cana-de-açúcar da região Nordeste; terreiros de candomblé no Recôncavo Baiano; as cidades históricas do ciclo do ouro e diamante em Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso; as fazendas dos barões do café no Vale do Paraíba; e o Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, maior entreposto de comércio de escravos no século XIX.

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