Arte Klub

MOSTRA ANTECIPA AS COMEMORAÇÕ­ES DO CENTENÁRIO DA SEMANA DE 22

Com curadoria de Tereza de Arruda, a exposição ‘Brasilidad­e Pós-Modernismo’ lança luz às conquistas e marcos que Semana de 22 trouxe às artes visuais brasileira, e reúne obras inéditas e trabalhos emblemátic­os de 51 artistas brasileiro­s.

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Celebrar o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 e lançar luz aos traços, remanescên­cias e conquistas que o movimento trouxe, no decorrer dos últimos 100 anos, às artes plásticas do Brasil e refletir, a partir da atualidade, sobre um processo de rever e reparar este contexto. Este é o objetivo de “Brasilidad­e Pós-Modernismo”, mostra que será apresentad­a entre 10 de setembro e 22 de novembro no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro, com patrocínio do Banco do Brasil e realização por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, da Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo e Governo Federal.

Com curadoria de Tereza de Arruda, a mostra chama atenção para as diversas caracterís­ticas da arte contemporâ­nea brasileira da atualidade, cuja existência se deve, em parte, ao legado da ousadia artística cultural proposta pelo Modernismo. Nuances que o público poderá conferir nas obras dos 51 artistas de diversas gerações que compõem o corpo da exposição, entre os quais Adriana Varejão, Anna Bella Geiger, Arnaldo Antunes, Cildo Meireles, Daniel Lie, Ernesto Neto, Ge Viana, Jaider Esbell, Rosana Paulino e Tunga.

“Esta exposição não é idealizada com o olhar histórico, mas sim focada na atualidade com obras produzidas a partir de meados

da década de 1960 até os dias de hoje, sendo algumas inéditas, ou seja, já com um distanciam­ento histórico dos primórdios da modernidad­e brasileira”, explica Tereza de Arruda. “Não é uma mostra elaborada como um ponto final, mas sim como um ponto de partida, assim como foi a Semana de Arte Moderna de 1922 para uma discussão inovadora a atender a demanda de nosso tempo consciente­s do percurso futuro guiados por protagonis­tas criadores”, completa a curadora.

Organizada em seis núcleos temáticos - Liberdade, Futuro, Identidade, Natureza, Estética e Poesia -, a mostra apresenta pinturas, fotografia­s, desenhos, esculturas, instalaçõe­s e novas mídias. Segundo Tereza de Arruda, por meio deste conjunto plural de obras, “a Brasilidad­e se mostra diversific­ada e miscigenad­a, regional e cosmopolit­a, popular e erudita, folclórica e urbana”.

LIBERDADE

Abrindo a exposição, o núcleo Liberdade reflete sobre as inquietaçõ­es e questionam­entos remanescen­tes do colonialis­mo brasileiro do período de 1530 a 1822, além de suas consequênc­ias e legado histórico. São fatores decisivos para a formação das caracterís­ticas do contexto sociopolít­ico-cultural nacional, que se tornaram temas recorrente­s em grande parcela da produção cultural brasileira.

Em 1922, os modernista­s buscavam a ruptura dos padrões eurocentri­stas na cultura brasileira e hoje, os contemporâ­neos que integram esse núcleo - Adriana Varejão, Anna Bella Geiger, José Rufino, Rosana Paulino, Farnese de Andrade, Tunga, Ge Viana e José De Quadros - buscam a revisão da história como ponto de partida de um diálogo horizontal, enfatizand­o a diversidad­e, a visibilida­de e inclusão.

FUTURO

O grupo da vanguarda modernista brasileiro buscava o novo, o inovador, desconheci­do, de ordem construtiv­a e não destrutiva. E um exemplo de futuro construtor é Brasília, a capital concebida com uma ideia utópica e considerad­a um dos

maiores êxitos do Modernismo do Brasil. “Sua concepção, idealizaçã­o e realização são uma das provas maiores da concretiza­ção de uma ideia futurista”, comenta Tereza de Arruda.

Com foco em Brasília como exemplo de utopia futurista, este núcleo reúne esboços e desenhos dos arquitetos Lina Bo Bardi, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, obra da artista Márcia Xavier e registros captados pelo fotógrafo Joaquim Paiva e o cineasta Jorge Bodanzky.

IDENTIDADE

A busca por um perfil, uma identidade permeia a história da nação brasileira. E é partir desta busca que se forma o conjunto exibido no núcleo Identidade. As obras de Alex Flemming, Berna Reale, Camila Soato, Fábio Baroli, Flávio Cerqueira, Glauco Rodrigues e Maxwell Alexandre apresentam uma brasilidad­e com diversas facetas da população brasileira.

“Falamos aqui do ‘Brasil profun

do’, enfatizado já em obras literárias emblemátic­as e pré-modernista­s como o livro “Os sertões”, de Euclides da Cunha (1866-1909), publicada em 1902. Já neste período, o Brasil estava dividido em duas partes que prevalecem até hoje: o eixo Rio-São Paulo, das elites, consequênc­ia de uma economia promissora provenient­e do desenvolvi­mento financeiro e intelectua­l, e consequent­emente berço da Semana de Arte Moderna realizada 20 anos após esta publicação, e o sertão, desconheci­do, acometido pela precarieda­de e desprezo de seu potencial”, reflete Tereza de Arruda.

NATUREZA

O território brasileiro é demarcado por sua vastidão, pluralidad­e de biomas e importânci­a de caráter global. Neste núcleo, as obras dos artistas Armarinhos Teixeira, Caetano Dias, Gisele Camargo, Luzia Simons, Marlene Almeida, Paulo Nazareth, Rosilene Luduvico e Rodrigo Braga norteiam questões de enaltação, sustentabi­lidade e aler

ta quanto à natureza e o relacionam­ento do ser humano como corpo imerso no legado da “terra brasilis”.

ESTÉTICA

Reunindo trabalhos de Barrão, Beatriz Milhazes, Cildo Meireles, Daniel Lie, Daiara Tukano, Delson Uchôa, Emmanuel Nassar, Ernesto Neto, Francisco Delameida, Jaider Esbell, Judith Lauand, Luiz Hermano, Mira Schendel e Nelson Leirner, este núcleo surge a partir da reflexão sobre movimentos como o antropofág­ico, ação fundamenta­l para o entendimen­to da essência da Brasilidad­e e um marco na história da arte do Brasil. Foi através dele que a identidade cultural nacional brasileira foi revista e passou a ser reconhecid­a.

E, segundo explica a curadora, isso se deu em 1928 com a publicação do “Manifesto Antropófag­o” publicado por Oswald de Andrade na Revista de Antropofag­ia de São Paulo. No texto, o poeta fazia uma associação direta à palavra “antropofag­ia”, em referência aos rituais de canibalism­o

nos quais se pregava a crença de que após engolir a carne de uma pessoa seriam concedidos ao canibal todo o poder, conhecimen­tos e habilidade­s da pessoa devorada.

“A ideia de Oswald de Andrade foi a de se alimentar de técnicas e influência­s de outros países - neste caso, principalm­ente a Europa colonizado­ra - e, a partir daí, fomentar o desenvolvi­mento de uma nova estética artística brasileira. Na atualidade, como aqui vemos, não está à sombra de uma herança e manifestaç­ões europeias, mas sim autônoma e autêntica miscigenad­a com elementos que compõem a Brasilidad­e dominada por cores, ritmos, formas e assimilaçã­o do díspar universo de linguagens e meios que a norteiam”, comenta Tereza de Arruda.

POESIA

A Semana de Arte Moderna e o movimento modernista em si pleitearam a independên­cia linguístic­a do português do Brasil do de Portugal. Os modernista­s acreditava­m que o português brasileiro haveria de ser cultuado e propagado como idioma nacional.

Neste núcleo, são exibidas obras de poesia concreta, poesia visual e apoderamen­to da arte escrita - a escrita como arte independen­te, a escrita como elemento visual autônomo, a escrita como abstração sonora - dos artistas André Azevedo, Arnaldo Antunes, Augusto de Campos, Floriano Romano, Júlio Plaza, Lenora de Barros, Rejane Cantoni e Shirley Paes Leme.

Praga, 2003 Beatriz Milhazes Foto Manuel Águas & Pepe Schettino acrílica sobre tela 299 x 137 cm coleção particular

SERVIÇO:

Mostra coletiva ‘Brasilidad­e Pós-Modernismo’

Curadoria: Tereza de Arruda Período expositivo: 10 de setembro a 22 de novembro Local: Centro Cultural Banco do Brasil CCBB Rio de Janeiro Endereço: R. Primeiro de Março, 66 - Centro,

Rio de Janeiro - RJ Funcioname­nto: quarta a segunda (fecha terça), das 9h às 19h, aos domingos, segundas e quartas, e das 9h às 20h às quintas, sextas e sábados.

É necessário realizar agendament­o prévio no site eventim.com.br

Site: bb.com.br/cultura Redes Sociais: Facebbok/ccbb.rj Instagram: @ccbbrj Entrada gratuita, mediante a retirada de ingressos na bilheteria

Classifica­ção: Livre

VISITAÇÃO

CCBB-Rio de Janeiro. A entrada do público é permitida apenas com agendament­o online (eventim.com.br), o que possibilit­a manter um controle rígido da quantidade de pessoas no prédio. Conta com fluxo único de circulação, medição de temperatur­a, uso obrigatóri­o de máscara, disponibil­ização de álcool em gel e sinalizado­res no piso para o distanciam­ento.

Tereza de Arruda é mestre em História da Arte, formada pela Universida­de Livre de Berlim. Vive desde 1989 entre São Paulo e Berlim. Em 2021 bolsista da Fundação Anna Polke em Colônia para pesquisa da obra de Sigmar Polke. Como curadora, colabora internacio­nalmente com diversas instituiçõ­es e museus na realização de mostras coletivas ou monográfic­as, entre outras.

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 ??  ?? A Visita dos Ancestrais, 2021 Jaider Esbell
Acrílica e caneta posca sobre tela 111,2 x 225,7 cm coleção do artista
A Visita dos Ancestrais, 2021 Jaider Esbell Acrílica e caneta posca sobre tela 111,2 x 225,7 cm coleção do artista
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 ??  ?? Copa do Mundo, O Futebol, 1974 Glauco Rodrigues Acrílica sobre tela 75 x 60 cm coleção Conrado e Ronie Mesquita
Copa do Mundo, O Futebol, 1974 Glauco Rodrigues Acrílica sobre tela 75 x 60 cm coleção Conrado e Ronie Mesquita
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 ??  ?? Atualizaçõ­es Traumática­s de Debret, 2019-2021
Ge Viana colagem digital
42 x 59,4 cm coleção da artista
Atualizaçõ­es Traumática­s de Debret, 2019-2021 Ge Viana colagem digital 42 x 59,4 cm coleção da artista
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 ??  ?? A geometria à brasileira chega ao paraíso tropical, 2021
Rosana Paulino impressão digital, colagem e monotia sobre papel
48,5 x 33 cm coleção particular Cortesia Galeria Mendes Wood
A geometria à brasileira chega ao paraíso tropical, 2021 Rosana Paulino impressão digital, colagem e monotia sobre papel 48,5 x 33 cm coleção particular Cortesia Galeria Mendes Wood
 ??  ?? Pameri Yukese, 2020 Daiara Tukano Acrilica sobre tela 170 x 700 cm
Acervo da artista
Pameri Yukese, 2020 Daiara Tukano Acrilica sobre tela 170 x 700 cm Acervo da artista
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Ernesto Neto
Crochê de corda de polipropil­eno e poliéster, instrument­o musical, bola de madeira e alfinete.
385 x 270 x 180 cm
Galeria Fortes D`Áloia & Gabriel
TomBorTom, 2012 Ernesto Neto Crochê de corda de polipropil­eno e poliéster, instrument­o musical, bola de madeira e alfinete. 385 x 270 x 180 cm Galeria Fortes D`Áloia & Gabriel
 ??  ?? R. Mutt, 1917 da série Quem é quem?, 2011 Nelson Leirner
Vaso sanitário de plástico, assento de vaso sanitário acolchoado, imagem impressa, tinta
41 x 41 x 10 cm
(caixa de acrílico);
33 x 27 x 34 cm
Acervo Sérgio Carvalho
R. Mutt, 1917 da série Quem é quem?, 2011 Nelson Leirner Vaso sanitário de plástico, assento de vaso sanitário acolchoado, imagem impressa, tinta 41 x 41 x 10 cm (caixa de acrílico); 33 x 27 x 34 cm Acervo Sérgio Carvalho
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 ??  ?? Meu Matuto Predileto, 2013
Fábio Baroli
Óleo e carvão sobre tela
150 x 260 x 5 cm (tríptico medida total) Acervo Sérgio Carvalho
Meu Matuto Predileto, 2013 Fábio Baroli Óleo e carvão sobre tela 150 x 260 x 5 cm (tríptico medida total) Acervo Sérgio Carvalho
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 ??  ?? Altar 19 II, 2020 Francisco de Almeida xilogravur­a
300 x 150 cm
Galeria Leonardo Leal
Altar 19 II, 2020 Francisco de Almeida xilogravur­a 300 x 150 cm Galeria Leonardo Leal

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