UM LEÃO AFRICANO
REVEJA A LUTA DE NELSON MANDELA CONTRA O APARTHEID 25 ANOS APÓS A ELEIÇÃO QUE LEVOU O MAIOR DOS PRESOS POLÍTICOS À PRESIDÊNCIA DA ÁFRICA DO SUL
PRESIDENTE!
Nelson Mandela acena para a população, em 21 de abril de 1994. Já era, então, um político em campanha. Apenas seis dias depois, o líder anti-apartheid venceria as eleições. E assim entraria para a História como o primeiro presidente negro da África
do Sul. Apesar das décadas de isolamento na prisão, o ativista logo se habituou ao contato com as massas. No dia em que saiu da cadeia, seu carro foi cercado e
imobilizado por um mar de apoiadores – em tal número que Mandela teve medo. “Senti que a multidão estava prestes a nos matar
com seu amor”, diria mais tarde.
CLANDESTINO
O líder sul-africano posa para foto com vestes tradicionais durante o período em que se escondia da polícia, em 1961. Após o Massacre de Sharpeville, no qual policiais reagiram com rajadas de metralhadora a um protesto pacífico dos negros, deixando 69 mortos, o partido de Mandela, o Congresso Nacional Africano, concluiu que o ativismo sem violência não surtia resultado, e criou um braço armado para atacar o regime opressor. Assim Mandela partia para a clandestinidade.
MARCHA POR MANDELA
Milhares de pessoas protestam nas ruas de
Joanesburgo nos anos 1980, pedindo a libertação de Nelson Mandela – preso desde 1962. O Apartheid, na época, já estava enfraquecido pelas pressões internacionais – incluindo embargos econômicos – e pelo caos interno na África do Sul, que fez o governo declarar estado de emergência em 1986. Até a primeira-ministra britânica Margaret Thatcher pediu diretamente ao presidente P.W. Botha a soltura de Mandela – como forma de diminuir a instabilidade no país africano.
DIA DO PROTESTO
Ainda na época em que promovia a resistência não violenta ao Apartheid, o partido de Mandela organizou em 1952 a chamada Campanha de Desafio Contra Leis Injustas. Por toda a África do Sul, a população negra foi estimulada a ocupar
os espaços reservados aos brancos – incluindo aí banheiros públicos e assentos
em vagões de trens (acima). A desobediência civil também visava ao fim da Lei do Passe. Para circularem e
trabalharem como empregados de brancos nas áreas urbanas, os negros precisavam carregar um salvo-conduto (à direita) que apontava seu grupo racial –
como os judeus na Alemanha nazista. O governo não gostou do protesto, claro. E lançou uma Lei de Segurança Pública, prendendo mais de 11 mil africanos nos
anos seguintes.
LEVANTE DE SOWETO
Um estatuto segregacionista impunha às crianças negras uma qualidade de ensino extremamente inferior à que era oferecida aos filhos dos brancos – e 20 vezes mais barata. Os negros estudavam em escolas precárias, superlotadas, com professores mal preparados. Mas a gota d’água chegou quando, em 1975, o governo decretou a obrigatoriedade de que matérias essenciais, como matemática e estudos sociais, fossem ensinadas no idioma africâner para as crianças negras – uma condenação ao fracasso, já que, para serem bem-sucedidos em alguma profissão, os sulafricanos precisavam ser fluentes em inglês, língua oficial dos brancos na escola. Como protesto, em 1976, cerca de 20 mil estudantes marcharam por Soweto (subúrbio negro de Joanesburgo), cantando, na direção de um comício. A essa marcha pacífica, a polícia respondeu à bala. Estima-se que até 700 adolescentes tenham morrido na repressão. Um dos mais cruéis episódios do Apartheid.
O FIM DO APARTHEID
Chegou, finalmente, o primeiro dia de eleições multirraciais na África do Sul, pós-apartheid. Era 26 de abril de 1994. E Nelson Mandela foi eleito com imensa maioria. Seu partido obteve 62% dos votos, contra 20% do Partido Nacional (conservador) e 10% dos zulus. Na foto abaixo, a
caminho de uma zona eleitoral, trabalhadores rurais levantam seus
punhos, a saudação típica do Congresso Nacional Africano. Crente de que a pacificação da África do Sul
era o único caminho para o progresso, o novo presidente trocou
o discurso radical que o levara à prisão por uma atitude de conciliação entre brancos e negros. Promoveu a paz, que ele mesmo poucas vezes
experimentou em vida.