ÁRVORE DA VIDA
SÉRIE DE MOSAICOS FEITOS COM MÁRMORE, PÉROLAS E PEDRAS SEMIPRECIOSAS AMBIENTA PALÁCIO BELGA E MESCLA REALISMO E ABSTRAÇÃO
Conviver com a arte. Essa era a vontade do banqueiro belga Adolphe Stoclet, quando encomendou o trabalho do arquiteto Josef Hoffmann para construir sua casa entre 1905 e 1911: o famoso Palácio Stoclet, ainda ocupado pela família. O local, tombado em 2009, é uma das mansões mais luxuosas de Bruxelas do século 20 e, até hoje, referência quando o assunto é Gesamtkunstwerk (obra de arte total, em tradução livre), cujo conceito é a integração de arquitetos, artistas e artesãos.
Para decorar a sala de jantar do magnata, Hoffmann convidou o pintor austríaco Gustav Klimt (1862-1918). No entanto, em vez de se limitar à pintura,
o artista produziu uma série de três mosaicos feitos com materiais como mármore, cerâmica, azulejos dourados, esmaltes, pérolas e pedras semipreciosas. Este trabalho recebeu o nome de Stoclet Frieze e retrata especialmente a árvore da vida. O menor dos painéis ocupa o centro da pequena parede que separa os outros dois maiores – que, embora associados (com traços que dão continuidade ao mesmo desenho), ficam separados, um diante do outro, ocupando as paredes mais longas da sala. Está tudo interligado.
O estudo que deu origem à série de mosaicos ( foto acima) está exposto em Viena, no Museu de Artes Aplicadas.
1 A ESPERA
De perfil, voltada para a complexidade da árvore da vida, esta jovem figura feminina representa o olhar para o futuro: a tal da expectativa. Ela também é chamada de A Dançarina, pois, para criá-la, Klimt foi fortemente influenciado pelas protagonistas da dança moderna na época, como Isadora Duncan, Loïe Fuller e Grete Wiesenthal. O bracelete e o acessório na cabeça foram inspirados nos desenhos de Wiener Werkstätte, empresa que elevou o nível do design de objetos de uso cotidiano para arte. Solitária, a moça está vestida com formas pontiagudas e sem fluidez.
2
A ÁRVORE
O elemento central desta obra é a árvore da vida, que, cheia de ramos e de ornamentos, se espalha por toda a sala de jantar – mostrando que não há fim na complexidade e na subjetividade dos caminhos da vida. Rica em detalhes e simbolismos, sob seus galhos é possível observar amuletos bem populares, como olhos gregos e egípcios – sinais de sabedoria, poder e proteção. Também vale perceber a presença de pássaros, que simbolizam a liberdade, mas também a morte, já que são pretos. Este luto pode representar a transição para o futuro.
3
O ABRAÇO
A mais intensa das imagens desta sala de jantar representa a realização do amor verdadeiro: o futuro daquela mesma mulher, que, para encontrá-lo, deixou para trás suas riquezas materiais. Neste abraço íntimo (que dizem ser entre o próprio artista, Gustav Klimt, e sua companheira de vida, Emilie Flöge), os elementos rígidos e pontiagudos que apareciam na vestimenta da moça solitária dão lugar a círculos e composições mais orgânicas, formando dois corpos em um: o molde perfeito de um abraço sem fim.
4
O GUARDIÃO
A figura abstrata que fica na parte dianteira da sala de jantar, separando a expectativa da realização, representa um cavaleiro. Não à toa, era justamente abaixo desta imagem que se sentava o patriarca da família, o banqueiro Adolphe Stoclet. Composta de quadrados, triângulos e círculos bem projetados, é peça única no local.
5
O JARDIM
Os detalhes que formam as folhas, as flores e as borboletas desta obra de arte (e de várias outras produzidas durante a vida do artista) foram inspirados nos jardins que rodeavam o lago da Villa Oleander, um conjunto de casas de veraneio em Kammer, na Alemanha, que Klimt frequentava desde 1900. Seu lugar favorito.