VIDA JUDAICA
RABINO RESGATA A CULTURA ENTRE OS DESCENDENTES DOS JUDEUS QUE FORAM CONVERTIDOS À FORÇA
Ocarisma é o cartão de visitas do rabino Gilberto Ventura. E sua fala, cheia de euforia, se entusiasma ainda mais quando resolve explicar seu projeto Sinagoga sem Fronteiras. Trata-se de um movimento que resgata as comunidades brasileiras dos Bnei Anussim: os descendentes dos judeus que foram convertidos à força pela Inquisição – “a mãe do nazismo”, segundo ele. Após 80 anos do início da Segunda Guerra Mundial, e diante de antissemitismos que perduram entre nós, o rabino Ventura roda o Brasil com sua missão: a de resgatar, mas também a de promover a cultura judaica no mundo atual. “E por que não acolher e ensinar outras pessoas?”, diz.
Você teve algum parente que passou pelo Holocausto?
Sim. Uma trisavó minha, Hudla Pintchowsky, que foi assassinada em Treblinka. E uma de suas sobrinhas foi deixada num convento pelos pais, para ser protegida, e conseguiu sobreviver. Minha família materna é da Polônia e eu cresci ouvindo essas histórias.
Como você enxerga o antissemitismo e as ideologias extremistas de hoje? Trabalho na perspectiva de promover o judaísmo e não combater o antissemitismo. Criei meu projeto justamente para mostrar como o judaísmo
pode ser uma cultura inclusiva e respeitosa. E como é possível construir um futuro melhor com a mudança das relações de agora, sem nenhum estereótipo.
De que forma seu projeto funciona?
Uso as mídias sociais para divulgar o judaísmo ortodoxo, nossas tradições, fazer rezas, ensinar hebraico...
Tudo está lá para quem quiser ver. Além disso, eu e minha mulher, Jacqueline, viajamos Brasil afora em busca dos Bnei Anussim. E já encontramos comunidades do sertão nordestino que mantinham costumes judeus e não sabiam. Nosso papel é orientar judeus e não judeus que querem conhecer a cultura, porém, de um modo mais acessível e contemporâneo.
“Já encontrei comunidades no sertão brasileiro que mantinham costumes judeus e não sabiam”
E este novo olhar já sofreu (ou sofre) alguma resistência na comunidade em que vive?
Sim, infelizmente. Mas também tenho apoio de muitas autoridades do nosso meio e fora dele. Certa vez, me deparei com cartazes de neonazistas no centro de São Paulo e resolvi tirar satisfações dos autores. Um deles descobriu meu telefone e começou a fazer ameaças. Eis que recebi muito apoio e mensagens de paz das comunidades que frequento na região, como o Capão Redondo. Percebi também que meu trabalho é respeitado em diferentes esferas da sociedade – especialmente por estar presente nelas, realizando ações sociais. Esse é o caminho, pois só se combatem as trevas com a luz.
GILBERTO VENTURA
É RABINO FUNDADOR DO PROJETO NACIONAL “SINAGOGA SEM FRONTEIRAS” E PRESIDENTE DO MOVIMENTO “REUNINDO
OS DISPERSOS DE ISRAEL” NO BRASIL, UMA INICIATIVA COM SEDE EM ISRAEL E NOS ESTADOS UNIDOS QUE DÁ APOIO ÀS PESSOAS QUE BUSCAM A CULTURA JUDAICA.