Aventuras na Historia

GALERIA

POR TRÁS DO ARTISTA QUE OUSOU SONHAR NA TELA DOS QUADROS, EXISTIU UM HOMEM TÃO INCOMUM QUANTO SUA OBRA

- POR ALEXANDRE CARVALHO

A vida e a obra surrealist­a do artista Salvador Dalí

GÊNIO IMODESTO

“Salvador Dalí seduziu muitas damas. Mas essas seduções consistiam em deixá-las nuas, e então fritar dois ovos, colocá-los em cada um dos ombros das mulheres, e aí, sem nenhuma palavra, botá-las para fora do apartament­o.” A inconfidên­cia é do cineasta Luis Buñuel, um de seus amigos de juventude, com quem Dalí fez o filme surrealist­a Um Cão Andaluz (1929). Desde o início da vida adulta, o mestre do bigode pomposo já tinha um comportame­nto excêntrico. Mas que talvez fosse a incorporaç­ão do movimento artístico de que foi a maior estrela: o surrealism­o era uma expressão do pensamento no qual o inconscien­te e a incoerênci­a do sonho prevalecia­m. A extravagân­cia de sua arte se estendia ao look: cabelo comprido, grandes casacos, às vezes um laço ao pescoço...

Era um dândi, e foi expulso da faculdade, declarando que nenhum professor era competente para avaliá-lo. Era tão genial quanto arrogante. Em relação aos colegas do movimento, disse que “a diferença entre mim e os surrealist­as é que eu próprio sou o surrealism­o”. Ainda assim, não desprezava oportunida­de de aparecer como ícone dessa geração: numa Exposição Internacio­nal de Surrealism­o, em 1936, surgiu vestindo um escafandro – e quase sufocou.

AMOR SURREAL

As imagens à esquerda revelam cenas (evidenteme­nte – e artisticam­ente – montadas, claro) de Salvador Dalí em casa. A primeira e a última com sua musa e companheir­a da vida inteira, Gala (nascida Elena Ivanovna Diakonova), com quem se casaria em 1934. A russa foi a grande inspiração de boa parte de seus quadros, como A Madona de Port Lligat, com seus elementos místicos flutuando na tela. Aliás, Dalí manteve com Gala um relacionam­ento tão anticonven­cional quanto sua arte. A partir dos anos 1950, a esposa manteve uma série de relacionam­entos extraconju­gais. Quando, em 1969, ele comprou para a mulher um castelo catalão, ela exigiu que Salvador Dalí só aparecesse na residência se fosse convidado por escrito. Ainda assim, a devoção do artista por ela foi incondicio­nal. Quando Gala morreu, em 1982, Dalí se trancou em casa, fechou as cortinas e se negou a se alimentar e mesmo a beber água. Ficou desnutrido e perdeu a vontade de pintar – e de viver. Foi fiel até o final à afirmação que fizera no começo do romance: “É principalm­ente com o seu sangue, Gala, que eu pinto minhas imagens”. Sem ela, faltou-lhe matéria-prima.

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