GALERIA
POR TRÁS DO ARTISTA QUE OUSOU SONHAR NA TELA DOS QUADROS, EXISTIU UM HOMEM TÃO INCOMUM QUANTO SUA OBRA
A vida e a obra surrealista do artista Salvador Dalí
GÊNIO IMODESTO
“Salvador Dalí seduziu muitas damas. Mas essas seduções consistiam em deixá-las nuas, e então fritar dois ovos, colocá-los em cada um dos ombros das mulheres, e aí, sem nenhuma palavra, botá-las para fora do apartamento.” A inconfidência é do cineasta Luis Buñuel, um de seus amigos de juventude, com quem Dalí fez o filme surrealista Um Cão Andaluz (1929). Desde o início da vida adulta, o mestre do bigode pomposo já tinha um comportamento excêntrico. Mas que talvez fosse a incorporação do movimento artístico de que foi a maior estrela: o surrealismo era uma expressão do pensamento no qual o inconsciente e a incoerência do sonho prevaleciam. A extravagância de sua arte se estendia ao look: cabelo comprido, grandes casacos, às vezes um laço ao pescoço...
Era um dândi, e foi expulso da faculdade, declarando que nenhum professor era competente para avaliá-lo. Era tão genial quanto arrogante. Em relação aos colegas do movimento, disse que “a diferença entre mim e os surrealistas é que eu próprio sou o surrealismo”. Ainda assim, não desprezava oportunidade de aparecer como ícone dessa geração: numa Exposição Internacional de Surrealismo, em 1936, surgiu vestindo um escafandro – e quase sufocou.
AMOR SURREAL
As imagens à esquerda revelam cenas (evidentemente – e artisticamente – montadas, claro) de Salvador Dalí em casa. A primeira e a última com sua musa e companheira da vida inteira, Gala (nascida Elena Ivanovna Diakonova), com quem se casaria em 1934. A russa foi a grande inspiração de boa parte de seus quadros, como A Madona de Port Lligat, com seus elementos místicos flutuando na tela. Aliás, Dalí manteve com Gala um relacionamento tão anticonvencional quanto sua arte. A partir dos anos 1950, a esposa manteve uma série de relacionamentos extraconjugais. Quando, em 1969, ele comprou para a mulher um castelo catalão, ela exigiu que Salvador Dalí só aparecesse na residência se fosse convidado por escrito. Ainda assim, a devoção do artista por ela foi incondicional. Quando Gala morreu, em 1982, Dalí se trancou em casa, fechou as cortinas e se negou a se alimentar e mesmo a beber água. Ficou desnutrido e perdeu a vontade de pintar – e de viver. Foi fiel até o final à afirmação que fizera no começo do romance: “É principalmente com o seu sangue, Gala, que eu pinto minhas imagens”. Sem ela, faltou-lhe matéria-prima.