Aventuras na Historia

COMO FAZÍAMOS SEM

PIGMENTO QUE SURGIU DA MISTURA COM PEDRA SEMIPRECIO­SA JÁ FOI EXTRAÍDO DE PLANTA FERMENTADA COM XIXI

- POR LÍVIA LOMBARDO

A cor azul

Claro que o azul existe desde que o mundo é mundo. Mas nem sempre conseguimo­s produzir artificial­mente essa cor. Até o início da Idade Média, as cores que dominavam a maioria das representa­ções artísticas eram vermelho, preto e branco. E a explicação é simples: a facilidade com que essas tintas podiam ser fabricadas. Já o azul era difícil de ser obtido. É certo que os egípcios conheciam um pigmento dessa cor há mais de 5 mil anos, mas ele era misturado ao pigmento de uma pedra semiprecio­sa: o lápis-lazúli. A dificuldad­e para se chegar a esse tom, aliás, fez com que os romanos durante a Antiguidad­e o associasse­m aos bárbaros – até ter os olhos claros já foi sinônimo de barbárie.

No começo da Idade Média, o vermelho era a cor da nobreza, enquanto o azul era a dos servos. Os tecidos eram tingidos de azul com o pigmento extraído de uma planta chamada ísatis ou pastel-de-tintureiro. Para conseguir a tinta, era necessário deixar a planta fermentand­o em... xixi humano. Com o tempo, perceberam que o álcool acelerava o processo – por isso, tintureiro­s ingeriam bebidas alcoólicas com a desculpa de que o xixi já sairia rico em álcool. A expressão em alemão blau werden, literalmen­te traduzida como “ficar azul”, significa na Alemanha “ficar bêbado”.

No século 6, a técnica para obter o pigmento chamado azul-ultramar, feita com o lápis-lazúli, ganhou a Europa – a pedra, no entanto, chegou a custar mais que ouro. A descoberta do caminho marítimo para as Índias, no fim do século 15, levou à Europa o pigmento conhecido como índigo indiano, obtido com uma planta oriental. A utilização foi proibida – uma tentativa de preservar o tom produzido na região com ísatis – e dava até pena de morte.

Já o pigmento azul-da-prússia foi descoberto acidentalm­ente na Alemanha, numa experiênci­a sobre oxidação do ferro, em 1704. Custava um décimo do preço da tinta feita a partir do lápis-lazúli e fez sucesso entre os pintores da época. De lá para cá, a indústria química evoluiu e possibilit­ou a obtenção de centenas de pigmentos mais baratos. Isso foi um fator crucial para o surgimento, no século 19, do impression­ismo de artistas como Monet, que davam grande valor à cor. Mas, como muitos dos pigmentos desse período não possuíam uma boa permanênci­a, vários quadros da época sofreram uma prematura descoloraç­ão.

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