A PRÓXIMA GUERRA, O PRÓXIMO ATO
Enquanto o mundo se mobiliza para tentar achar uma solução para a o Conflito Russo-ucraniano, outra disputa não resolvida da Guerra Fria começa a dar sinais de preocupação. Em meio a tantos conflitos armados no mundo atual, vale ressaltar um que ainda nem começou: a Guerra de Taiwan.
A “questão de Taiwan” se inicia em 1949, quando o Partido Comunista da China (PCC) derrotou o Kuomintang (KMT) na Guerra Civil Chinesa. O KMT fugiu para Taiwan, onde estabeleceu um governo rival ao PCC. Desde então, a China vê a ilha (também conhecida como Formosa) como uma província rebelde e tem ameaçado usar a força se ela declarar independência. Taiwan, por sua vez, se considera um Estado soberano e tem buscado apoio internacional. Apesar de os Estados Unidos serem os maiores apoiadores da soberania taiwanesa, foram eles, nos anos 1970, os articuladores do reconhecimento da República Popular da China no lugar da República da China.
Em outubro de 1971, a Resolução 2758 foi aprovada pela AGNU, expulsando “os representantes de Chiang Kai-shek” e transferindo o assento chinês no Conselho de Segurança da ONU para Pequim. Esse movimento, que tinha como pano de fundo a aproximação com a “China Vermelha” do premiê Mao Tse Tung, promovido pelo governo americano de Richard Nixon e de seu secretário de Estado, Henry Kissinger, está no centro da controvérsia que motiva a provável futura guerra.
Quase 50 anos depois, a China colhe os frutos da aproximação com os EUA e com o Ocidente, responsável por abrir as portas de sua economia para o mundo e alavancar o crescimento do país – justamente o mesmo que agora ameaça a posição dos EUA como maior potência global.
A China há anos advoga que os dias da Era unipolar são coisa do passado, e que o mundo já se encontra em uma nova Era, a multipolar. E assim como a Guerra dos Trinta Anos (16181648), as Napoleônicas (1799-1815) e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) prenunciaram mudanças no sistema internacional, a transição do poder norte-americano para a China não deverá vir sem um novo grande conflito.
As disputas mal resolvidas da Guerra Fria, que acabou sem vencedores, cobram seu preço na atualidade com tantos focos de tensão mundo afora. Faltariam páginas para descrever conflitos persistentes como na Síria, Iraque e Etiópia, muitos com datas confusas de início, sem um meio e muito menos uma previsão de fim. O que se sabe é que as guerras de ontem levaram às de hoje e as de hoje, inevitavelmente, são um prenúncio das de amanhã.
“Quanto à guerra, que é a maior e mais pomposa das ações humanas, eu gostaria de saber se queremos usá-la para provar alguma prerrogativa nossa ou, ao contrário, para testemunhar nossa debilidade e imperfeição”, disse o filósofo francês Michel de Montaigne em Os Ensaios.
Não à toa, ao longo da História, embates clássicos, assimétricos, curtos, longos, regionais ou globais – ou seja, as guerras em seus diversos formatos –, e a incansável busca do ser humano pela paz, sempre mostraram como caminha a humanidade, num eterno ato de destruição e reconstrução.
AS DISPUTAS MAL RESOLVIDAS DA GUERRA FRIA E OS VÁRIOS TRATADOS DE PAZ VIOLADOS COBRAM SEU PREÇO NOS ATUAIS FOCOS DE TENSÃO PELO MUNDO