Aventuras na Historia

A OUTRA VÍTIMA DE SAN MARINO

-

O final de semana mais triste da história da Fórmula 1 ligou de maneira trágica e fatal Ayrton Senna e Roland Ratzenberg­er, dois pilotos de trajetória­s distintas. Enquanto Senna era herói de uma nação e idolatrado pelo mundo automobilí­stico, Ratzenberg­er era ainda pouco conhecido até mesmo em seu país, a Áustria. Piloto da modesta Simtek, aquela era apenas sua terceira corrida na categoria.

Nascido em Salzburg, em 4 de junho de 1960, teve seu primeiro contato com a competição aos 5 anos, quando sua avó o levou para ver uma corrida de subida de montanha. Aos 9, viu sua paixão pelo automobili­smo surgir quando o Autódromo de Salzburg foi construído perto de sua casa. Em 1970, Jochen Rindt foi campeão mundial da categoria, o que aumentou ainda mais seu vislumbre pelas pistas. No entanto, seus pais tinham um plano diferente para o único filho homem: queriam que ele fosse para uma escola técnica.

Rompendo com a família, Roland se mudou para Monza, onde fez parte de uma escola de pilotagem. Sua estreia nos carros aconteceu em 1983, na Fórmula Ford Alemã – onde, dois anos depois, se tornou vencedor do campeonato austríaco e da Europa Central. Em 1986, se mudou para a Inglaterra, passando a correr pela F3. Um fato curioso é que, durante essa fase, passou a ser chamado de Roland Rat, um famoso boneco marionete da TV. Seu reconhecim­ento pelo nome foi tamanho que seu carro passou a estampar a alcunha. Sem resultados expressivo­s, migrou para o as categorias de turismo e protótipos, quando conheceu o brasileiro Maurizio Sandro Salas, com quem formou equipe nas 24 Horas de Le Mans. Ao blog F1 Memória, Salas recorda que Ratzenberg­er sonhava tanto com a Fórmula 1, que economizav­a cada centavo. Muitas vezes, aliás, Roland chegou a dormir no chão do flat que o brasileiro alugava em Tóquio para não gastar com diárias. Após passagens pelas F3 e F300, Ratzenberg­er realizaria seu sonho em 1994, após, ironicamen­te, fazer bons testes em Ímola, quando foi convidado pela estreante Simtek para ser companheir­o de David Brabham.

Em uma escuderia sem muitos recursos, o piloto assinou contrato para apenas cinco corridas. Em Interlagos, ele teve problema nos treinos classifica­tórios de sábado e acabou ficando fora. Em Aida, surpreende­u ao terminar na 11ª colocação, algo acima das expectativ­as para um carro tão limitado. Durante a segunda qualificaç­ão em San Marino, no sábado, Roland saiu da pista na chicane Acque Minerali. Apesar de pequeno, o incidente acabou danificand­o sua asa dianteira – algo descoberto posteriorm­ente e crucial para que ele perdesse o controle do carro, batendo contra o muro. Com a pancada, ele sofreu três ferimentos: uma fratura na base do crânio, apontada como a causa da morte, um trauma contuso pelo pneu dianteiro esquerdo, que invadiu o cockpit, e uma aorta rompida. Para homenagear o piloto, Ayrton Senna carregava dentro de sua Williams uma bandeira da Áustria.

Quando faleceram, tinham a mesma idade. O brasileiro era apenas três meses e meio mais velho que seu companheir­o de profissão.

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil