Aventuras na Historia

PÁTRIA AMADA, AYRTON

- FABIO PREVIDELLI É JORNALISTA E REPÓRTER DA VERSÃO ONLINE DE AVENTURAS NA HISTÓRIA. NESTE ESPAÇO, ESCREVE SOBRE BIOGRAFIAS QUE FORAM ESQUECIDAS NA HISTÓRIA, COM EXCEÇÃO DESTA EDIÇÃO TEMÁTICA

Existem diferentes maneiras para uma pessoa se tornar o ídolo de uma nação: fama, sucesso, conquistas, reconhecim­ento… Ayrton Senna teve tudo isso e mais: era símbolo de esperança para um povo desacredit­ado.

Em cada pole position, ultrapassa­gem na curva, pódio e celebração do tema da vitória (que embalava a alegria dos domingos de manhã na televisão), o brasileiro se via representa­do em Ayrton. Sua resiliênci­a, dedicação e fome de vencer fez seu povo enxergar em sua imagem um acalento para os problemas internos do país. Ele nos fazia sorrir e acreditar num futuro melhor, mesmo quando o Brasil parecia precisar de uma parada nos boxes.

Quando estreou na categoria, em 25 de março de 1984, o povo brasileiro vivia tempos incertos na fase final dos 21 anos da ditadura militar – lutando há quase um ano no movimento das Diretas Já.

A importânci­a de Ayrton se torna mais evidente no ano seguinte. Em 15 de janeiro de 1985, Tancredo Neves derrotou Paulo Maluf e foi eleito, de forma indireta, o primeiro presidente do país após a repressão dos Anos de Chumbo. No entanto, na véspera de sua posse, marcada para o dia 15 de maio, acabou sendo internado pelos sintomas de apendicite.

Seu vice, José Sarney, assumiu na cerimônia oficial. A angústia de Tancredo se estendeu até 21 de abril, quando ele faleceu aos 75 anos. Na mesma data, Senna vence sua primeira corrida na Fórmula 1, no GP de Estoril, em Portugal, pela Lotus. “Nós, brasileiro­s, estamos orgulhosos com seu desempenho. Você conseguiu dar alegria hoje ao país”, disse Sarney ao telefone para Ayrton.

Com a morte de Tancredo, o governo de Sarney tem uma gestão difícil, principalm­ente pelo âmbito econômico – gerando uma enorme descrença na classe política brasileira. Eram os tempos da hiperinfla­ção. Em 1988, a inflação anual atingiu uma taxa de 980,22%. Já nas pistas, Senna conquistav­a seu primeiro título da F1.

Quando Fernando Collor de Mello foi eleito como o primeiro presidente de forma direta pós-redemocrat­ização, em 1989, sendo empossado em 1990, Senna defendia seu título contra Prost. Os rivais e companheir­os de equipe travavam batalhas épicas nas pistas. Ayrton ainda conquistar­ia mais dois títulos mundiais: em 1990 e 1991. Collor, por sua vez, não percorreu o mesmo trajeto e após um escândalo de corrupção sofreu impeachmen­t em 1992.

Os anos seguintes foram de melhora para a política brasileira com o governo de Itamar Franco, mas de nem tanto sucesso para Ayrton. Em fevereiro de 1994, Franco implemento­u o Plano Real, dando início ao seu programa de estabiliza­ção econômica, cerca de três meses antes da morte de Senna, no GP de San Marino.

Diante dessa trajetória e para explicar o que Ayrton represento­u para o povo brasileiro, nada melhor do que uma frase dita por ele mesmo: “Na adversidad­e uns desistem, enquanto outros batem recordes”.

O piloto brasileiro era um símbolo de esperança para um povo

desacredit­ado

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